Paratletas apostam na tecnologia para superar seus limites

Entenda como funcionam as próteses e cadeiras de última geração

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Por Igor Ferraz
Atualização:
4 min de leitura

Se, nos esportes olímpicos, a tecnologia já tem um papel fundamental no alto rendimento dos atletas, nos esportes adaptados (ou paralímpicos), este tipo de recurso tem ainda mais importância. Aliada à superação e ao mérito dos paratletas, a tecnologia visa, além de aprimorar o desempenho, a deixar o usuário cada vez mais confortável e mais bem adaptado para render o máximo nas competições e voltar a realizar as tarefas do dia-a-dia normalmente. As próteses, por exemplo, utilizadas em uma série dessas modalidades, ajudam a atingir esses objetivos.

Elas podem ser utilizadas em qualquer modalidade que se encaixa na categoria "ALA" (de amputados e outros) dos esportes paralímpicos, como, por exemplo, atletismo, ciclismo, hipismo, levantamento de peso, vela, tiro, entre outros. A exceção fica por parte da natação, que não permite o uso de próteses.

Tido por muitos como o maior atleta paralímpico de todos os tempos, o sul-africano Oscar Pistorius contou com uma tremenda ajuda de suas próteses para ser o primeiro biamputado a disputar os Jogos Olímpicos contra atletas sem deficiência. Hoje, porém,  o atleta se encontra preso em seu país de origem, acusado de assassinar sua ex-namorada. Independentemente disso, as próteses de Pistorius acabaram se tornando referência, sendo batizadas de "Blade Runner" (ou lâminas de corrida). Os primeiros modelos surgiram em 1997.

Lâminas Blade Runner, de fibra de carbono, foram inventadas no ano de 1997 Foto: Divulgação|Ossur

Hoje, a principal fornecedora de próteses para atletas é a Össur, multinacional sediada na Islândia. Jairo Blumenthal, protesista formado pela California State University, nos EUA, é o diretor da empresa no Brasil. “As primeiras versões surgiram em 1997 e eram muito parecidas com os que hoje, utilizamos para caminhadas. A fibra de carbono tem a vantagem de ser muito leve, resistente e de absorver energia e retorná-la. É o material ideal para isso. Porém, a única grande desvantagem é justamente o alto custo”, explica.

“Acho que o bacana nessa história é explicar que as Paralimpíadas estão para as pessoas normais como um carro de Fórmula 1 está para um carro de passeio. Ou seja, as grandes inovações, situações mais extremas, são postas à prova em um cenário de Paralimpíadas. Tudo o que se provar benéfico naquela situação, será adaptado para as próteses do cotidiano e será incorporado”, conclui Jairo.

As próteses foram desenvolvidas por Van Phillips, também amputado quando tinha 21 anos. Fabricadas em fibra de carbono e utilizadas principalmente nas provas de velocidade, ela "imita" a ação do tornozelo durante uma corrida, ao se comprimir contra o chão e armazenar energia cinética, liberada pelo atleta no momento da descompressão da lâmina. Hoje, os pés de fibra de carbono podem ser utilizados até mesmo no cotidiano, com um desenho menos ‘agressivo’ do que o dos atletas.

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Porém, a "Blade Runner" não é o único tipo de prótese disponível para paratletas. Para os esportistas amputados acima do joelho, existe uma forma de manter o movimento natural das pernas por meio de joelhos mecânicos, melhorando ainda mais o desempenho de atletas do salto em distância, por exemplo, em que a flexibilidade e a boa impulsão dos joelhos são fundamentais.

Assim como as próteses de Pistorius, esse outro tipo de acessório também consiste em lâminas fabricadas em fibra de carbono para o lugar dos pés, por conta do pouco peso e da flexibilidade desse material. Porém, o grande segredo se encontra dentro do joelho mecânico, onde pequenos cilindros, que funcionam à base de hidráulica, dão estabilidade e minimizam a perda de energia do atleta, assegurando que toda a força gerada por ele seja empregada em sua impulsão.

Jairo Blumenthau explica como se formou o Team Össur, equipe de paratletas de alto rendimento apoiados pela empresa: “Em cada centro de ortopedia, de cada cidade, de cada país, há um paciente diferenciado, batalhador, que faça coisas legais mesmo após a amputação. Isso merece todo o apoio. Chegou uma hora que todo mundo estava usando os pés da Össur para correr e praticar esportes e o mundo inteiro pediu ajuda, contando cada um a sua história. Daí, nasceu o Team Össur.” Alan Fonteles, brasileiro campeão paralímpico nos 200m rasos, é um dos atletas da equipe.

“Hoje, para alguém fazer parte do time de elite, precisa ser recordista mundial ou medalhista olímpico. Eles serão, eventualmente, até patrocinados para ganhar algum tipo de apoio e de auxílio. Além disso, existem o que chamamos de embaixadores. Se ele não é recordista mundial ou medalhista olímpico, mas se é um ícone importante para os seguidores, ele faz parte do time de embaixadores. Eles serão um modelo a ser seguido e terão algum tipo de apoio da Össur”, explica Jairo.

OUTROS TIPOS

Há, ainda, outros tipos de próteses específicas. No ciclismo paralímpico, por exemplo, o desenvolvimento é mais recente. Utilizada pelo ciclista britânico Jody Cundy na Paralimpíada de Londres-2012, um novo modelo dispensa a necessidade de tênis, pois se encaixa perfeitamente ao pedal adaptado. Dessa forma, o atleta fica "anexado" àbicicleta. Com aerodinâmica reforçada, a peça foi feita manualmente visando aos Jogos de 2012.

Jairo Blumenthal explica a diferença entre os diversos modelos: “O grau de especialização está tão alto, que um atleta que corre os 100 metros rasos terá uma prótese diferente daquele que vai correr uma maratona. A tecnologia nos permite customizar tanto que conseguimos desenvolver produtos específicos para a modalidade que o atleta irá desempenhar. Existem as que chamamos de ‘sprint’, as de longa distância, esportes de impacto e de rotação (tênis, golfe ou lançamento de disco)... Cada modalidade exige um biotipo diferente, e os componentes da prótese também serão diferentes para cada um deles.”