PUBLICIDADE

No 'berço' de Rebeca Andrade, medalhas inspiram a luta de quem está começando na ginástica

Projeto de iniciação em Guarulhos que descobriu a medalhista recebe críticas por falta de investimentos

Foto do author Gonçalo Junior
Por Gonçalo Junior
Atualização:

PUBLICIDADE

Após dez anos no projeto de Iniciação Esportiva de Guarulhos, o mesmo que revelou a medalhista Rebeca Andrade, a atleta Isabelly Ribeiro está em dúvida sobre seu futuro. Por um lado, ela e suas companheiras se motivam com as conquistas da conterrânea nos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020. Rebeca ganhou a medalha de ouro no salto neste domingo, dia 1º. Antes, já havia conquistado a prata no individual geral. Por outro lado, o grupo que está no início da carreira cobra do poder municipal melhor infraestrutura de treinamento e mais verbas para as competições.

As duas medalhas de Rebeca Andrade são um alento em um cenário de dificuldades para a formação de novas ginastas. De acordo com pais e mães de atletas, o projeto da prefeitura que procura democratizar o acesso à prática esportiva de crianças e jovens entre sete e 17 anos não oferecia vale-transporte e alimentação antes da pandemia – as aulas presenciais estão suspensas e devem retornar em setembro. Por isso, as atletas que saíam do colégio diretamente para os treinamentos levavam marmitas. Não há verba para as viagens para as competições nem equipe completa de apoio. Faltam psicólogos e médicos.

Maria Manuelly, Isabelly Ribeiro, Bianca Felizardo e e Juliana Macedo praticam ginástica artística no ginásio que revelou a medalhista Rebeca Andrade Foto: Taba Benedicto / Estadão

Ainda segundo os pais das atletas, o ginásio municipal Bonifácio Cardoso, sede dos treinamentos, tem problemas de infiltração. Várias goteiras aparecem quando chove. Também falta manutenção periódica dos equipamentos de ginástica.

O ginásio de 1992 já está na história da ginástica brasileira. Foi ali que Rebeca Andrade foi descoberta aos 5 anos pela professora Mônica Barroso dos Anjos, técnica da equipe de ginástica e que ainda atua no local. O professor Júnior Fagundes, também técnico da equipe de ginástica, esteve com Rebeca em sua primeira competição internacional, aos 9 anos, em Cuba. Hoje, a medalhista é atleta do Flamengo. O espaço é um dos principais equipamentos para aprendizado e prática da modalidade no País. 

Também passaram pelo ginásio várias atletas que chegaram à seleção brasileira, como Júlia Cerqueira, Mariana Oliveira, Bruna Perandré, Marina Silva e Priscila Cobelo. Além da ginástica, o projeto atende futsal, voleibol, basquete, futebol, handebol e natação. Antes da pandemia, o projeto atendia cerca de 400 crianças e adolescentes.

Rebeca Andrade é uma vencedora na vida e agora uma medalhista olímpica. Foto: Lindsey Wasson/Reuters

Por conta das carências, os pais criaram a Associação de Pais da Ginástica Artística de Guarulhos (Apigar). Na prática, o grupo formado por pessoas “que se uniram para buscar melhores condições de treinamento e desenvolvimento da modalidade esportiva”.

Publicidade

Em julho de 2019, a associação custeou as passagens de ônibus e a estadia das atletas durante o Campeonato Brasileiro de Ginástica Artística, realizado no Parque Olímpico da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Foi a última grande competição interna da modalidade, reunindo os principais ginastas do país e as grandes promessas da ginástica.

Diante desses problemas, as medalhas de Rebeca representam uma injeção de ânimo, a renovação da esperança de que os investimentos possam ser retomados. "Meu sonho é que esse momento que estamos vivendo seja incentivo para que nossos governantes possam acreditam que nossos atletas têm valor”, diz a atleta de 15 anos e estudante do primeiro ano do Ensino Médio.

É o que pensa também sua amiga Bianca Felizardo. "Se a Rebeca conseguiu, treinando aqui, acho que nós também podemos conseguir um dia", completa.

As conquistas foram comemoradas até por ex-atletas. É o caso da ex-atleta Mariana Oliveira. Ginasta de Guarulhos por 11 anos e integrante da primeira seleção brasileira permanente de ginástica, com base de treinamento em Curitiba (PR). "A ginástica feminina brasileira ganha mais um capítulo lindo na história. A conquista dela é nossa também", diz a atleta que interrompeu a carreira por problemas cardíacos. "Se Guarulhos tivesse um investimento melhor, mais ginastas poderiam sair daqui também", completa.

PUBLICIDADE

Outro lado

Questionada pelo Estadão, a prefeitura de Guarulhos respondeu às críticas e questionamentos dos pais e mães dos alunos do projeto de iniciação esportiva. A prefeitura informa que possui um "projeto da reforma da cobertura do ginásio Bonifácio Cardoso que já estava em elaboração e, neste momento, está na fase de aprovação do convênio junto à Caixa Econômica Federal (recurso federal)". O poder municipal acrescenta que "também possui um projeto de implantação de um novo ginásio na quadra ao lado do Bonifácio Cardoso, também em aprovação, porém no Governo do Estado". 

Sobre outros problemas na estrutura, a prefeitura que alega que possui "um projeto para interligação entre os dois ginásios e reestruturação dos setores de atendimento e instalações sanitárias, que aguardam recursos para prosseguir". 

Publicidade

Sobre o custeio das viagens para torneios e competições, a prefeitura afirma que cobre "as taxas federativas e confederativas da Ginástica Artística Anual, que giram em torno de R$ 30.000 00 a R$ 40.000,00. Dentro deste valor estão a taxa de anuidade, filiação de atletas e técnicos novos, renovação de carteirinhas, arbitragem, premiação, renovação de técnicos e atletas antigos e inscrição individuais e por equipe às competições".

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.