Publicidade

Jornal oficial chinês ataca Spielberg por deixar Jogos

Cineasta norte-americano se afasta do governo chinês por divergências na questão Darfur

PUBLICIDADE

Por CHRIS BUCKLEY
Atualização:

Um influente jornal do regime chinês criticou na quarta-feira o cineasta norte-americano Steven Spielberg por ter desistido de dar consultoria à Olimpíada de 2008 em Pequim, alegando incompatibilidade com o governo da China na questão de Darfur. Na opinião do Diário do Povo, há vaidades políticas "infantis" por trás das restrições ocidentais às políticas chinesas. Spielberg anunciou sua decisão na semana passada, alegando que a China não usa toda a influência que tem para tentar promover a paz na região sudanesa de Darfur. Na ocasião, as autoridades manifestaram apenas uma discreta frustração com o premiado cineasta. Mas a edição internacional de quarta-feira do Diário do Povo, órgão oficial do Partido Comunista, foi mais incisiva. "Um certo diretor ocidental é muito ingênuo e apareceu com uma posição exagerada que desafia o bom senso. Talvez seja apenas o temperamento especial das figuras de Hollywood", disse o texto, em uma referência inequívoca a Spielberg. "O problema de Darfur não foi criado pela China e não está de forma alguma relacionado com as políticas da China na África. Vincular o problema de Darfur à Olimpíada de Pequim é injusto." Por outro lado, o governo dá sinais de maior envolvimento na questão de Darfur, tentando conter críticas e protestos que poderiam ofuscar os Jogos de agosto, destinados a servirem de vitrine para o êxito econômico chinês. O primeiro-ministro Wen Jiabao disse na terça-feira que a China se empenha pela paz em Darfur, e o governo anunciou que seu emissário para a região, Liu Guijin, irá nos próximos dias ao Sudão e à Grã-Bretanha. "Estamos dispostos com a Grã-Bretanha a continuar fazendo esforços incessantes para resolver apropriadamente a questão de Darfur", disse Wen ao premiê britânico, Gordon Brown. O jornal oficial foi menos educado. Disse que os ativistas e a imprensa ocidentais distorcem o papel chinês em Darfur para seus próprios fins. "Eles dizem estar trabalhando pelo povo de Darfur, mas na verdade estão agindo por auto-interesse. Pressionar a China pode lhes render capital político", afirmou o artigo, qualificando a polêmica no Ocidente como "infantil e risível". A China compra petróleo e vende armas para o Sudão, e críticos acusam Pequim de dar proteção diplomática ao governo sudanês para evitar o envio de uma força internacional de paz. Liu, porta-voz da Chancelaria, disse na terça-feira que uma negociação paciente será a melhor forma de controlar o conflito, que segundo estimativas internacionais já matou 200 mil pessoas e deixou 2,5 milhões de refugiados. Cartum diz que 9.000 pessoas morreram na guerra civil. O governo local é acusado de armar milícias árabes suspeitas de massacrar rebeldes não-árabes na região.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.