Ministério da Saúde anuncia que atletas e credenciados serão vacinados para Tóquio-2020

Ao todo, serão imunizadas 1.814 pessoas, entre esportistas e não-esportistas; vacina são doações da Pfizer e da Sinovac ao COI

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Por Redação
Atualização:

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, confirmou nesta terça-feira que o Brasil vacinará contra a covid-19 atletas, membros das comissões técnicas, dirigentes e credenciados que vão representar o Brasil nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, no Japão. O programa foi aprovado pelo Plano Nacional de Imunização (PNI).

O imunizante será doado pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), que havia anunciado em março que receberia doações da China para aplicar em todos os atletas que disputarão os Jogos de Tóquio. E as doses serão fornecidas pelos laboratórios Pfizer e Sinovac. Pelo acordo divulgado anteriormente, o COI vai fornecer vacina para dois brasileiros não atletas a cada esportista vacinado.

Ministério da Saúde anuncia que atletas e credenciados serão vacinados para Tóquio-2020. Foto: Issei Kato/Reuters

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Como a previsão é de que a delegação brasileira conte com 1.800 integrantes que viajarão para a capital japonesa, cerca de 7 mil doses adicionais serão doadas ao SUS pelo COI, o que beneficiaria aproximadamente 3.600 pessoas. Desde o início da aplicação dos imunizantes no Brasil, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) afirma que não iria "furar a fila" da vacinação.

"O COB sempre se posicionou a favor de seguir o Plano Nacional de Imunização. Além disso, só abrimos conversas sobre a possibilidade de imunizar a delegação quando confirmamos que, para cada atleta ou oficial vacinado, o país receberá mais duas doses para imunizar a população brasileira. Esta é uma grande contribuição do Movimento Olímpico neste momento tão difícil que o mundo enfrenta", disse Marco Antônio La Porta, vice-presidente do COB e chefe de Missão do comitê nos Jogos Olímpicos. "Mesmo sem a obrigatoriedade da vacina para a participação nos Jogos, não há dúvidas de que nos sentiremos mais seguros para representar o Brasil nos Jogos Olímpicos."

O ministro da Saúde confirmou ainda que foram doadas 4.050 vacinas da Pfizer e 8.000 da Sinovac. De acordo com Queiroga, a vacinação dos atletas já começará nesta semana, em Fortaleza, Rio de Janeiro e São Paulo. Belo Horizonte ainda não definiu a data do início, enquanto Porto Alegre e Brasília vão começar no dia 17.

O prazo-limite para a aplicação da segunda dose a todos os integrantes dos Jogos Tóquio 2020 é 21 de junho, a 15 dias do primeiro embarque para o Japão e a 33 da abertura dos Jogos Olímpicos.

Opiniões distintas

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A vacinação divide a opinião dos especialistas. Daniel Y. Bargieri, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da USP e coordenador do Núcleo de Pesquisas em Vacinas da USP, aprova a medida. “Há tempo hábil para completar a vacinação de todos com duas doses, seja qual for a vacina. A vacinação das equipes e atletas é necessária para a segurança individual deles, bem como para prevenir que o vírus se espalhe do Brasil para Tóquio e de Tóquio para outros países e para o Brasil (na volta)”, avalia.

Bargieri destaca que o tema é delicado, difícil de promover um consenso. “Cada grupo prioritário possui uma explicação lógica. Seja por nível de exposição (profissionais da linha de frente), seja por risco relativo (idosos e comorbidades), seja por importância percebida pela sociedade (professores). Afinal, a rigor trata-se de discriminação. Eu vejo atletas e equipes que irão representar o País no maior evento esportivo do mundo como um grupo prioritário. Além disso, há o fato de se tratar de esporte, que é uma atividade cuja importância no tecido social é frequentemente subestimada no Brasil. O número de doses destinadas terá impacto irrisório no PNI. Ou nenhum, dado que são doses doadas com este fim específico”, argumenta.

Natália Pasternak, microbiologista e presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC), tem visão oposta. Ela critica, inclusive, a realização dos Jogos Olímpicos. “Não concordo nem que a Olimpíada seja realizada quanto mais que doses sejam destinadas aos atletas antes de outros grupos prioritários”, opina a especialista. “O mundo está doente. Até que esteja ele seja curado, não vejo razão em promover eventos com aglomerações de pessoas e viagens internacionais que envolvem não só os atletas, mas delegações dos países. É um problema de prioridades. Somos um País que estabelece como prioridade o esporte antes de vacinar os professores”, completa.

Para a especialista, o fato de as vacinas terem sido doadas pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) não minimiza o problema ético. “Existe um gargalo de produção mundial. Priorizar atletas e jornalistas quer dizer que estamos deixando de vacinar alguém em algum país onde milhares morrem por dia”, finaliza.