'Sorriso precisa voltar aos brasileiros', diz dirigente da Paralimpíada
Dirigente diz que Paralimpíada vai trazer alegria ao País
Entrevista com
Philip Craven, presidente do Comitê Paralímpico Internacional
Entrevista com
Philip Craven, presidente do Comitê Paralímpico Internacional
30 de maio de 2016 | 07h00
A baixa procura por ingressos dos Jogos Paralímpicos do Rio ainda é preocupante a 100 dias da cerimônia de abertura, no dia 7 de setembro. O último balanço divulgado pelo Comitê Rio-2016 aponta que apenas 24% das 3,3 milhões de entradas colocadas à venda foram comercializadas. Uma nova parcial deve ser divulgada hoje.
Em entrevista ao Estado, o presidente do Comitê Paralímpico Internacional (IPC, na sigla em inglês), Philip Craven, reconhece que o público brasileiro não tem o costume de comprar bilhetes com muita antecedência e confia no aumento das vendas. O dirigente também fala sobre a preocupação com o vírus zika, a crise política brasileira e promete: “A Paralimpíada colocará o sorriso de volta ao rosto dos brasileiros.”
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Como o senhor analisa a organização do Brasil para os Jogos Paralímpicos?
Em nossa reunião de avaliação final do projeto, concluída no Rio há cerca de dez dias, ficamos muito felizes com o resultado, vimos muito progresso. Posso dizer que sabemos que os Jogos Paralímpicos Rio-2016 serão os melhores em termos de desempenho dos atletas. Tivemos performances incríveis nos últimos dois anos em todos os esportes. Podemos assegurar que o aspecto esportivo será absolutamente fantástico. Também é um prazer trabalhar com diferentes departamentos e setores do Comitê Rio-2016.
A venda de ingressos para os Jogos Paralímpicos está lenta. Como o senhor vê isso?
Estamos satisfeitos que a venda de ingressos aumentou recentemente. Em Londres, estávamos em uma situação ligeiramente melhor nesse momento. A venda cresce quando a tocha olímpica chega ao país-sede, isso é o que está acontecendo agora. Há 2,5 milhões de ingressos à venda para os 22 esportes e para as duas cerimônias. Esperamos que a ‘febre dos Jogos’ tome conta do Rio. O brasileiro, em geral, não compra ingressos com muita antecedência, estamos confiantes que a venda continuará a crescer.
O Comitê Paralímpico está preocupado com o vírus zika?
Penso que todo mundo está preocupado com o zika. Mas acredito que, por meio das conversas com nossos parceiros, Comitê Organizador e Organização Mundial da Saúde, alguns passos necessários foram tomados no Brasil.
O que o senhor achou das instalações esportivas do Brasil?
Fiquei muito satisfeito com o progresso que vi no último encontro, em setembro do ano passado. Como disse, nós concluímos a reunião de avaliação final do projeto e sabemos que as principais instalações estão concluídas. Talvez as coisas tenham levado um pouco mais de tempo no Rio, mas estamos confiantes de que tudo estará pronto “na noite”.
Quando o senhor acredita que o Rio estará preparado para receber os Jogos Paralímpicos?
Muitas instalações serão usadas tanto para a Olimpíada, quanto para os Jogos Paralímpicos. O mesmo se aplica para a Vila Olímpica. E nós temos necessidades similares para transporte. Então, elas estarão prontos. As mudanças serão feitas entre os Jogos.
Será preciso fazer ajustes? Como isso funciona?
Temos uma ótima parceria com o Comitê Olímpico Internacional. Há 20 anos, talvez algumas mudanças tivessem de ocorrer entre os Jogos. Mas os Jogos Olímpicos e Paralímpicos evoluíram e muito do trabalho é feito antes de os dois começarem. Algumas mudanças precisam ser feitas - nas vias, nos transportes e nos locais dos jogos - porque, é claro, os Jogos Paralímpicos são muito diferentes. A Vila Olímpica tem de estar “nova de novo”, por isso, há esse período entre os dois Jogos. Mas a maior parte do planejamento acomoda ambos, os Jogos Olímpicos e Paralímpicos.
Há alguma preocupação com a crise política brasileira?
É claro que as coisas seriam melhores se não tivessem percalços no caminho dos Jogos na frente política e na frente econômica. Temos de encarar a realidade, o que está acontecendo. Mas temos de estar confiantes de que os governos federal, estadual e, especialmente, municipal irão continuar honrando seus compromissos. É do interesse de todos. Os Jogos serão um grande sucesso, vital para as pessoas do Brasil sorrirem. O sorriso precisa voltar ao rosto dos brasileiros. Olimpíada e Paralimpíada colocarão esse sorriso de volta.
Como o Comitê Paralímpico vê a segurança no Rio?
Temos garantias na segurança, aproximadamente 5 mil pessoas serão empregadas, garantindo que os Jogos serão seguros. Será muito semelhante ao esquema que foi anunciado para a Eurocopa, na França. Minha única experiência em grandes eventos no Brasil são os Jogos Parapan-Americanos do Rio, em 2007, quando a segurança foi excelente. Espero a mesma coisa dessa vez.
Qual será o legado no Rio?
O primeiro legado será que as pessoas ficarão maravilhadas com a performance dos atletas e com a atitude dos paralímpicos. A maioria das pessoas nunca teve chance de entender isso. Nossa visão é de que os atletas sejam capazes de inspirar o mundo. O primeiro passo do legado é a transformação da atitude de todas as pessoas. Acreditamos que a Paralimpíada é o primeiro grande evento esportivo que traz mudanças positivas para a sociedade e nós somos parte dela, não estamos interessados em segregação. Estamos todos juntos para um mundo melhor, essa é a mensagem dos Jogos Paralímpicos.
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