Tecnologia aproxima judô brasileiro de ouros olímpicos

Até raios infravermelhos e sistemas de reconhecimento de voz ajudam nos preparativos da equipe brasileira

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Por Maurício Savarese
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Já passou o tempo no qual o judô brasileiro dependia de talentos individuais, que tinham como únicas ferramentas de trabalho o tatame, a faixa e o quimono. Agora até raios infravermelhos e sistemas de reconhecimento de voz ajudam nos preparativos da equipe mais premiada que o Brasil já teve nesse esporte. Veja também:Favorito no judô, João Derly quer afastar ansiedade Com informações colhidas desde o início deste ano, a Confederação Brasileira de Judô (CBJ) estruturou um amplo banco de dados com quase todos os possíveis adversários de brasileiros em Pequim, com direito a imagens digitais e softwares para reconhecer os movimentos dos atletas rivais, em uma iniciativa pioneira no país. Os dados incluem o tempo dos combates dos potenciais adversários na Olimpíada, os tipos de pegada no kimono e a forma de movimentação de cada um deles. Depois da compilação das informações, os técnicos e os judocas fazem treinamentos especiais para cada adversário que pode estar no caminho do ouro em agosto. "Olimpíada é decidida em detalhe. Nós queremos com isso ampliar o nosso arsenal. É um investimento, entre outros que estamos fazendo, que nos faz ter como meta conseguir a melhor participação do judô brasileiro em uma Olimpíada em toda a história", disse à Reuters o coordenador de seleções, Ney Wilson, durante treinamentos em São Paulo. A idéia foi testada no Pan-americano do Rio de Janeiro, no ano passado, com todos os atletas que disputaram a competição. Depois disso, os olheiros da CBJ passaram a arquivar dados de judocas estrangeiros em etapas da Copa do Mundo. Os preparativos para Pequim estão sendo feitos com dados atualizados desde janeiro, afirmou ele. O sistema já é utilizado por outras equipes do exterior, que costumam ter judocas entre os favoritos para conquistar o pódio na China: Japão, França, Rússia, Hungria, Holanda e a própria dona da casa. INVESTIMENTO As injeções de recursos, diz Wilson, geradas pela Lei de Incentivo ao Esporte e pelo patrocínio de uma estatal, se justifica porque a equipe brasileira tem três campeões mundiais - João Derly, Tiago Camilo e Luciano Corrêa - e outros talentos que podem surpreender em Pequim. "Não dá para prever resultado, porque, afinal, ninguém está repetindo resultados, sendo campeão toda hora. Mas a gente tem muita munição e ela serve para acertarmos alguns tiros. Todos os nosso atletas sabem disso", afirmou. Derly, tido como um dos maiores favoritos na categoria abaixo de 66 quilos, afirmou que essa estrutura faz o judô brasileiro começar a se estruturar em uma era mais profissionalizada, e menos dependente de talentos ocasionais. "Agora não é só um Aurélio Miguel (único brasileiro campeão olímpico em Seul-88). Temos uma geração que tem talento e que melhora não só por se destacar naturalmente, mas sim pela estrutura que está sendo formada", disse. O campeão mundial Corrêa afirmou que conhece melhor seus cinco principais adversários na categoria até 100 quilos, pois passa horas acompanhando as filmagens e estudando os dados dos possíveis rivais que o separam do ouro olímpico. "É até um bom jeito de controlar a ansiedade, porque estamos pensando ainda mais para o combate. Nós três que vencemos o mundial já estamos sendo muito visados pelos adversários e precisamos ter essa riqueza de detalhe sobre eles também." O passo que ainda falta para o melhor uso da tecnologia, diz o coordenador da CBJ, é conseguir calcular a força dos movimentos dos judocas. "Essa vai ficar para Londres 2012, porque no judô a tecnologia chegou para ficar."

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