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ESPECIAL-Atletas voltam para casa radiantes e em lágrimas

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Por BELINDA GOLDSMITH
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Está quase acabando. Após anos de preparação, os atletas estão deixando a Olimpíada de Pequim para voltar para casa e retomar seus empregos, estudos, treinamentos. Alguns vão se dar bem financeiramente com a nova fama, mas muitos terão problemas. A realidade pode estar muito longe da espetacular cerimônia de abertura de 8 de agosto, quando 10.500 atletas foram saudados como a elite do esporte mundial. Pode estar muito distante das competições em fantásticas instalações. A decepção, as crises de identidade e os distúrbios alimentares pós-Olimpíada são comuns, de acordo com psicólogos esportivos, que têm uma importância cada vez maior na preparação e também após os Jogos. Danielle de Bruijn, 30, cujos sete gols garantiram uma medalha de ouro para a equipe de pólo aquática holandesa, afirmou que voltar para casa pode ser difícil, especialmente para atletas que não foram tão bem como esperado e estão se aposentando. "Ficamos em quarto em Sydney-2000 e 11 das 13 jogadores se aposentaram após os Jogos e entraram em um buraco negro", disse Bruijn à Reuters. "Vou me aposentar após Pequim e tenho o ouro, então consegui o que queria. Vou tirar umas férias e trabalhar como administradora financeira. Ficarei ocupada, e acho que ficarei bem". Ela disse que os responsáveis pela delegação holandesa, assim como muitos outros comitês olímpicos nacionais, garantiu a disponibilidade do acompanhamento psicológico para os atletas se eles tiverem problemas com uma decepção. Como muitos atletas, Bruijn deixou o trabalho 18 meses antes de Pequim para se concentrar nos treinamentos, mas ela já tinha um plano armado para depois, diferente do medalhista de ouro alemão no triatlo, Jan Frodeno. "Meu plano de vida acabou há uma hora", disse ele após a prova. "Esse era o sonho da minha vida. Eu sempre vivi com o lema 'o plano A tem que funcionar'. Não tinha um plano B e não sei o que vai acontecer agora". APRENDENDO COM A EXPERIÊNCIA Peter Clarke, psicólogo da delegação britânica nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2002 e 2006, afirmou que mesmo os atletas que voltam para casa com ouro podem ter problemas. "Sabe-se que vencedores sofrem de coisas como súbita falta de identidade", disse Clarke à Reuters. "Ter que lidar com o stress dos fortes treinos por tantos anos aliado à total ruptura das atividades sociais 'normais' pode ser muito difícil de lidar". O ciclista britânico Bradley Wiggins, que conquistou dois ouros em Pequim, ficou mudo no pódio dessa vez, comparado com as fortes emoções que mostrou depois de vencer em Atenas. "Eu não mostro mais emoção", disse ele. "Atenas quase me destruiu... Eu era um atleta maduro, mas uma pessoa imatura". Ele afirmou que ficou tão oprimido com seu ouro em Atenas que não se concentrou em outras provas, saía para beber e não se preocupava em dormir direito. O Comitê Olímpico Internacional reconheceu tudo isso durante os Jogos de Pequim e lançou um programa para ajudar atletas. O programa, montado com a colaboração do grupo suíço Adecco, tem o objetivo de fornecer orientação e ferramentas para ajudar os atletas a lidarem com os treinos, competição, desafios e oportunidades da vida diária. Mas, para alguns, a decepção de anos de treinamento e tantos sacrifícios para ficar sem uma medalha é demais. A jogadora de vôlei de praia brasileira Ana Paula, 36, deixou seu filho de sete anos com a irmã enquanto treinava. Ela foi eliminada nas quartas-de-final e ainda não sabe se continuará competindo. "Esse sentimento todo é demais", disse ela. "Vou embora sem uma medalha, mas vou embora com todos esses sentimentos como uma nova pessoa". (Reportagem adicional de Annika Breidthardt, Karolos Grohmann e Crispian Balmer)

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