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Padrões de poluição na China não são os mesmos da OMS

Organização das Olimpíadas acredita em 'céu azul' na abertura dos Jogos; especialistas internacionais questionam

Por Emma Graham-Harrison
Atualização:

Pequim prometeu que os Jogos Olímpicos transcorrerão sob um céu azul, e não sob a névoa embaçada que recobriu a cidade nos últimos meses - no entanto, mesmo em dias aparentemente claros, os níveis de poluição não seriam seguros para os atletas. Veja também: China apresenta plano de emergência contra poluição nos Jogos Autoridades chinesas gastaram 120 bilhões de yuans (17,6 bilhões de dólares) para limpar a capital, fechando fábricas localizadas a dezenas de quilômetros dali, paralisando obras da construção civil e retirando das ruas da cidade mais da metade de seus 3,3 milhões de carros. Ainda assim, quando moradores de Pequim dizem que o ar está limpo, os atletas e seus técnicos podem ter motivos para preocupação. A maior parte dos padrões de poluição atmosférica da China encontra-se fora das diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS). Além disso, especialistas afirmam que o índice de poluição usado pelo país para dizer a seus cidadãos se é ou não seguro respirar aquele ar - um "dia de céu azul" - apresenta inúmeras falhas. Ele utiliza apenas médias de medição para toda a capital, de forma que alguns pontos poderiam ser perigosos mesmo quando as leituras dizem que não há problema em sair à rua. E alguns poluentes preocupantes não estão incluídos no índice, afirmam os especialistas. A névoa cinzenta que pairava sobre Pequim na segunda-feira chama atenção para os problemas ainda enfrentados pela cidade. Segundo os monitores de poluição atmosférica da capital, a qualidade do ar naquele dia foi de Grau 2, o que faria dele, oficialmente, um dia de "céu azul" - apesar de, a olho nu, pouca coisa parecer diferente dos quatro dias anteriores, quando a qualidade do ar não atingiu os padrões nacionais. Muitos atletas preferiram adiar ao máximo seu desembarque em Pequim para evitar o ar ruim, e o Comitê Olímpico Internacional (COI) disse que pode remarcar algumas provas de resistência, tais como a maratona, a fim de evitar danos à saúde dos atletas no caso de haver muita poluição. O atual recordista mundial da maratona, Haile Gebrselassie, já anunciou que não disputará a prova a fim não colocar sua saúde em risco.  ÍNDICE DE SEGURANÇA  Os limites nacionais da China para os principais poluentes, que provocam, entre outros males, doenças respiratórias e danos ao pulmão, são mais lenientes do que os da maioria dos padrões da OMS e da União Européia (UE). Segundo alguns ambientalistas, isso por si só pode significar que uma boa situação aos olhos da China pode não ser o suficiente para os atletas - porque, mesmo que a qualidade do ar atenda aos padrões nacionais, ainda assim ficará abaixo dos limites da OMS. "Se o índice ficar acima dessa linha, não é necessariamente saudável", afirmou Paolo Revellino, autor de um relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Unep) sobre a Olimpíada, divulgado no ano passado. Um problema maior é o Índice de Poluição Atmosférica usado para decidir se Pequim vive ou não um "dia de céu azul" e para dar aos moradores da cidade um panorama resumido da qualidade do ar. Esse índice contém várias falhas, o que serve apenas para ampliar o efeito de padrões relativamente baixos. "Eu prefiro não me manifestar a respeito disso porque ele não é reconhecido internacionalmente", afirmou Revellino. O índice utiliza valores médios para toda a cidade e valores estimados para um período de 24 horas, o que significa ignorar bolsões e picos temporários de poluição. Não se tenta tampouco calcular o efeito cumulativo de diferentes poluentes -- então, se cada um deles estiver dentro das diretrizes nacionais, considera-se que não há problema. "O céu pode parecer azul, mas o ar pode ainda assim estar poluído. O ozônio provoca problemas respiratórios e afeta as funções pulmonares, de forma que pode prejudicar crianças, idosos e a maior parte dos atletas," acrescentou Revellino.

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