Preparativos para os Jogos de 2016 estão acima da expectativa

'Todos sabem que os brasileiros sabem dar uma festa' diz prefeito do Rio

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Por The Economist - Traduzido por Celso Paciornik

Os preparativos para os Jogos Olímpicos no Brasil estão sendo melhor que o esperado. Desde que Barcelona se reinventou após sua Olimpíada em 1992, as cidades que receberam o evento tentaram repetir o sucesso. A maioria fracassou, conseguindo pouco mais que uma grande – e dispendiosa – festa. Eduardo Paes, o prefeito de fala mansa do Rio de Janeiro – que será a sede da próxima Olimpíada em agosto de 2016 – ,que supervisiona o grosso dos preparativos, acha que pode fazer melhor.

"Todos sabem que os brasileiros sabem dar uma festa" diz Paes. A Olimpíada mostrará que eles também podem completar grandes projetos "em tempo e dentro do orçamento".

A afirmação será motivo de gozações, tanto de brasileiros como de fãs dos esportes de todas as partes. Atualmente, a poluição na Baía de Guanabara é tão grave que os iatistas nos Jogos correriam o risco de ter de desviar de cachorros mortos. Muitas das empresas de construção responsáveis pelas instalações para os jogos foram apanhadas no escândalo multibilionário que envolve a companhia estatal de petróleo, Petrobrás. O precedente da Copa do Mundo de futebol no ano passado não é animador. Ela custou ao contribuinte brasileiro R$ 21,4 bilhões (US$ 9 bilhões), uma soma recorde para a competição. A ira popular sobre corrupção e superfaturamento em projetos faraônicos provocou os maiores protestos no Brasil em uma geração.

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Mas há razões para acreditar que o otimismo de Paes não é somente propaganda de um político ambicioso. Uma delas é que, enquanto o governo federal jogou o maior papel na preparação da Copa, a cidade do Rio assumiu o comando na preparação da Olimpíada. O Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) do prefeito está na ponta favorável aos negócios da coalizão governante em Brasília. Entre os políticos ao estilo antigo que dominam o partido, ele se destaca como um modernizador. Paes atraiu investidores privados para arcarem com dois terços do custo dos estádios mediante parcerias público-privadas.

Desde a Copa do Mundo, o Brasil apertou os controles sobre a corrupção. Advogados da Autoridade Pública Olímpica, o órgão coordenador do governo, reportam que auditores federais recém-empossados os infernizam constantemente. Paes promete uma Olimpíada de austeridade, sem estádios novos como o Ninho de Pássaro de Pequim. Ele está contando mais com a beleza natural da Cidade Maravilhosa para impressionar os visitantes. Por enquanto, a atitude sóbria do prefeito parece estar dando o tom. Milhares de trabalhadores em macacões laranja cobertos de terra estão labutando nos locais principais na Barra da Tijuca na zona oeste da cidade e em Deodoro, no norte; duas unidades menores no centro também estão sendo aprestadas. A Via Olímpica, um bulevar na Barra inspirado no passeio com desenho sinuoso de Copacabana, já está na metade de seu planejado 1 quilômetro de extensão. Um ano atrás, um vice-presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI) chamou os preparativos no Rio de "os piores que já presenciei". Agora, o organismo que governa os jogos parece relaxado. O auditor federal disse na semana passada que as quadras de tênis e o velódromo estavam com o cronograma atrasado, mas somente em um mês. Os organizadores dizem que a construção acelerou desde a chegada dos inspetores.

Comparados com outros Jogos Olímpicos recentes, os do Rio parecem baratos. O Brasil, admite que eles custarão R$ 37,7 bilhões (US$ 12,5 bilhões). Isto cobrirá os custos operacionais e pagará instalações esportivas, conexões de transporte, usinas de tratamento de lixo e renovação do decaído distrito portuário. A contribuição de todas as três instâncias do governo será de R$ 16,4 bilhões, muito menos do que os contribuintes britânicos gastaram na Olimpíada de Londres em 2012. A Standard & Poor’s concedeu à parcimônia do Rio uma classificação de crédito que, fato incomum para um município, é um nível acima da concedida ao próprio Brasil. O orçamento para instalações esportivas saltou de RS 4 bilhões para R$ 6,6 bilhões. Por padrões olímpicos, é um aumento modesto. Se haverá um "legado" benéfico para os cariocas, este será um sistema vastamente expandido de transporte público. Este, de acordo com o chefe da Empresa Olímpica Municipal, Joaquim Monteiro, triplicará o número de trabalhadores que usam o transporte público, para mais de 60%. Por sua vez, a arena de handebol, planejada como instalação permanente, será desmantelada e remontada em quatro escolas.

Nada disso significa que os Jogos valerão o dinheiro gasto neles (raramente valem). Mas o resultado parece melhor do que poderia ser.

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Muita coisa ainda pode dar errado. Mesmo que nada dê, os críticos dos Jogos dirão que seu projeto é falho. Quando mais de 50 toneladas de peixes mortos emergiram na lagoa onde os remadores competirão, alguns culparam o esgoto não tratado que flui para ela. Paes não é responsável por isso: esgoto é da alçada do Estado do Rio de Janeiro, não da cidade. Mas isso será um pequeno consolo se os organizadores tiverem de mudar as provas de iatismo e remo para algum lugar mais limpo. Monteiro diz que a baía está "60% limpa", e quando os jogos começarem "os competidores poderão mergulhar nela sem problemas".

Grupos de defesa dos direitos humanos reclamam que centenas de famílias foram reassentadas para abrir espaço para a infraestrutura dos Jogos sem uma consulta adequada. O crime é uma preocupação. Depois do sucesso inicial, um esquema de policiamento em comunidades para "pacificar" as favelas estagnou. O escândalo da Petrobrás por enquanto não afetou as obras da Olimpíada, mas pode afetar. Uma companhia de construção envolvida no escândalo deixou de pagar parte de sua dívida em janeiro.

Orlando Santos da Universidade Federal do Rio de Janeiro assinala que a maior parte do dinheiro associado à Olimpíada está sendo investido na próspera Barra da Tijuca, que abriga apenas 300 mil habitantes dos 6 milhões do Rio. Ele teme que isso exacerbará a desigualdade, que já é alta. Se o Rio deve receber esse evento, diz, ele deveria concentrar os gastos numa região mais pobre, como fez Londres com o East End.

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Mas, com menos de 500 dias para o começo dos Jogos, o Rio parece estar se preparando para eles com a competência discreta de Paes. Eles devem prover um modesto estímulo econômico à região que é especialmente vulnerável à desaceleração do setor petrolífero. Se tudo continuar indo bem, o prefeito, cujo mandato expira após os Jogos, no próximo ano, certamente almejará algum cargo mais alto. E os iatistas competirão com vistas do Pão de Açúcar e do Corcovado.

© 2015 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS.TRADUZIDO POR CELSO PACIORNIK, PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM.