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Versão brasileira das irmãs Williams prospera no badminton

Lohaynny e Luana Vicente descobriram a modalidade na favela da Chacrinha, no Rio, e hoje formam a melhor dupla do Brasil

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Por Alessandro Lucchetti
Atualização:

  • Lohaynny Vicente, uma das melhores jogadoras de badminton do país, explica com simplicidade porque começou, ao lado da irmã Luana, a praticar a modalidade, ainda pouco difundida no país. “Não tinha nada onde a gente morava. Fomos lá jogar badminton porque não tínhamos nada mais para fazer.”.As duas formam a melhor dupla do Brasil. No ranking da Federação Mundial de Badminton (BWF), estão no 54.º lugar.

As irmãs Vicente moravam na favela da Chacrinha, em Jacarepaguá, na zona oeste do Rio, onde o professor de educação física Sebastião Oliveira construiu o projeto Miratus, que hoje atende cerca de duas mil crianças e adolescentes.

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Lohaynny, 18 anos, e Luana, 20, participaram dos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, em 2011, e deverão disputar os de Toronto, em julho do ano que vem. A participação da dupla na Olimpíada de 2016 é mais difícil. Farão parte da chave as 16 melhores parcerias do mundo. No torneio feminino de simples, o Brasil tem direito a uma vaga. Fabiana Silva é a melhor brasileira no ranking – a 60.ª. Lohaynny está perto, em 64.º.

O esporte esquisito – nenhuma das duas fazia a menor ideia do que era antes de o praticarem – é hoje visto como sua salvação. “As garotas da nossa idade lá da comunidade ou estão grávidas ou já tiveram filho ou estão mortas”, diz Luana.

As irmãs Vicente são órfãs de pai, que era um chefe do tráfico de drogas local. Segundo elas, foi assassinado numa emboscada por supostos amigos em 2000. Luana tinha seis anos, e sua irmã, apenas quatro. Elas foram criadas pela mãe, que trabalha numa transportadora de valores, e principalmente pela avó, que ficava preocupada apenas com a exposição das duas ao sol do Rio de Janeiro.

“A quadra não era coberta. A gente chegava da escola, almoçava e ficava jogando até anoitecer”, conta Lohaynny, a mais talentosa das duas. Graças ao talento e à quantidade de horas em quadra, ela começou a vencer campeonatos da categoria adulta aos 12 anos. Aos 13, já estava na seleção brasileira.

As duas hoje moram em Campinas, onde está localizado o Centro de Treinamento da Confederação Brasileira, e defendem o clube Fonte São Paulo. Elas são patrocinadas por uma das principais marcas da modalidade, a Yonex, e são remuneradas pelo Bolsa Atleta. Luana é também uma das atletas da Força Aérea Brasileira – tem a patente de terceiro sargento.

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“Mesmo que a gente estudasse muito, não iríamos conseguir ganhar o que ganhamos hoje, não com esta idade”, admira-se Lohaynny.

O esporte, que era brincadeira, passou a ser visto com um olhar mais sério depois do Pan do Rio, em 2007.

“A gente foi ver os jogos de badminton e passamos a ter um pouco de esperança de que, se a gente se dedicasse, poderia chegar àquele nível”, recorda Luana.

Na edição seguinte do evento, lá estavam as irmãs. Lohaynny conseguiu chegar às quartas de final. Luana e a dupla pararam nas oitavas.

De lá para cá, Lohaynny queimou quase todo o excesso de peso que carregava, e hoje tem corpo de atleta.

“Sempre tive facilidade para engordar, e naquela época eu não tinha nutricionista ou preparador físico. Agora o esquema é mais profissional.”

Praticantes de um esporte com raquetes e negras, as Vicente começaram a ser chamadas, de brincadeira, de “irmãs Williams”. Elas gostaram do apelido e começaram a acompanhar as partidas das norte-americanas, principalmente as de Serena, dona de 18 títulos de Grand Slam e líder do ranking. Se por acaso se cruzarem durante a Olimpíada do Rio, Lohaynny já disse que vai pedir autógrafo à craque. “É claro que vamos tirar fotos e tentar conversar com ela. A Serena é top”.

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Sob o comando do técnico português Marcos Vasconcelos, as irmãs acreditam na chance de o país cumprir bom papel no badminton da Olimpíada, porém sem medalhas. “É preciso investir mais na base”, diz Luana. 

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