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Ouro no salto, Silvânia entrou no esporte para comprar leite para a filha

Atleta entrou para suas primeiras competições em busca de prêmios financeiros

Por Constança Rezende
Atualização:

Diferentemente das histórias que contam os outros atletas, a medalhista de ouro nos Jogos Paralímpicos, Silvânia da Costa Oliveira, de 29 anos, não começou no atletismo por amor ao esporte. Sem preparo físico ou treinamento, Silvânia entrou para suas primeiras competições em busca de prêmios financeiros para comprar leite para a filha bebê. Nesta sexta-feira, ela ganhou o ouro no salto em distância na Paralimpíada do Rio e dedicou a Letícia Gabriela, hoje com 10 anos.

Silvania Oliveira e Lorena Spoladore recebem as medalhas de ouro e bronze, respectivamente, no salto em distância Foto: ©Daniel Zappe/MPIX/CPB

Assim como sua própria vida, a medalha também não aconteceu de forma fácil. Silvânia só alcançou o melhor salto da competição (4,98 metros), na última rodada. Ela participa da categoria T11 (para atletas cegas) e teve a companhia no pódio de Lorena Spaladore, de 20 anos, que ficou com a medalha de bronze. Silvânia é irmã do atleta Ricardo Costa, que recebeu medalha de ouro na mesma modalidade. Ele também ganhou a prova na última rodada de saltos, com 6,52 metros. A atleta explicou que a história de vida da família contribuiu para a garra de vencer na última oportunidade. "A minha criação e da Ricardo foi muito difícil. Tivemos que superar muitas adversidades. Com a gente, foi sempre tudo ou nada. Então, temos esse biotipo de superação que ajuda no atletismo. As dificuldades não têm limites. Na última rodada, eu arregacei as mangas do colete e fui para cima", disse a atleta natural de Três Lagoas,  Mato Grosso do Sul. Silvânia começou despertar para o esporte por necessidade, quando a sua filha nasceu. Um amigo chamou-a para disputar uma corrida de 10km, cujo o prêmio era de R$300. Divorciada e com casa e a filha para sustentar, a mineira topou o desafio. "Entrei pela premiação. Na época, precisava pagar o leiteiro para a minha filha e sustentar a casa. Não tinha nenhum preparo físico para isso. Depois da corrida, fiquei a semana inteira com febre porque não tinha musculatura para aquele exercício. Falei para o meu amigo nunca mais me convidar porque não tinha condições. Só que, no mês seguinte, as contas vieram e liguei para ele perguntando por mais", contou a atleta, em entrevista após a corrida do ouro. Ela afirmou que a trajetória pelas competições também não foi fácil. "Eu e outros atletas viajamos muitas horas de ônibus para competir. Dividimos pão porque não tínhamos condições financeiras. Tinha um suco de caixa que misturávamos com água para cobrir as refeições. Se consegui chegar aqui, foi com muita dedicação e garra", afirmou Silvânia, que tem patrocínio do Time São Paulo e do Ministério do Esporte. A atleta dedicou o prêmio a sua filha, que promete ser mais uma estrela da família no salto. "Letícia convive com o esporte desde pequena, comigo e o Ricardo, e já é campeã escolar. Ela é medalhista no salto em distância, conquistada quando tinha 7 anos. Ela treina muito e é dedicada", disse. Silvânia é a atual recordista mundial no salto em distância, com 5,46 metros. A marca não foi superada na competição desta sexta. Também conquistou o ouro no salto em distância nos Jogos Parapan-Americanos de Toronto de 2015. Ela tem a doença de Stargardt, por isso, sua visão regride paulatinamente.

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