30 de setembro de 2020 | 17h00
A medalhista olímpica Adriana Araújo tenta o título mundial dos pesos superleves, versão Conselho Mundial de Boxe, domingo, em Londres, diante da britânica Chantelle Cameron. Em entrevista exclusiva ao Estadão, a baiana, de 38 anos, falou sobre o preconceito superado em um esporte predominantemente machista, do pioneirismo ao conquistar o bronze em Londres-2012, revelou a determinação nos treinamentos, da força psicológica e da coincidência em retornar à capital inglesa, sua "segunda casa".
A britânica Cameron tem 29 anos e está invicta, com 12 vitórias, sendo 7 nocautes. A última luta da número 5 do ranking foi em novembro do ano passado, vitória por decisão unânime contra a argentina Anahi Ester Sanchez. Com seis vitórias, a também invicta Adriana, número 3 do mundo, lutou pela última vez em 29 de fevereiro, quando venceu a venezuelana Estheliz Hernandez. Confira os melhores momentos da entrevista
Sem dúvida. São quase 20 anos esperando, imaginando este momento. Minha vida é marcada por grandes desafios. Tive muitos obstáculos para conseguir treinar boxe, sofri muito preconceito, mas consegui superar tudo e chegar a conquistar uma medalha olímpica inédita para o Brasil. Agora é a vez do título mundial e ninguém vai tirar isso de mim. Pode ter certeza de que trarei o cinturão para o Brasil.
Londres é minha segunda casa (risos). Fui para lá em 2012 e trouxe a medalha olímpica. Agora, chegou a vez de trazer o título mundial. Os duros momentos vividos no boxe olímpico me deram a experiência que eu vou usar agora. Essa chance não poderia vir em momento melhor. Estou madura, experiente, consciente do que precisa ser feito. Pronta para ser campeã mundial.
Pode ser pouco tempo para a minha rival. Para mim, não. É a chance da minha vida. Vou entrar com tudo no ringue. Não vou perder esta oportunidade. O título virá para o Brasil. Minha preocupação é chegar bem no peso. Ou seja: não sofrer para dar o peso (63,5 quilos). Tudo bem com a balança, vou entrar completa porque meu lado psicológico está muito forte.
Sim. Eu já vi ela lutando como amadora e profissional. Ela gosta de vir para cima, mas eu estou preparada para colocar a mão forte e acabar com o entusiasmo dela. Eu me sinto muito forte, motivada, nada vai me deter. Preocupação maior deve estar do lado dela. Uma matéria recente na imprensa britânica falou muito bem de mim.
Não. Eu sabia que estava na cara do gol para disputar o título. Estava treinando e esperando a oportunidade, que, graças a Deus, veio. Chegou a hora de surpreender mais uma vez.
Eu sempre vou em busca do nocaute. Vai depender do ritmo da luta.
Este foi um período ruim pelo qual eu passei, mas que me deixou ainda mais forte. Eu digo que levanto todos os dias da mesma forma: feliz, otimista, determinada e abundante. As iniciais formam um palavrão, mas mostram a determinação que eu tenho para superar todos os obstáculos.
Espero que as coisas mudem no País. Espero poder estar em ação para ver essas mudanças. Espero poder ver as lutadoras terem respeito, patrocínio, apoio do governo. Não é possível uma atleta que é medalhista olímpica e está prestes a disputar um título mundial não ter um parceiro. Mas isso vai mudar, tenho certeza.
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