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Mudança radical

Contra Dinamarca e Colômbia, seleção provou que era possível jogar futebol de verdade

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Por Paulo Calçade
Atualização:

A transformação foi radical. Na semana passada, a seleção era o símbolo de uma equipe travada, confinada no mundo das boas ideias, mas de operação apenas virtual. Em suas duas primeiras partidas no torneio olímpico, contra África do Sul e Iraque, tropeçou na projeção que fazia de seu próprio futebol.

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O modelo de jogo de Rogério Micale é claro, mas a responsabilidade imposta ao time parecia, mais uma vez, ser maior do que a capacidade de transformá-lo em resultado. O objetivo estava traçado, não a forma de alcançá-lo. Havia duas realidades, a do campo e aquela que precisava ser acessada para evitar mais um vexame da camisa amarela.

A resposta positiva veio no momento de maior pressão sobre a equipe, a partida contra a Dinamarca. Não bastava vencer, era necessário dar uma resposta para resgatar a ideia original e o ideal de jogo imaginado desde o início. A goleada recuperou a confiança.

Sim, era possível jogar futebol, futebol de verdade, desde que a resolução do problema fosse coletiva, passando inclusive pelo treinador. Além da mudança de comportamento, a solução veio com a alteração do sistema tático, a troca do 4-3-3 pelo 4-2-3-1.

Há momentos em que essas alternativas são extremamente importantes. E brotam também das circunstâncias do torneio. A suspensão de Thiago Maia deu oportunidade a Walace, que merece um capítulo especial junto com algumas reformas no posicionamento dos jogadores e suas funções, além da necessária entrada de Luan.

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Os dois gremistas mudaram a maneira de jogar da equipe. A seleção encontrou seu caminho nesse 4-2-3-1 que, pela movimentação, às vezes dificulta a definição do número 1 no sistema, devido características individuais.

Luan é o ponto de convergência do quarteto ofensivo, ele se infiltra e também busca o lado do campo, não se esconde de nenhuma tarefa. Esse novo momento ajudou a libertar Neymar para o jogo e ainda melhorou a compactação do time. No 4-3-3, a recomposição defensiva estava lenta, separando o meio de campo do ataque. A transferência de Gabriel Jesus, do centro para o lado esquerdo, tornou o setor agudo.

As triangulações, necessárias na construção do momento ofensivo, para que as linhas de marcação sejam quebradas, começaram a acontecer. O resultado prático é que o paredão defensivo deixou de ser intransponível.

O eixo do ataque foi deslocado para setor esquerdo. É desequilibrante, é por onde a equipe ganha profundidade. E, assim, o futebol de Douglas Santos apareceu nos Jogos Olímpicos, pois passou a ser percebido por Neymar.

As funções ficaram mais claras e trouxeram muitos benefícios. Agora, quando a equipe perde a posse de bola, Gabriel e Gabigol se incorporam à marcação pelos lados, permitindo que Neymar e Luan se posicionem para os contra-ataques. Surgiu uma equipe, diferente da projetada inicialmente, mas com os mesmos princípios.

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No pacote das transformações, Neymar percebeu sua responsabilidade como organizador. Como capitão do time, entretanto, ainda merece reparos. Ainda não é suficientemente maduro, como mostrou a pancadaria no primeiro tempo contra a Colômbia, para suportar um jogo como aquele.

O erro, agora, será enxergar a final antes de passar por Honduras. A vitória sobre os colombianos foi enorme na evolução da seleção como equipe, mesmo num torneio muito curto e desgastante. É importante perceber que toda essa história contada até agora aconteceu em apenas dez dias.

A disputa pela medalha de ouro, que no início parecia óbvia e depois um milagre, volta a entrar no radar da seleção olímpica. É a roda-viva do futebol.