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Testes em vírus mostram contaminação da água no Rio

Especialistas comentam resultados de amostras dos locais de competição

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Por Redação
Atualização:

Fernando Spilki, virologista e coordenador do programa de qualidade ambiental da Universidade Feevale, em Novo Hamburgo, realizou os testes de qualidade da água pela AP. Os testes de Spilki pesquisaram três tipos diferentes de adenovírus humano que são "marcadores" típicos dos esgotos humanos no Brasil. Ele fez testes também para enterovírus, a causa mais comum de infecções do trato respiratório superior em jovens. Pesquisou ainda sinais de rotavírus, a principal causa mundial de gastroenterite.

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Os testes até agora mostram que as águas do Rio "estão cronicamente contaminadas", disse ele. "A quantidade de matéria fecal que entra nos corpos de água no Brasil é extremamente alta. Infelizmente, temos níveis comparáveis a algumas nações africanas, à Índia."

"A preocupação não é apenas com o que foi testado", disse Griffith, o pesquisador norte americano. "É muito provável que haja organismos ainda piores que não foram pesquisados e que estejam ali escondidos."

Não há falta de doenças no Rio, mas há uma grave escassez de dados sanitários referentes à água suja, disseram médicos especialistas. As doenças com frequência acometem as pessoas com intensidade, mas a maioria não procura um médico, que provavelmente lhes recomendaria hidratação e repouso. Os pacientes raramente acompanham a evolução da doença em uma clínica, dizem os médicos.

No meio de muito lixo, milhares de peixes mortos são flagrados boiando na Baía de Guanabara Foto: Reuters /Ricardo Moraes

Mundialmente, porém, o rotavírus é responsável por cerca de 2 milhões de hospitalizações e mais de 450.000 mortes de crianças a cada ano, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. Os testes encomendados pela AP encontraram o rotavírus em três ocasiões separadas nos locais de provas olímpicas: duas vezes na lagoa e uma vez na praia ao lado da Marina da Glória, de onde os velejadores sairão com seus barcos.

Kristina Mena, professora associada de saúde pública no Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Texas em Houston e especialista em qualidade da água, fez o que chamou de uma avaliação de risco "conservadora" para os atletas olímpicos que participarem de esportes aquáticos no Rio, considerando uma ingestão de 16 mililitros de água, ou três colheres de chá, bem menos do que os próprios atletas dizem que engolem. Ela disse que encontrou "um risco de infecção de 99 por cento".

"Com esses níveis de concentração viral, quer saber se eu acho que alguém deveria se expor a essas quantidades? A resposta é não." A AP também mediu a concentração de coliformes fecais, bactérias unicelulares que vivem no intestino de humanos e animais. Coliformes fecais podem sugerir a presença de cólera, disenteria, hepatite A e febre tifoide.

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Em 75 por cento das amostras colhidas na lagoa olímpica, o número de coliformes fecais excedeu o limite legal brasileiro para "contato secundário", como navegação ou remo, tendo ficado, em duas amostras, mais de 10 vezes acima do nível aceitável. A Marina da Glória excedeu o limite apenas uma vez, enquanto na praia mais frequentada pelos turistas no Rio, Ipanema, a concentração de coliformes fecais ficou três vezes acima do nível aceitável em uma única amostra. Em Copacabana, os testes da AP não encontraram nenhum excesso de concentração de coliformes fecais.

Os coliformes fecais são usados há muito tempo pela maioria dos governos como um marcador para determinar se corpos de água estão poluídos, por serem relativamente fáceis e baratos de testar e encontrar. O Brasil mede somente os níveis bacterianos para determinar a qualidade da água.

No Rio, os níveis de coliformes fecais não foram tão astronômicos quanto os níveis virais que a AP encontrou. Essa discrepância está no centro de um debate global entre especialistas em água, muitos dos quais estão pressionando os governos a adotar testes virais, além dos bacterianos, para determinar a segurança da água para atividades de recreação.

O motivo é que os coliformes fecais do esgoto só conseguem sobreviver um período curto na água, especialmente nas condições de sal e sol do Rio de Janeiro. Os adenovírus humanos, por sua vez, podem sobreviver vários meses, ou talvez até anos, segundo alguns estudos. Isso significa que, mesmo que o Rio coletasse e tratasse magicamente todo o seu esgoto amanhã, as águas ainda permaneceriam poluídas por um bom tempo.

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