Atletas que desejem trapacear injetando em si uma droga para melhorar o desempenho aumentando o número dos seus glóbulos sanguíneos podem fazê-lo correndo pequeno risco de serem pegos, indica um novo estudo, possivelmente expondo outra falha naquele que é considerado o programa antidoping mais rigoroso do mundo. Um teste de urina que deveria detectar a droga, e que será empregado na Volta da França de ciclismo no mês que vem e na Olimpíada em agosto, tem grande chance de falhar, diz o estudo. A substância, a eritropoietina humana recombinante, conhecida como EPO, estimula a medula óssea a acelerar a produção de glóbulos vermelhos, portadores de oxigênio. E com um maior número de glóbulos, os atletas de provas de resistência, como ciclistas e maratonistas, podem ter uma melhora no desempenho. A EPO é proibida pela Agência Mundial Antidoping, um grupo internacional que promove e coordena os esforços para impedir o doping no esporte e cujo programa é seguido pelo Comitê Olímpico Internacional. A agência defende o seu teste contra EPO e questionou este estudo recente. Embora os atletas tenham afirmado que a EPO está sendo amplamente utilizada, poucos deles testaram positivo. A maioria dos atletas associados ao doping nos anos recentes foi pega não pelos testes contra drogas, mas por investigações criminais. Na edição de agosto de 2006 da publicação Blood, o laboratório americano encarregado de conduzir os testes para EPO relatou apenas nove testes positivos entre as 2.600 amostras de urina submetidas. O novo estudo pode ajudar a explicar o porquê disto - o teste simplesmente falhou. O estudo, que será publicado na quinta-feira na edição online da publicação Journal of Applied Physiology, foi realizado no verão e outono passados por um renomado laboratório da Dinamarca, o Centro de Pesquisas Musculares de Copenhagen. Os pesquisadores deram EPO a oito jovens e recolheram amostras de urina em diversas ocasiões, antes, durante e depois de os jovens serem dopados. As amostras de urina foram então enviadas aos dois laboratórios encarregados dos testes pela Agência Mundial de Antidoping, e requisitaram a realização de testes para a presença de EPO. O primeiro laboratório considerou certas amostras positivas e algumas outras suspeitas. (Um resultado suspeito não provoca sanções por doping.) O laboratório também declarou positiva uma amostra obtida depois de o jovem em questão ter parado de tomar a droga, a qual já deveria ter desaparecido de sua urina. A sua amostra anterior, obtida enquanto ele tomava EPO, foi considerada negativa pelo teste deste laboratório. O segundo laboratório não chegou a considerar positiva nenhuma das amostras de urina enviadas, e considerou apenas algumas suspeitas de uso do EPO. Os dois laboratórios discordaram quanto a quais seriam as amostras suspeitas. As regras da agência antidoping dizem que se a urina de um atleta mostra traços de EPO, ela deve ser testada novamente por outro laboratório encarregado. O atleta é declarado culpado de doping apenas se o segundo laboratório também detectar a presença de EPO. Segundo esta regra, nenhum dos jovens sujeitos ao teste teria sido acusado pelo uso de EPO, apesar de terem aumentado o seu número de glóbulos vermelhos e de terem melhorado o seu desempenho em testes de resistência.