Pescadores da Lagoa Rodrigo de Freitas sofrem com indefinição

Integrantes de colônia podem ser removidos de suas localidades

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Foto do author Marcio Dolzan
Por Danielle Villela e Marcio Dolzan
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Há mais de 90 anos instalada na Lagoa Rodrigo de Freitas, a Colônia de Pescadores Z13 terá que ser removida para a realização da Olimpíada de 2016. Embora reunião tenha sido realizada na quinta-feira com Bruno Ramos, subprefeito da Zona Sul do Rio, e Joaquim Monteiro de Carvalho, presidente da Empresa Olímpica Municipal (EOM), os pescadores estão apreensivos com a indefinição sobre para onde serão realocados e se poderão voltar à lagoa ao fim das competições. As provas de remo e canoagem serão realizadas no local, com o primeiro evento-teste em agosto deste ano. “Não somos contra os Jogos Olímpicos, mas queremos ter a garantia de que poderemos voltar depois”, disse Pedro Marins, presidente da Z13. Segundo ele, o Comitê Rio-2016 contatou os pescadores há um ano e meio para debater a necessidade de remoção da colônia, mas desde então nada mais foi discutido. A colônia Z13 reúne 30 pescadores que atuam na Lagoa Rodrigo de Freitas. Com técnicas artesanais, como rede de espera e tarrafa, foram pescados cerca de 55 mil quilos de peixes em 2013, último ano com estatísticas disponíveis. Tainha, robalo e cará estão entre as espécies mais comuns.

Pescadores reivindicam direito de voltar a trabalhar normalmente após Jogos do Rio Foto: Fabio Motta/Estadão

No encontro de quinta-feira, os pescadores apresentaram projeto de revitalização da colônia, que inclui os desenhos das plantas baixa e alta da atual sede, caso o espaço precise ser demolido para a Olimpíada. A subprefeitura informou que "será feito orçamento, para então buscar parceiros para a reforma”.

Os pescadores entraram com representação no Ministério Público do Estado no dia 20. O objetivo é que seja assinado Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que, além da revitalização, garanta que eles sejam remunerados no período em que ficarem afastados da lagoa, com possibilidade de serem contratados para prestar serviços de apoio aos Jogos.

Para Marins, essa opção é ideal para os pescadores. “Ninguém quer ficar parado recebendo dinheiro. Somos os verdadeiros guardiões da lagoa, estamos à disposição para tudo que pudermos auxiliar", disse ele, já aposentado, cuja família há três gerações se dedica à pesca no local.

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A EOM não comentou a retirada dos pescadores, sob a justificativa de que é um assunto relacionado ao governo estadual. O secretário estadual da Casa Civil, Leonardo Espíndola, afirmou que as demandas dos integrantes da Colônia Z13 serão analisadas. “Ninguém terá prejuízo, vamos tentar agrupar e minimizar os eventuais transtornos que a Olimpíada pode causar nas necessidades pontuais de cada um”, disse.

Esta não é a primeira polêmica envolvendo a realização das provas de remo e canoagem na Rodrigo de Freitas. A instalação de arquibancada provisória no espelho d’água com capacidade para 4 mil pessoas também foi alvo de pedidos de explicações do Ministério Público.

Para Heitor Wegmann, presidente da Associação de Moradores do Jardim Botânico, que endossou a representação dos pescadores, a instalação da arquibancada pode agravar problemas ambientais, como a mortandade de peixes. “A lagoa já vem sofrendo há muitos anos com o abandono. A revitalização seria um legado dos Jogos Olímpicos para a sociedade."

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