Polícia Federal prende grupo que se preparava para atos de terrorismo no Rio

Operação foi batizada de 'Hashtag' e acontece 15 dias antes da abertura dos Jogos Olímpicos

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Por Julia Lindner, de Brasília e e Robson Morelli 
6 min de leitura

A Polícia Federal prendeu um grupo que já estava em atos preparatórios para ações terroristas durante os Jogos Olímpicos. Foi a primeira prisão com base na lei antiterror. Dez pessoas em dez Estados já foram detidas na chamada Operação Hashtag, que pretende investigar possível participação de brasileiros em organização criminosa de alcance internacional, como uma célula do Estado Islâmico no País. Foram expedidos 12 mandados de prisão temporária por 30 dias, com possibilidade de prorrogação por mais 30. É o período necessário para a conclusão dos Jogos Olímpicos do Rio. Dois alvos ainda estavam sendo monitorados e devem ser presos nesta quinta.

A quebra de sigilo de dados e telefônicos revelou indícios de que os investigados "preconizam a intolerância racial, de gênero e religiosa, bem como o uso de armas e táticas de guerrilha para alcançar seus objetivos", informou a PF. Por questão de segurança e para "assegurar o êxito da operação", a Polícia Federal decidiu não revelar o nome dos presos. "O processo tramita em segredo de Justiça", informou em nota. Houve ainda duas conduções coercitivas e 19 buscas e apreensões nos dez Estados (Amazonas, Ceará, Paraíba, Goiás, Minas, Rio, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso). Os detidos participavam de um grupo virtual chamado "Defensores da Sharia". Uma organização não governamental (ONG) que atua na área humanitária e educacional também está sendo investigada, mas seu nome não foi revelado.

Alexandre de Moraes é o atual ministro da Justiça do Brasil Foto: MARCIO RIBEIRO

"Estamos aqui para seguir um protocolo internacional de divulgação com absoluta transparência para anunciar operação da PF. A operação começou com a integração da Abin, com a PF, com agências de informação internacionais e isso culminou na primeira ação no Brasil. Foram presos dez indivíduos que passaram de simples comentários sobre Estado Islâmico para atos preparatórios. A partir do momento que iniciaram os atos preparatórios, foi feita prontamente a atuação por parte do governo federal, que preparou simultaneamente prisões em dez estados brasileiros desses supostos terroristas que se comunicavam pela internet, por meio do Telegram e Whastapp", disse o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, ao destacar que o sigilo é importante nesse momento para a continuidade das investigações.

Em entrevista coletiva, o ministro afirmou que as investigações identificaram simpatizantes, apologistas e até mesmo membros 'batizados' do Estado Islâmico no Brasil. Por meio das redes sociais, eles já estariam realizando atividades preparatórias específicas para os Jogos Olímpicos. Alguns dos indivíduos já estariam também comprando armas do modelo AK-47 importadas do Paraguai. A inteligência da Polícia Federal rastreou o pedido e acabou efetuando prisões. "É um assunto delicadíssimo, que exige a devida transparência. Porém, a transparência não pode afetar as investigações nem a sociedade. Qualquer nova informação relevante será passada à imprensa, para que não sejam divulgadas informações errôneas que levem ao pânico desnecessário."

AK-47

Alexandre de Moraes conta como o Brasil se prepara para combater o possível terrorismo durante a Olimpíada do Rio, que começa dia 5 de agosto, com a cerimônia de abertura no Maracanã. O País vai receber chefes-de-Estado do mundo todo para a competição. "Estamos monitorando vários indivíduos, mas a partir do momento em que isso passa para atos preparatórios (de vias de fato), isso passa também para uma atuação mais drástica. "Todos os detidos são brasileiros", disse. "Isso mostra a eficácia da segurança brasileira e da integração entre Forças Armadas, Abin e PF."  O ministro comentou ainda que os suspeitos presos nesta quinta-feira foram batizados pelo Estado Islâmico, mas que não tiveram contato direto com o grupo jihadista. "O batismo de alguns dos membros foi virtual, não houve contato direto com o EI. Cerca de cinco membros do grupo suspeito de terrorismo fizeram o bastimo do EI pela internet", segundo ele. "Os suspeitos começaram a fazer treinamento de artes marciais e a se preparar com munição de armas. Um dos suspeitos entrou em contato com um site clandestino do Paraguai para comprar um fuzil AK-47, mas não há informação se ele conseguiu comprar a arma. O fato de ele estar querendo comprar o fuzil, no entanto, é um ato preparatório que deve ser combatido."

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O ministro condenou a participação dos brasileiros nesse tipo de conduta. "A troca de mensagens mostra lamentavelmente a degradação dessas pessoas comemorando atentados em Orlando (EUA) e Nice (França), lugares dos últimos atentados terroristas. De alguns dias para cá, partiram não só de atos preparatórios como para o agravamento do discurso (terrorista). Eles reafirmaram que o Brasil não fazia parte da coalizão do EI, mas consideraram que, com a proximidade da Olimpíada, o País poderia fazer parte de alvo. Nos grupos de WhatsApp e de Telegram, nenhum membro do grupo preso falava diretamente com membros do Estado Islâmico", assegura o ministro.

