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(Viramundo) Esportes daqui e dali

Espírito olímpico, hoje

Cada vez mais raros grandes astros que se mostram afáveis e disponíveis antes das provas

Por Antero Greco
Atualização:

Sempre nos venderam a ideia de que Olimpíada é uma grande festa do esporte. Congraçamento entre os povos, exaltação à paz universal, ode à saúde do corpo e da mente, como sublinhavam antigos cronistas a derramarem-se em poética rococó. Deveria ser, pode ter sido, de certa maneira ainda é.

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Mas nem tanto. 

Basta ver como os Jogos se transformaram, a partir de incerto momento da História, no século passado, em uma forma de ostentação de supremacia racial, política e/ou ideológica. Duelos lúdicos viraram choques entre Democracia x Totalitarismo ou coisa que o valha. 

Por desacertos diplomáticos, houve boicotes; por avidez de glória e hegemonia, cresceu o uso de doping; por medo generalizado, as medidas de segurança tornam-se cada vez mais paranoicas. Quer maior negação de liberdade do que atletas e dirigentes a caminhar, em aeroportos, praias, hotéis, locais de treinamentos e Vila Olímpica, cercados por agentes armados com metralhadoras e fuzis?

As estrelas, assim, tornam-se menos reais. Embora estejam por aqui, pertinho de nós, ao vivo, passam a sensação de seres inalcançáveis, virtuais. Sei lá uns pokemóns, esses bichinhos criados por ilusão de ótica, que estão próximos, mas não estão, e causam uma zonzeira danada...

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Além do receio da abordagem de algum maluco ou fanático, os atletas de ponta se desgarram da multidão por questões profissionais. Podem ser gente boa, nem duvido disso. Mas têm compromissos com suas metas, e por extensão como os patrocinadores. Claro, se acumularem fiascos, bye-bye à grana que os impulsiona.

Tome-se Usain Bolt como referência. O jamaicano distribui sorrisos a torto e direito, figura popular e carismática. Porém, mal botou os pés no Rio, se mandou para o isolamento de um hotel e para os treinos longe de olhares curiosos. Fechou-se no som dos fones de ouvido e, quem dele tentou chegar perto, ouviu do componentes do staff uma explicação curta e grossa: “Ele veio para correr.”

Não será Bolt o único a apresentar tal comportamento reservado. Centenas, de dezenas de países, seguirão roteiro semelhante. O objetivo da moçada é ganhar medalhas – seja no Rio, em Londres, em Tóquio. O papo de que o importante é competir, do finado e saudoso Barão de Coubertin, não caiu totalmente em desuso porque uma galerinha o leva a sério.

Em geral, representantes de países que não passam de figurantes, gente que curte o esporte como passatempo e não como ganha-pão. Nos próximos dias, você verá figurinhas fáceis a circular por páginas de jornais e telinhas de computador e tevê. Essa turma é aquela que alegra a Vila Olímpica, vai pras baladas, sai às compras... e passa despercebida nas ruas e nas quadras; estão no lucro só pelo fato de participarem de evento incomum.

Os figurões levam vida monástica, ou quase isso. Têm o tempo cronometrado, ao menos até que cumpram sua parte. Depois, podem virar cidadãos comuns, ou algo do gênero. Daí, cresce a probabilidade de topar com um campeão da natação nas alamedas de um shopping, ou tirar uma foto com um craque do basquete na praia. Ou flagrar um recordista do atletismo a fartar-se numa churrascaria. Daí, vira espírito olímpico pra valer.

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Muitos jovens famosos não conseguem liberar-se de ações comerciais, nem antes das provas, nem durante, nem depois! Há os que devem mostrar-se sorridentes e solícitos, a posar com crianças e visitar locais populares, por assim recomendarem anunciantes. Está em contrato. Não se deixa escapar chance de exposição. É preciso faturar, oh yeah.

Por isso, fique com ligeira desconfiança – não precisa ser sempre, basta vez ou outra –, quando vir atletas arredios sorridentes de repente e com agenda previamente divulgada para a imprensa toda registrar. Espírito olímpico, hoje em dia, é – também – money. Muito.

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