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Tocha olímpica é teste para a autonomia de Hong Kong

Defensores dos direitos humanos pretendem se manifestar no evento, apesar da ameaça de punição chinesa

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Por Keith Bradsher
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A passagem da tocha olímpica por esta cidade, na sexta-feira, a primeira em solo chinês, está se transformando numa luta mais ampla sobre a evolução do papel de Hong Kong como um território autônomo da China. No último sábado, o governo de Hong Kong proibiu a entrada de três defensores de direitos  humanos dinamarqueses que esperavam protestar com a passagem da tocha, detendo-os por seis horas e depois colocando-os, à sua revelia, num vôo para Londres. Um monge tibetano foi detido ao chegar ao aeroporto no fim de semana e obrigado a voar para algum outro lugar segundo a mídia noticiosa local. Veja também:  Hong Kong avisa que não tolerará manifestações ofensivas Mas, os críticos locais da situação dos direitos humanos na China ainda pretendem se manifestar, e mais defensores de direitos do exterior devem tentar entrar no território de Hong Kong para realizarem seus próprios protestos, com destaque para a atriz Mia Farrow, que é hoje uma das críticas mais em evidência do papel da China na região de Darfur no Sudão. A Aliança pelo Apoio a Movimentos Democráticos Patrióticos da China em Hong Kong, que comemora o massacre na Praça da Paz Celestial (Tiananmen) de 1989 e defende a melhoria dos direitos humanos em Hong Kong, realizou uma pequena manifestação na segunda-feira para protestar contra a decisão do governo de bloquear a entrada dos ativistas dinamarqueses. "Realmente fere a imagem de Hong Kong como uma cidade internacional quando começamos a restringir a liberdade de acesso", disse Lee Cheuk-yan, um líder sindical, legislador de Hong Kong e vice-presidente da Aliança. Os protestos que eventualmente ocorram na sexta-feira poderão ser um primeiro vislumbre de manifestações que poderão ocorrer durante a Olimpíada em agosto. O Comitê Olímpico Internacional (COI) transferiu todos os seis eventos olímpicos eqüestres de Pequim para Hong Kong depois que Pequim não conseguiu convencer organizações internacionais de veterinários de que os cavalos trazidos para a China continental estariam protegidos contra doenças eqüinas. Grupos críticos da China agora estudam se vão realizar protestos em acontecimentos olímpicos aqui ou em Pequim. Hong Kong tem uma tradição de tolerância a protestos pacíficos, mas Pequim sediará a maioria dos eventos olímpicos, por isso os protestos lá receberão maior atenção. Contactada por telefone no domingo à noite em sua casa, em Connecticut, Farrow disse que não tinha conhecimento de outros bloqueios de defensores de direitos humanos no aeroporto. Ela ainda pretende voar até Hong Kong no fim da semana. "Acho que não temos escolha. Temos que ir", disse Farrow, presidente do conselho consultivo da Dream for Darfur, uma organização que critica a China por seus laços diplomáticos, militares e comerciais com o Sudão. As autoridades de imigração de Hong Kong têm a política de não comentar casos individuais. Mas,  funcionários disseram nas últimas semanas que todo governo tem o direito de recusar a entrada de pessoas que possam causar problemas, e negaram sugestões de que a cidade esteja aceitando ordens de Pequim. Antes de a Grã-Bretanha devolver Hong Kong ao controle chinês, em 1997, o governo chinês prometeu deixar Hong Kong gerir seus próprios assuntos domésticos, incluindo a política de imigração, com considerável autonomia até 2047. Cidadãos chineses e pessoas de descendência chinesa compareceram em grande número nos eventos da passagem da tocha de São Francisco a Sydney, e algumas vezes se enfrentaram com os críticos da política chinesa no Tibete. Três cidadãos japoneses foram agredidos quando tentavam desfraldar um estandarte a favor do Tibete na passagem da tocha por Kuala Lumpur, Malásia, mas não sofreram ferimentos graves, segundo a embaixada japonesa aqui. Manifestantes a favor da China também atiraram pedras, garrafas de água e canos de plástico e metal em críticos da China durante a passagem da tocha por Seul, Coréia do Sul, no domingo. Nos últimos dias, a agência noticiosa oficial chinesa tem exortado os cidadãos a "defender a tocha" em cada cidade do seu percurso. "Receamos ser atacados por esses nacionalistas", disse Lee, da Aliança de Hong Kong (Tradução de Celso Mauro Paciornik)  

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