De acordo com as investigações, um dos integrantes do grupo chegou a dizer que gostaria de viajar para o exterior, mas desistiu por falta de dinheiro.

ESTADO ISLÂMICO

De acordo com informações do ministro da Justiça, baseado no trabalho de seus pares, a maioria dos membros dos grupos de conversas online não se conhecia pessoalmente. Alexandre de Moraes explica que a Lei Antiterrorismo permite emitir mandados de prisão por atos preparatórios, como tentar comprar arma para praticar ato de terrorismo. Os dois atos preparatórios mais fortes nesse caso são os treinamentos de artes marciais e os treinamentos de tiros. Não havia ato de financiamento. "Um líder começou a dizer que era preciso pensar em ato de financiamento. Todos os presos são maiores de idade. Não havia nenhum alvo específico até agora determinado pelo grupo suspeito de terrorismo", de acordo com o ministro. "Apreendemos muito material, mas muito ainda deve ser apurado. Nas mensagens, um menor de idade foi citado nas conversas. Eles nunca marcaram um encontro pessoal entre seus membros, e dos brasileiros com representantes do Estado Islâmico. Havia dois deles que já foram condenados e cumpriram seis anos por homicídio."

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Todas as investigações da Polícia Federal apontam para a afirmação de que o grupo brasileiro não era organizado a ponto de oferecer perigo imediato. "Não era uma célula organizada, quando partiu a ordem de treinamento, era para que cada um cuidasse por si. Continuo com a mesma avaliação de antes: temos de tomar muito mais cuidado com a segurança pública do que com a possibilidade de terrorismo (no Brasil, durante os Jogos Olímpicos do Rio). As duas possibilidades bem pequenas e que saíram do normal eram do professor francês deportado na última sexta e desse grupo."  Moraes disse também que informações sobre países envolvidos na operação é sigilosa.

Embora a tensão e a preocupação tenham aumentado com a ação da PF nesta quinta, o ministro Alexandre de Moraes destacou em sua entrevista que os suspeitos presos não aprofundaram questões para a execução de atentados terroristas nos Jogos Olímpicos do Rio, não citaram bombas, por exemplo. Destacou que foi a Justiça Federal do Paraná que emitiu a ordem judicial porque o líder do grupo era de Curitiba. "Era uma célula absolutamente amadora, sem nenhum preparo. Uma célula organizada não iria procurar comprar uma arma pela internet", entende. "Reitero, por isso a questão da segurança pública é muito mais importante e gera mais preocupação. Nenhum órgão de segurança poderia ignorar esses fatos preparatórios. E não seria de bom senso aguardar para ver", disse o ministro. A ação acontece 15 dias antes da abertura dos Jogos Olímpicos.

ALERTA

O desmantelamento do suposto grupo terrorista no Brasil não muda a avaliação do ministro em relação ao perigo de atentados durante a Olimpíada. "Não vamos esperar um milímetro de ato preparatório para agir, por mais insignificante que seja, vai ter operação rápida e dura. Mas entendo que isso não aumentou o risco, a nossa classificação de risco continua a mesma, a probabilidade é mínima de que haja ataque terrorista no Rio. A possibilidade desse tipo de ataque não é só no Brasil, é no mundo todo", ressalta o ministro.NOTA OFICIAL

O Juízo da 14ª Vara Federal de Curitiba, por meio da Seção de Comunicação Social Da Seção Judiciária do Paraná, esclarece que:

A Operação "Hashtag", deflagrada pela Polícia Federal na manhã desta quinta-feira (21/7), investiga possível participação de brasileiros em organização criminosa de alcance internacional, como uma célula do Estado Islâmico no país. Foram expedidos 12 mandados de prisão temporária por 30 dias podendo ser prorrogados por mais 30. Informações obtidas, dentre outras, a partir das quebras de sigilo de dados e telefônicos, revelaram indícios de que os investigados preconizam a intolerância racial, de gênero e religiosa, bem como o uso de armas e táticas de guerrilha para alcançar seus objetivos. Os artigos 3º e 5º da Lei 13.260, de 16 de março de 2016, que disciplina o terrorismo prevêem como crime: Art. 3º: "Promover, constituir, integrar ou prestar auxílio, pessoalmente ou por interposta pessoa, a organização terrorista" e art. 5º: Realizar atos preparatórios de terrorismo com o propósito inequívoco de consumar tal delito". Para assegurar o êxito da Operação e eventual realização de novas fases, os nomes dos presos, atualmente sob custódia da Polícia Federal, não serão divulgados neste momento. O processo tramita em segredo de Justiça.

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SEÇÃO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL JUSTIÇA FEDERAL DO PARANÁ