Esportes incluídos para Tóquio-2020 darão salto no orçamento

Confederações de cinco modalidades passarão a receber recursos da Lei Agnelo/Piva

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Por Demetrio Vecchioli
3 min de leitura

Com a inclusão de cinco novas modalidades no programa (surfe, skate, beisebol/softbol, caratê e escalada esportiva), o Comitê Olímpico do Brasil (COB) deve reconhecer cinco novas entidades como confederações olímpicas e incluí-las no rateio dos recursos da Lei Agnelo/Piva. Atualmente, a menor cota é de R$ 2,2 milhões e o teto bate em R$ 4,5 milhões – são 29 entidades no País. Em 2016, R$ 98 milhões foram distribuídos entre elas.

Essas confederações, que até agora trabalharam com orçamento enxuto e quase no amadorismo, receberão até os Jogos de Tóquio-2020 pelo menos R$ 8 milhões. Entre os novos esportes, há muita discussão sobre quem é que terá direito a essa verba pública – há mais de uma confederação brasileira em algumas modalidades – e expectativa sobre como esses recursos poderão ser utilizados.

ESCALADA ESPORTIVAHá três anos, a falta de recursos para uma taxa de R$ 5 mil rachou a comunidade de praticantes de escalada. A Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada (CBME) se viu sem verba para pagar duas federações internacionais, as rivais UIAA (alpinismo e escalada) e IFSC (escalada). Optou pela primeira.

  Foto: Nilton Fukuda | ESTADÃO CONTEÚDO

A consequência daquela decisão fará com que o dinheiro destinado ao ciclo olímpico vá para as mãos de outra entidade nacional, a Associação Brasileira de Escalada Esportiva (ABEE), com apenas 87 atletas associados, nenhuma federação estadual filiada e um orçamento que, atualmente, não chega a R$ 25 mil por ano.

Quando anunciar o rateio de 2017, o COB não deve incluir a ABEE. Só em março de 2017 ela terá os três anos de existência necessários para receber recursos públicos, como reza a lei.

Quando houve o racha da CBME, todas as federações estaduais ficaram com a entidade mais antiga, que tem mais de 3 mil atletas associados, contra os 87 da ABEE. Mas como quem paga a filiação à federação internacional que organizará as provas de escalada dos Jogos de Tóquio é a ABEE, será ela a ser reconhecida pelo COB, desde que cumpra pré-requisitos, como ter três federações estaduais, que ainda precisarão ser criadas.

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"Serão polos regionais, em São Paulo, Rio, Sul e região Centro-Oeste", diz a presidente Janine Cardoso, jornalista de aventura e escaladora de alto rendimento – prestes a encerrar sua carreira. Quando o dinheiro entrar, tudo mudará para a ABEE, que tem sua sede na casa da própria Janine. Com mais recursos, quer construir um CT e enviar atletas para eventos lá fora.

Hoje, quase toda a receita vem de filiações de atletas, boa parte deles também associados à CBME, que tenta reunificar a modalidade. "Essa separação é prejudicial ao esporte. A gente sempre achou que dividia recursos, atletas, esforços, voluntários, num mundo que já é micro", prega Kika Bradford, presidente da CBME, alijada do movimento olímpico.

SKATEAinda sem saber como será a distribuição das 40 vagas olímpicas (20 por gênero), a escalada torce para que haja uma reserva por continente. Esse cenário é diferente da situação do skate, que já sabe que terá direito à cota máxima, de três atletas em cada uma das quatro provas.

O Brasil é uma potência na modalidade, com mais de 600 skatistas profissionais, mas a Confederação Brasileira de Skate (CBKS) vive do esporte pelo prazer, não pelo dinheiro. Tanto que se descreve como "Robin Wood": não cobra taxa de filiação e apoia torneios menores com taxa de homologação que cobra de eventos como o da Mega Rampa. Sobrevive com menos de R$ 100 mil por ano. Todos que se dedicam à confederação são voluntários.

O skate não forma "seleções brasileiras". Quem quer competir no exterior tem de trilhar seu próprio caminho em ligas profissionais desses países. Um circuito mundial só será criado em 2019, para selecionar os atletas para Tóquio. A adequação à cultura olímpica não promete ser fácil. Exemplo: contratar um técnico não está nos planos.

BEISEBOLNesse sentido, o beisebol, que foi olímpico até 2008, terá uma adaptação mais fácil. A Confederação Brasileira de Beisebol e Softbal (CBBS) tem um centro de treinamento, mantido com recursos da Lei de Incentivo ao Esporte, dois funcionários e sede própria.

O dinheiro é contado. A CBBS convoca para competições internacionais, mas quem paga a viagem são os pais dos jogadores na base e os atletas no adulto. A CBBS aguarda os recursos da Lei Piva para se planejar. "Temos alguns projetos sociais e, a partir deles, a seleção tem sido muito beneficiada por crianças que vieram deles", diz Estevão Sato, vice-presidente da entidade, que atualmente vive com R$ 300 mil por ano.