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(Viramundo) Esportes daqui e dali

Olimpíada não é Pan

Por Antero Greco
Atualização:

Os Jogos estão em pleno fôlego, tem medalha saindo do forno a todo momento e a imensa equipe do Brasil ainda não pegou no breu. Pinga um pódio aqui, outro ali adiante, acumulam-se resultados comuns. Fora do normal? Surpresa? Fiasco? Só para o torcedor mais desavisado, aquele esporádico e dos grandes eventos.

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Este aficionado de ocasião é presa fácil para a onda de ufanismo que em geral invade telinhas, telões, manchetes, podcasts. Em geral, cria-se expectativa além do sensato, em torno do desempenho dos patrícios – e, por extensão, das chances de sucesso. Depois, vêm cobranças injustas.

Em diversos casos, faz sentido ter ânimo bem pra cima, sem que soe como patriotada ou conversa fiada. Como no vôlei, por exemplo – e ontem o time masculino estreou com vitória protocolar sobre o México, apesar do susto no primeiro set. Nada para alarmar, e 3 a 1 para o balaio nacional. Normal esperar até ouro desse grupo.

Porém, para dar emoção, ou para atrair audiência nas mais diversas plataformas, colocam-se os atletas da casa com “muita” possibilidade de fazer bonito em modalidades em que, se forem mais ou menos, já estaria de bom tamanho. E fazer bonito, no caso, sempre significa ficar entre os três primeiros. O que também não é correto, com os competidores e com o público.

Lição básica, óbvia, escancarada no nosso nariz, mas que passa batida: Olimpíada não é Pan. Você pode perguntar: “Por que a comparação? Claro que são manifestações distintas.” Como disse, parece evidente, mas nem todos se dão conta disso. Porque os resultados nos jogos do continente costumam mascarar a dimensão real do esporte brasileiro no “concerto mundial”, para usar expressão tão cara a antigos e poéticos narradores esportivos.

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O Pan é uma espécie de Terceira Divisão (quando não Quarta) de Olimpíadas. Em primeiro lugar, como diz o nome, se limitam ao continente Americano. E, mesmo sendo regional, há países que o olham no máximo como laboratório, não ligam a mínima e mandam delegações juvenis ou de segunda linha. Os EUA são useiros e vezeiros nesse costume. E, para humilhar, ainda saem com quilos de medalhas e a primeira colocação no ranking geral de prêmios.

A queda de qualidade abre espaço para os brasileiros, que se fartam de subir ao pódio no Pan. Daí entra em cena o oportunismo, e há quem venda o retrospecto verde-amarelo como indício de crescimento, pujança e vocação para potência esportiva. Embromação, enganação, que faz mal amplo e geral.

Não se deve tirar a alegria de quem conquista uma medalha – eis situação deliciosa, mesmo em jogos colegiais ou nos troféus de desafios entre bairros. Á questão não é a de estraga-prazeres. Só não se pode dar ao Pan envergadura que ele não tem. Infelizmente. Muito menos imaginar que o show se repetirá quando vêm os Jogos Olímpicos.

Olimpíada é outro patamar, muito acima do habitual. Briga de gigantes, de especialistas. Há espaço para os brasileiros, como não?! Mas não da maneira como o torcedor médio imagina, sonha, divaga após um Pan. Soa como chavão – em raros casos, ultrapassado –, porém vivemos de fenômenos individuais e esporádicos.

As glórias brasileiras são fruto do fortuito, de gentileza do acaso, de habilidades ou empenho pessoais. É um João do Paulo, um Torben Grael, um Joaquim Cruz, um Artur Zanetti, uma Sarah Menezes. Gente bacana, lutadora, vencedora, que até chega ao ouro e nem sempre consegue repetir a epopeia. Sobressaem como cometas, como estrelas solitárias; não como produto de planejamento, tradição, massificação. Americanos, chineses, alemães têm campeões em pencas no atletismo, na ginástica, na natação e etc.

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Resumo da crônica? Que continuem a ser prestigiados os atletas brasileiros, que recebam carinho nos locais em que se exibirem. Que saiam com aplausos. E que não se exija deles mais do que podem dar. E que não sejam cotejados com rivais de grandes e avançados centros.