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'Dinastia Grael' confirma mais um sucesso na vela brasileira

Ao lado de Kahena Kunze, Martine ganha 8ª medalha olímpica da família

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Por Clarissa Thomé , Fabio Grellet e Paulo Favero
Atualização:

A bandeira do Brasil tremulando no Forte São João, na Urca, em frente à raia de disputa da vela nos Jogos Olímpicos, ajudou a guiar as velejadoras Martine Grael e Kahena Kunze rumo ao ouro. Elas sabiam que, sempre que entrava a rajada, a bandeira tremulava forte. Foi por esse conhecimento, aliado ao talento das duas, que o País conquistou o lugar mais alto do pódio na classe 49er FX.

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“A gente estava assistindo a todas as regatas anteriores e também tínhamos informações de como foi nos outros dias. A gente viu que estava bem aberto, ventava nos dois lados da raia, às vezes mais forte, às vezes mais fraco. Na quarta perna, contornamos a boia indo para a esquerda e a galera estava indo para a direita. A dinamarquesa veio com a gente, o que deu uma segurança. Esperamos, veio a rajada, e conseguimos cruzar muito bem e aproximar de novo”, disse Martine.

A medal race foi emocionante e as quatro equipes (Brasil, Nova Zelândia, Dinamarca e Espanha) sabiam que podiam chegar ao ouro ou ficar sem medalha, pois a diferença de pontos era mínima. Logo na largada, a dupla italiana, já sem chance de pódio, saiu na frente, seguida pela neozelandesas.

Martine e Kahena celebram conquista do ouro olímpico na 49er FX Foto: EFE

Martine e Kahena sempre ficaram na terceira posição, o que no mínimo já garantiria a prata. Entre a terceira e a quarta boia, Martine e Kahena navegavam mais rápido, enquanto as neozelandesas seguiam mais lentas. “A Kahena fez um trabalho muito bom. A gente estava vindo muito rápido e facilita quando o barco está rápido”, disse Martine.

Só que Martine e Kahena, após a boia 4, escolheram o melhor lado da raia e chegaram à última boia na liderança, dez segundos à frente da dupla da Nova Zelândia e 34 segundos das dinamarquesas. As brasileiras mantiveram o ritmo, fecharam a prova dois segundos à frente e comemoraram o ouro com muita festa e se jogaram na água da Baía de Guanabara.

“Foi uma decisão difícil porque a gente resolver ir sozinha para um lado e abandonou as duas para o outro lado. Mas acho que foi a única chance que a gente teve para passar, senão elas iam dominar a gente. Decidimos na hora, porque o vento muda muito aqui, então tem de estar sempre ligada com o olho para fora da raia e pensando na estratégia”, contou Kahena.

Elas só souberam que a estratégia arriscada de se afastar das adversárias e avançar pela esquerda deu certo ao cruzar a linha de chegada. “Foi a decisão mais difícil que a gente teve de tomar”, afirmou Martine. “Quando a gente conseguiu cruzar na frente das neozelandesas, eu pensei: é essa a oportunidade. Deu até um nervoso na última manobra, achei que fosse errar. Mas acabou que deu tudo certo.”

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Para sua parceira Kahena, se elas tivessem seguido as adversárias, o pódio estaria ameaçado. “No final deu super certo. A gente usou uma estratégia diferente da equipe da Nova Zelândia, que estava vencendo. Optamos por ir para outro lado da raia, o que somou muito. Na última volta, passamos as duas e nos concentramos em marcar a adversária para poder chegar à frente delas”, completou Kahena, entusiasmada. História. As duas ganharam a única medalha da vela brasileira nos Jogos do Rio. Com o pódio de Martine e Kahena, a modalidade chegou a 18 medalhas na história dos Jogos, sendo uma das mais vitoriosas do País. “Foi um campeonato incrível, com as quatro primeiras chegando na medal race praticamente com os mesmos pontos. Gostaria muito que tivesse uma medalha para a quarta colocada, pois elas velejaram muito bem durante a semana”, comentou Kahena, sobre as espanholas Tamara Echegoyen e Berta Moro.

A performance da dupla brasileira também chamou a atenção de um especialista no assunto. O velejador Robert Scheidt, que tem cinco medalhas olímpicos e no Rio bateu na trave com a quarta posição na classe Laser, elogiou o desempenho das brasileiras na medal race. “Elas tiveram um mérito enorme em conseguir a recuperação. As neozelandesas estavam muito confortáveis no início da regata. A Martine vinha em terceiro, já tinha a prata garantida, mas teve o mérito de passar as neozelandesas e ganhar o ouro. Elas velejaram de maneira excepcional. Foi merecido o ouro.”

Agora campeãs olímpicas, tanto Martine quanto Kahena evitam falar sobre o futuro da parceria para o próximo ciclo olímpico. Dizem que querem curtir o momento e descansar um pouco após essa conquista em casa. A Confederação Brasileira de Vela aposta nelas como substitutas dos grandes ídolos do esporte, como Robert Scheidt e Torben Grael.

Martine lembra que elas devem sentar para conversar sobre o assunto, mas é Kahena que rasga elogios e deixa uma esperança de continuidade para os Jogos de 2020. “Eu faria tudo de novo, passaria novamente esses quatro anos com a Martine. Tivemos momentos incríveis, obviamente com altos e baixo, mas valeu a pena.”

 Foto: Arte/Estadão
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