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Lentos entre os rápidos, 'azarões do atletismo' se divertem

'Figuras' fizeram piores tempos dos 100m no Engenhão

Foto do author Gonçalo Junior
Por Gonçalo Junior e Nathalia Garcia
Atualização:

A prova dos 100 metros rasos em Olimpíadas é tão nobre que tem até uma espécie de segunda divisão, uma forma de acesso ao torneio principal. Trata-se de uma peneira, formada por três pré-eliminatórias, realizadas entre os países de menor expressão. Seis classificados têm a glória de participar das oito provas eliminatórias principais.

Nos Jogos do Rio, a segunda divisão dos 100 m foi disputada sábado, no Engenhão. Dos 22 que correram, 12 completaram o percurso acima dos 11 segundos – o recorde mundial é 9s58. Duas figuraças ficaram na rabeira da rabeira, ou seja, fizeram os piores tempos dentro dessa prova tão particular e cravaram 11s81: Richson Simeon, das Ilhas Marshall, e Etimoni Timuanni, de Tuvalu.

Etimoni Timuanni (à esquerda)é o único atleta de Tuvalu no Rio-2016 Foto: Wilton Junior/Estadão

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Entusiasmado com a inesperada roda de jornalistas que se formou ao seu redor logo que saiu da pista, Simeon conta sua história com detalhes, até aqueles que ninguém pergunta. Ele nasceu nos Estados Unidos, mas representa a terra dos seus pais. Depois de passagens pelo boxe, futebol, tênis e rúgbi, ele se encontrou no futebol americano. Com a proximidade dos Jogos, enviou seus vídeos para a federação de atletismo. Sua história colou e, depois de apenas oito meses de treino, ele está no treino. Mesmo depois de correr, ele não acredita que está no Engenhão.

“É uma loucura estar aqui. Estou aqui para me divertir. Vim de longe para fazer parte disso. Isso só acontece uma vez na vida. Agarrei a oportunidade quando surgiu. Até pouco tempo, nunca tinha estado em uma pista, eu era jogador de futebol americano”, diz. Seu sonho era disputar a mesma série classificatória que Bolt ou Gatlin, mas não deu.

Bolt. O mais rápido dessa segunda divisão foi Hassan Said, das Maldivas (10s45). Na série principal, no entanto, ele não teve chances e terminou em oitavo lugar. O público no Engenhão não deu muita bola para esse torneio preliminar. Às 9h30, quando começou a disputa, muita gente ainda estava na fila para entrar de olho na atração principal, mas Bolt só correria ao meio-dia.

Etimoni Timuanni é mais seco nas entrevistas, mas seu problema é a timidez mesmo. Parece que não está curtindo seus 15 minutos de fama, ou 11s81, mais precisamente. Ele também não é nascido e criado no atletismo. Aos 24 anos, é zagueiro de futebol e joga profissionalmente na liga local de Tuvalu. Também foi jogador de futsal. Nas duas modalidades, na quadra e no campo, chegou à seleção principal. Ontem, foi o último na terceira série da peneira.

Ele tem outra particularidade. É o único atleta de Tuvalu nos Jogos. O país é uma ilha da Polinésia que fica no meio do Pacífico, entre o Havaí e a Austrália. Uma curiosidade aérea dá uma ideia de como é longe. Para chegar ao Rio, foram 40 horas de voo entre Tuvalu, Fiji, Los Angeles, Panamá até o Engenhão.

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No Mundial de Pequim, no ano passado, ele ficou em 72.º e garantiu o convite para a Olimpíada do Rio. Lá conheceu Usain Bolt. “Ele falou comigo e me desejou boa sorte”, orgulha-se.

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