Especialistas apontam riscos de Olimpíada ser disputada em meio à pandemia

Pesquisadores da área de saúde pública alegam que reunião de atletas, torcedores e jornalistas de centenas de países pode favorecer a disseminação do novo coronavírus

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Por Redação
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Apesar de o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de Tóquio estabelecer uma série de regras para atletas, torcedores e jornalistas na tentativa de evitar a propagação do novo coronavírus durante o evento, agendado para começar no dia 23 de julho, especialistas duvidam dessa possibilidade. “Os Jogos Olímpicos, como um agrupamento de massas, favorecem todos os tipos de doenças infecciosas”, diz Atsuo Hamada, especialista da Universidade de Medicina de Tóquio. Nem mesmo a campanha mundial de vacinação contra a covid-19 seria suficiente na visão de pesquisadores. “Pode haver certas variantes que apresentam alguma resistência à vacina. Reunir pessoas de tantos países diferentes só vai acelerar a probabilidade de ver uma nova variante aparecer”, aponta Michael Head, pesquisador de saúde global da Universidade de Southampton (Reino Unido).

A contagem regressiva para Tóquio continua Foto: Phillip Fong/AFP

Koji Wada, especialista em saúde pública, acredita que é improvável que todos os atletas e a população japonesa sejam vacinados antes da abertura do evento olímpico. "As vacinas são uma ferramenta para proteger cada um e não os outros", ressalta o professor da Universidade Internacional de Saúde de Tóquio, que assessora o governo japonês no manejo da pandemia. Em defesa da Olimpíada, autoridades japonesas destacam o sucesso de outros eventos esportivos durante a pandemia. Mas, especialistas em saúde respondem que os Jogos têm uma dimensão maior, com 11 mil atletas de mais de 200 países concentrados em Tóquio.

“Tudo o que pode ser feito para reduzir o risco está sendo feito. Mas você não pode reduzir o risco completamente. Se olhar as coisas do ângulo da saúde pública, hospedar os Jogos é tudo o que não se deve fazer no momento”, afirma Hassan Vally, professor de saúde pública da Universidade La Trobe, na Austrália.

Tudo o que pode ser feito para reduzir o risco está sendo feito. Mas você não pode reduzir o risco completamente. Se olhar as coisas do ângulo da saúde pública, hospedar os Jogos é tudo o que não se deve fazer no momento

Hassan Vally, professor de saúde pública da Universidade La Trobe

Para Hassan Vally, os Jogos podem ser realizados, mas a organização deve presumir que haverá infecções. "É impossível que os Jogos sejam realizados sem algum escândalo ligado ao vírus. Como responder será o maior desafio", afirma. Um guia preparado pelos organizadores dos Jogos e destinado aos atletas foi lançado nesta semana e prevê o uso obrigatório de máscaras, sem apertos de mão e principalmente abraços. “Se você já participou de uma edição dos Jogos, sabemos que essa experiência será diferente em muitos aspectos”, explica o documento de 33 páginas, que convida os atletas a “limitar o máximo possível os contatos com outras pessoas”. Os participantes “devem usar máscara” em todos os momentos, “exceto no treino ou competição, quando comem ou dormem, ou se estão fora e podem estar a dois metros dos outros”, diz o guia. O documento alerta ainda os atletas sujeitos a essas rígidas regras de saúde que eles podem ser excluídos da competição se não as respeitarem. Os atletas serão autorizados a participar de treinamentos no Japão antes do início dos Jogos, mas todos os seus movimentos deverão ser rigorosamente registrados e o uso do transporte coletivo estará sujeito a autorização. “Não devem ir a ginásios, zonas turísticas, lojas, restaurantes ou bares. Só podem ir aos locais oficiais dos Jogos e a um número limitado de outros locais.” / COM AFP