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Rumo à estação Carioca

Por MATTHEW SHIRTS
Atualização:

Na plataforma “Parada dos Museus”, da Praça Mauá, aguardo com ansiedade a chegada do Veículo Leve sobre Trilhos, o novo bondinho carioca. O clima lembra o das filas de atrações na Disneylândia. Há uma excitação no ar. Funcionários, alguns uniformizados, outros ainda não, nos explicam com gentileza e insistência que é preciso aguardar atrás da faixa amarela, que não se pode andar nos trilhos, “senhor!”, que é preciso adquirir um bilhete junto às vendedoras e recarregá-lo na máquina se quiser fazer a transferência para o metrô. A plataforma está prestes a chegar à capacidade máxima, não cabe mais ninguém, quando uma buzina anuncia o trem. A buzina é do motoqueiro que faz a escolta do VLT, andando nos trilhos à frente do veículo, abrindo alas, como se fosse este uma autoridade. Sorrio. Por vezes o Brasil é uma poesia.   As paredes do vagão são de vidro fumê. Vamos encostados uns nos outros, pelo Centro, assistindo ao movimento das ruas. À minha frente, dois colegas cariocas, um mais jovem, na faixa dos vinte e poucos, outro de meia idade, a passeio na hora do almoço, comentam o novo meio de transporte. O jovem saca o celular de repente, num impulso, e faz uma ligação: “Amor, amor, tudo bem? Amor, estou no VLT. Estou ligando de dentro do VLT.”  Ele dá um tempo, ouvindo do outro lado da linha a reposta, depois vira para o colega mais velho e diz: “Vanessa quer saber se tá bom o VLT.” Este pensa um pouco e sai com esta: “Fala pra ela que tem ar”.  “Amor, Ronaldo mandou dizer que tem ar”. É tudo que a Vanessa precisa saber, parece. A conversa termina por aí e o celular é guardado. O VLT avança pelo centro do Rio à velocidade de uma escola de samba em desfile, com direito a paradas para o recuo da bateria. Mistura-se com naturalidade ao movimento de ônibus, carros, motos, bicicletas e pedestres. Vai do Santos Dumont à rodoviária. Faz integração com o metrô. Leva aos museus. Se você tem alguma dúvida quanto à conveniência de derrubar o Minhocão em São Paulo, veja como ficou o Rio de Janeiro sem a Perimetral, por onde passa essa nova modalidade de transporte, tão bacana e pós-moderna. O VLT não tem fios aéreos e ainda vai permitir retirar da região do centro 60% dos ônibus e 15% dos automóveis, dizem. Emociona. De dentro do VLT, a Olimpíada faz todo sentido. Obriga a cidade, que já é maravilhosa, a dar uma melhorada. Alguns argumentam que o evento é custoso demais, que não faz sentido econômico. Mas tenho para mim que este nível de inspiração pública não tem preço. Até mesmo os fracassos são proveitosos no contexto olímpico. Antes da escolha da sede carioca nunca ouvira nenhuma discussão do saneamento básico no Rio fora dos círculos especializados ou ambientalistas. Com o descumprimento das metas de melhoria da qualidade das águas na baía de Guanabara e da Lagoa Rodrigo de Freitas, a questão se tornou pública e mundial. É discutida nas principais publicações do País e do planeta. Comenta-se, inclusive, que a situação é semelhante no Rio Tietê, em São Paulo, e na Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte. A atenção só pode ajudar. Sem pressão não haverá solução. Outro desafio olímpico é saber qual história contar do nosso País neste momento tão periclitante da vida brasileira. Estou ansioso para ver como a cerimônia de abertura resolve esta parada. Diante da mesma tarefa, o diretor do Museu de Arte do Rio (MAR) buscou reforços em Buenos Aires, trazendo de lá o quadro antológico da nossa enigmática identidade nacional, Abaporu, da paulista Tarsila de Amaral. Estará em exposição a partir de hoje. Vá de VLT vê-lo. A plataforma fica ao lado do museu.  Erro Meu: Na crônica da semana passada escrevi que estes seriam os primeiros jogos no Hemisfério Sul. Não é verdade. Esqueci-me de Sydney, que hospedou os jogos no ano de 2002 e de Melbourne, sede em 1956, ambos na Austrália. Peço desculpas pela desatenção.