Ginasta brasileira defende russa Alina Kabaeva e repudia perda de medalhas por relação com Putin

Dayane Camillo critica petição que exige que ex-atleta perca seus pódios olímpicos por causa de sua 'forte ligação amorosa' com o presidente da Rússia, que faz guerra contra a Ucrânia

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Por Roberto Salim
Atualização:

Dayane Camillo é contra tirarem as medalhas de Alina Kabaeva, anunciada como uma das mulheres do presidente russo Vladimir Putin, que autorizou o ataque militar contra a Ucrânia e colocou o mundo em alerta. Da mesma forma que a ginasta russa, a brasileira disputou duas Olimpíadas e se conheceram nas provas.

Uma petição online sugere que a ex-estrela da ginástica rítmica seja expulsa da Suíça, onde vive atualmente, e que entregue suas medalhas olímpicas. Kabaeva foi campeã no individual geral em Atenas-2004 e ainda obteve o bronze em Sydney-2000. Segundo Dayane, que não compete mais, essa perseguição é injusta.

Alina Kabaeva (direita) é apontada como amante de Vladimir Putin Foto: REUTERS

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Ambas eram atletas de ginástica rítmica. Eram as estrelas de suas equipes. Flexíveis e encantadoras. Mas as comparações param por aí. "Você está me ligando para falar da Alina e do Putin...? Eu sou fã dela", confessou Dayane, maior nome da história da ginástica rítmica nacional. Alina é um dos mitos da modalidade mundial, muito antes desta guerra.

Em Apucarana, onde estava cumprindo compromissos políticos na tarde desta quarta-feira, Dayane contou que sabia do namoro dos dois personagens russos desde muito tempo. Refere-se a Vladimir Putin e Alina. "No meio da ginástica, a gente comentava isso. A gente sabia".

Em campeonatos mundiais e torneios internacionais, Dayane encontrou várias vezes a russa, que era mais nova do que ela, mas já era uma estrela de muita luz e medalhas. Por falar em conquistas, Dayane (que participava das competições por equipe), acha um absurdo o assunto da caça às medalhas das provas individuais da colega russa depois de a guerra ter ganhado as manchetes mundiais com os ataques contra os ucranianos.

"A gente já sabia que ela tinha entrado para a política e que havia um caso amoroso com o Putin, mas isso não pode ser usado agora com a guerra para tirarem as suas medalhas. Elas foram conquistadas em outros tempos, com um trabalho árduo, com treinos e muita dedicação".

Sempre que podia nos torneios internacionais, Dayane acompanhava os treinamentos da "fantástica" ginasta russa. "Ela era incomparável. Tinha muita flexibilidade, fazia exercícios com alto grau de dificuldade, tanto que nos códigos da Federação Internacional têm exercícios com o seu nome. Por isso, não creio que seja justo tirar suas medalhas ou contestar os seus feitos olímpicos", diz.

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"Na época, não tinha guerra", prossegue Dayane. "Acho ainda que ela, quando teve algumas conquistas, não tinha conhecido sequer o Putin. Competição é competição. O depois é depois. Ninguém tem o direito de questionar suas conquistas". Dayane lembra que sabia que no início de carreira, Alina teve dificuldades para ingressar na equipe de alto rendimento. "Ela era meio gordinha, cheinha, e fugia ao biotipo das ginastas tradicionais da Rússia. Era menor, tinha bundinha. E isso dificultou seu início de carreira na ginástica".

Mas o que encantava mesmo, segundo Dayane, era sua inacreditável flexibilidade. "E olha que eu era flexível, era a capitã da nossa equipe que foi campeã pan-americana em 1999, em Winnipeg, e em 2003, em Santo Domingo. Eu fazia as colaborações e fechava os exercícios com maior grau de dificuldade. Mas ela era diferente, carismática".

Outro fator que atraía os olhares das demais competidoras era a dança da atleta russa. "Hoje tem exercícios de dança nas competições de ginástica rítmica, mas naquele tempo não havia e ela já executava com muita graça. Aliás, a equipe brasileira em Sydney teve destaque e conseguiu a oitava colocação com uma música brasileira e passos de samba", recorda-se.

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Dayane diz que o público presente em Sydney gostou tanto da apresentação que até vaiou os jurados após anunciarem a nota do conjunto brasileiro. "Nos apresentamos com muita energia e expressividade. Na ginástica rítmica, você tem de cativar o público e eu digo que a Alina Kabaeva tinha carisma, dominava esse segredo, ela cativava o público. Era muito expressiva. Como a gente diz aqui: é preciso ter borogodó. E ela tinha!"

A brasileira contou ainda ter algumas fotos ao lado da competidora russa. "Espero que respeitem suas medalhas, sua história esportiva. Era uma atleta fenomenal, dava saltos incríveis, fazia exercícios de dificuldade corporal inacreditáveis, executava os exercícios com todos os aparelhos com perfeição. E exibia uma expressão que encantava os espectadores. O público gostava dela”, disse Dayane, que atualmente mora em Londrina e vem se dedicando nos últimos tempos à elaboração de projetos de capacitação para profissionais de educação física. "É um trabalho para proporcionar a iniciação de ginástica rítmica em 24 cidades do Estado". Por enquanto, ela deixou o alto rendimento, onde trabalhava como técnica. Em breve, vai passar por uma cirurgia no ombro, herança dos tempos de atleta. Se vai se candidatar a deputada estadual nas próximas eleições? "Ainda não sei, mas se entrar, vou batalhar pelo esporte".

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