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Veto a estrangeiros na Olimpíada de Tóquio frustra torcedores brasileiros

Fãs de fora do Japão estão proibidos de acompanhar a competição e relatam dificuldades no reembolso dos ingressos

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Por Ricardo Magatti
Atualização:

Giscard Stephanou, 46 anos, estava animado para ir à sua segunda Olimpíada. Ele ficou frustrado com o veto do Comitê Organizador de Tóquio em relação à entrada de torcedores do exterior como forma de conter a disseminação da covid-19 no Japão, e mais ainda com a dificuldade para reaver o valor integral pago pelos ingressos.

“Tendo em vista essa questão sanitária, acho que foi uma decisão correta. A maior parte das pessoas estaria exposta e poderia aumentar o número de casos pelo mundo”, diz o servidor público, morador de Brasília. “Por outro lado, é um sentimento de frustração por deixar de ir ao maior espetáculo esportivo do planeta. O espírito olímpico acontece muito por conta do ambiente, que envolve não só os atletas, mas a torcida”.

Giscard Stephanou é um dos brasileiros que compraram ingressos para os Jogos de Tóquio e não poderão utilizar Foto: Dida Sampaio / Estadão

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Torcedor fanático do Grêmio e fã de esportes, Giscard esteve nos Jogos do Rio, em 2016, e já marcou presença em diversos eventos esportivos no Brasil e no exterior. Foi à Copa do Mundo do Brasil, em 2014, ao Mundial da Rússia, em 2018, viu a seleção vencer a Copa das Confederações em 2013 e a Copa América em 2019, e foi espectador in loco de jogos de tênis, vôlei e corridas de Fórmula 1. Agora, esperava ansioso pelos Jogos de Tóquio, mas só poderá ver pela televisão.

“É um evento grandioso, sensacional. Foi o fato de estar no Rio em 2016 que partiu a minha ideia de estar em Tóquio, Paris, e o que mais vier”, pontua. O torcedor gastou R$ 13.500 em 35 ingressos para ele e a mulher de 11 modalidades: a final do futebol masculino, tênis, basquete, vôlei, vôlei de praia, surfe, canoagem, judô, ginástica, atletismo e vela. No total, entre hotel, passagens aéreas e entradas, desembolsou R$ 30 mil. “Planejei tudo desde 2018 e comprei os ingressos em 2019.”

Giscard receberá o reembolso do hotel que reservou, terá algum prejuízo com as passagens e ainda não sabe se vai reaver todo o valor gasto com os ingressos. A Match Hospitality, responsável pela comercialização da entrada, ofereceu duas opções aos torcedores do exterior vetados de ir ao evento: crédito para compra de ingressos para outros eventos até dezembro de 2022 e a devolução do valor dos bilhetes na moeda destacada na confirmação de compra, com reembolso no cartão usado na transação original. 

A divergência está na retenção de 20% referente à taxa de conveniência dos ingressos, da qual a Match avisou que não abre mão. “Esclarecemos que a taxa de serviço é a remuneração da Match pelos serviços de intermediação que foram prestados na venda de ingressos. Para comprar ingressos de forma antecipada e segura, disponibilizamos para consulta todas as sessões de jogos para o evento, possibilitando a seleção e aquisição”, alegou a empresa suíça, que estipulou até o dia 10 para os torcedores responderem a solicitação com a opção escolhida.

O prazo apertado, de pouco mais de uma semana, também irritou quem busca o reembolso com a Match, que afirmou que os torcedores que não derem a resposta até o prazo colocado não serão reembolsados. Os pagamentos, diz a empresa, serão feitos a partir de junho.

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“É uma barbaridade essa política de reembolso”, reclama Giscard. “Se não conseguir o reembolso integral com a Match, pretendo ir à Justiça porque o evento não foi cancelado, fomos barrados de assistir não por nossa culpa, mas pela decisão dos organizadores.”

