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Marido olímpico

Assisto absolutamentea tudo. E como não há fuso horário, minha mulher não vai brigar comigo

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Por Washington Olivetto
Atualização:

Desde menino, sempre fui fanático por esportes. Na verdade, sou um atleta frustrado: aos 13 anos, jogava um basquete do nível da seleção paulista infantojuvenil, mas, graças a Deus, tive a sorte de estourar os meniscos do joelho direito e parar.

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Graças a Deus porque na época eu já tinha o mesmo 1,71 metro que tenho hoje – era grande para um menino daquela idade –, mas, como não ia crescer mais, obviamente não teria condições de me transformar no meu ídolo Wlamir Marques. Com apenas 1,85 metro e um talento incomum, Wlamir foi medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Roma, em 1960, e de Tóquio, em 1964, além de cestinha da seleção brasileira duas vezes campeã mundial – em Santiago do Chile, em 1959, e no Rio de Janeiro, em 1963.

Não, não choro por causa dos meniscos faz tempo. Na verdade, graças ao meu joelho estourado, resolvi abandonar o basquete e, já na adolescência, decidi que queria ser um criador de publicidade. Bendito joelho.

Fui também um cartola bem-sucedido, vice-presidente de Marketing do Corinthians – time para o qual eu torço até se jogar contra a minha mãe – na época da Democracia Corinthiana, quando fomos bicampeões paulistas em cima do São Paulo, em 1982 e 1983. Confesso que, apesar da minha nenhuma vocação para a política e a politicagem presentes nas grandes equipes de futebol, trabalhei bem e me diverti muito.

O excelente livro Sócrates e Casagrande – uma história de amor narra com emoção aquele momento histórico, documentado hoje em livros e filmes no mundo inteiro porque, na verdade, era futebol, mas não era só futebol: caminhavam com aquela equipe a luta pelas eleições diretas e a implantação do rock’n roll brasileiro, fatos que o documentário Democracia em Preto e Branco narra com precisão.

Assim como não gosto de política e politicagem, gosto de basquete, publicidade, futebol, democracia e rock’n roll, amo esportes em geral e sou tarado por Olimpíadas.

Eu me intitulo o pior marido que uma mulher pode ter em jogos com grandes diferenças de fuso horário. Assisto absolutamente a tudo. Acordo de madrugada para ver qualquer competição e ainda exijo a participação da vítima: “Olha como lança o dardo, essa eslovena!”.

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Acompanho os Jogos Olímpicos há muito tempo. Já assisti a momentos inacreditáveis de talento e superação de atletas das mais diferentes nacionalidades, em diferentes países, mas confesso que os Jogos de 2016 estão sendo infinitamente mais especiais para mim, e as razões são muitas.

A primeira delas é que estão acontecendo no país onde eu nasci, numa cidade que eu amo e da qual tenho o privilégio de ser cidadão honorário. A segunda é que fui convidado para a emocionante experiência de conduzir a tocha olímpica – na verdade, fui conduzido por ela – e tive a honra de fazer o beijo da tocha com o meu amigo Jorge Ben Jor, gênio da raça brasileira e símbolo da cidadania carioca. A terceira é que a minha agência, a WMcCann, tem três grandes clientes patrocinando o evento: Bradesco, Coca-Cola e Latam. A quarta é que o esplêndido show da abertura foi criado e dirigido por grandes amigos meus e estrelado por outros amigos queridos. A quinta é que estes Jogos já estão nos proporcionado os novos momentos mágicos do esporte, como a primeira medalha brasileira para o Felipe Wu, no tiro esportivo, o primeiro ouro brasileiro para a Rafaela Silva, no judô, o 19.º ouro do Michael Phelps e o choro do Novak Djokovic ao ser eliminado, só para citar alguns que aconteceram nos três primeiros dias de competições.

E a última é que, nesta Olimpíada, minha mulher não vai brigar comigo. Como não há fuso horário, não vou acordar de madrugada exigindo que ela também desperte para ver como lança o dardo, aquela eslovena.