Este é o mesmo pensamento de Tiago Medeiros, 35 anos, que pagou quase R$ 15 mil por 30 ingressos para assistir a 13 modalidades com a mulher. “Acho que não podemos ficar com esse prejuízo porque não fomos nós que causamos a proibição do público”, ressalta o locutor de rádio de Brasília. “Acredito que o COI deve se responsabilizar e determinar que as empresas contratadas para venda de ingressos devolvam todo o dinheiro pago pelos torcedores.”

O adiamento dos Jogos Olímpicos para este ano foi benéfico para Bruno Datan Grachet, 31 anos, ao possibilitar que ele se planejasse para ir ao megaevento. Contudo, a pandemia não deu trégua e seus planos foram frustrados. “Surgiu uma segunda chance para eu conseguir realizar esse desejo de ver a Olimpíada e, com um tempo maior, acabei encontrando oportunidades melhores para me organizar. A esperança era que até julho de 2021 as coisas estivessem mais resolvidas”, comenta o videomaker, de São Carlos, interior de São Paulo, ciente de que o veto a torcedores estrangeiros que não moram no Japão foi uma decisão razoável.

“Claro que a gente fica chateado em não poder participar, afinal era um plano que estava fazendo há mais de quatro anos”, lamenta Bruno, que despendeu cerca de R$ 4 mil em ingressos. “Mas a segurança e a saúde das pessoas têm que ser o foco principal de todos nesse momento.” Ele é mais um que cogita acionar a Justiça caso não receba o reembolso integral.

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Retenção da taxa de conveniência pode parar na Justiça

Advogado especializado em direito do consumidor, Rodrigo das Neves Pereira explica que cada caso deve ser analisado individualmente, mas reforça que buscar a Justiça pode, sim, ser uma alternativa.

“Essa retenção de 20% se demonstra ilegal neste momento, pois o consumidor não teve qualquer contribuição para tal cancelamento, tratando-se de um caso fortuito alheio a sua vontade”, elucida o advogado. “A orientação é formalizar por e-mail ou qualquer forma escrita, preferencialmente, a sua solicitação de reembolso integral, e caso não seja atendida, será possível o ingresso na via judicial.”

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Apenas 500 voluntários poderão entrar no Japão

A presença de voluntários estrangeiros em Tóquio também não será permitida durante os Jogos Olímpicos. “Lamento muito, mas decidimos que não há alternativa senão descartar o plano”, resumiu Toshiro Muto, diretor executivo do Comitê Organizador. No entanto, existe a possibilidade de os organizadores abrirem uma exceção e permitirem a entrada de 500 trabalhadores, com habilidade específicas, como a fluência em determinados idiomas. Eles chegariam ao Japão sob regras especiais.

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Os 500 voluntários seriam selecionados em meio a um grupo de 2 mil candidatos que moram fora do Japão. Inicialmente, os organizadores planejavam empregar 80 mil voluntários, sendo que 10% do total seria formado por pessoas do exterior, enquanto o governo japonês tinha a ideia de adicionar outros 30 mil, em sua maioria vindos de fora.

Em resposta ao Estadão, o Comitê Organizador informou que divulgará o número total de voluntários apenas perto do início dos Jogos e afirmou que as sessões de treinamento com os trabalhadores terão início em abril, sendo que alguns farão as atividades à distância, virtualmente.

No entanto, “devido à natureza dos treinamentos, muitos voluntários terão que comparecer aos locais onde irão realizar suas atividades, contudo, nesses casos, planejamos tomar medidas rigorosas contra doenças infecciosas, como garantir distância física e uso de máscaras”, disse a organização. “Já delineamos as regras básicas de conduta para os voluntários em relação à covid-19 e continuaremos a estudar medidas necessárias”, completou.

O próximo passo dos organizadores será decidir quantos espectadores locais poderão assistir às provas. Foi sugerido inicialmente que a definição ocorreria nos próximos dias, mas o presidente do COI, Thomas Bach, afirmou que a decisão possivelmente será adiada para uma data próxima ao dia de abertura, 23 de julho.

Como parte de suas medidas para conter o avanço da pandemia, o Japão mantém suas fronteiras fechadas para a chegada de visitantes estrangeiros desde o final de dezembro passado e só permite o acesso ao país de cidadãos japoneses ou residentes estrangeiros.

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