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Bia Haddad leva virada de dupla tcheca e é vice no Aberto da Austrália

Brasileira, que faz dupla com Anna Danilina, do Casaquistão, levou a melhor em boa parte da partida, mas sofreu revés em última parcial

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Por Redação
Atualização:

Foi por muito pouco: a tenista brasileira Bia Haddad, ao lado de Anna Danilina, do Casaquistão, chegou perto de vencer Barbora Krejcikova e Katerina Siniakova, da República Tcheca, no Aberto da Austrália 2022, mas levou uma virada e terminou o campeonato como vice, na madrugada deste domingo, 30. Com o placar em 6/7 (3), 6/4 e 6/4, a dupla tcheca, que garantiu medalha de ouro nas Olimpíadas de Tóquio e Roland Garros, também levou o troféu do slam australiano para casa. 

O resultado mantém Maria Esther Bueno, vencedora do título ao lado da britânica Christine Truman, em 1960, como a brasileira com melhor campanha no torneio. Apesar de não ter conseguido igualar o feito da lenda nacional do esporte, Haddad pode dizer que fez uma campanha histórica em Melbourne, pois se juntou a Maria Esther e Cláudia Monteiro no seleto grupo das únicas tenistas que já representaram o Brasil em uma final de Grand Slam.

Barbora Krejcikova, na direita, e Katerina Siniakova são parabenizadas por Anna Danilina, na esquerda e Bia Haddad Foto: AP Photo/Simon Baker

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Além disso, Bia é a primeira brasileira a jogar a decisão do Aberto da Austrália na chamada Era Aberta do tênis, iniciada em 1968. Participar da final também foi especial para Anna Danilina. Nascida na Rússia e naturalizada casaque, ela se tornou a única tenista da história Casaquistão a decidir um título de major.

Confiantes por terem chegado até lá, Haddad e Danilina não se intimidaram diante das cabeças de chave número 1 do torneio e começaram a partida muito bem, pressionando as adversárias, com protagonismo para os saques firmes da canhota brasileira. Depois de abrirem 4 a 2, chegaram a tomar a virada por 5 a 4, em meio a alguns erros, mas reagiram. No tie-break, um saque preciso de Bia fechou a vitória parcial.

Foi o primeiro set perdido pelas checas no torneio, e acabou sendo o único. A dupla europeia já começou o segundo set quebrando o saque da brasileira e construiu uma vitória por 6/4, mesmo resultado da última parcial, quando Haddad e Danilina perderam intensidade e sofreram com a inteligência e experiência de Krejcikova.

Trajetória 

Bia Haddad superou diversos obstáculos nos últimos dois anos. A tenista número 1 do Brasil em simples enfrentou uma suspensão de 10 meses por doping, mais três de afastamento causados pela pandemia de covid-19 e uma cirurgia para retirar um tumor da mão esquerda, com a qual joga. “Para mim, foi muito duro. Voltar de quatro cirurgias, doping, de um tumor no meu dedo”, afirmou a tenista em entrevista coletiva após a final. “Não é fácil ser uma promessa desde os 14 anos. Chegaram a me chamar de Sharapova brasileira. A gente vive em um país de muita cobrança, mas não posso viver minha vida pensando nos outros. Fico feliz de quebrar tabus, contribuir para o tênis feminino, mas só estou curtindo muito o momento”, completou. 

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Jogando no saibro, Bia Haddad não teve sucesso diante da eslovenaTamara Zidansek e está eliminada do WTA 1000 de Madri Foto: Morgan Sette/Reuters

Sua fase difícil começou em 2019, justamente após se destacar em Wimbledon, quando derrubou a ex-número 1 Garbiñe Muguruza. Na semana seguinte, recebia aviso de suspensão por doping. Bia provou que o resultado positivo para SARM S-22 e SARM LGD-4033 (agentes anabolizantes) era consequência de contaminação por um suplemento. Escapou de uma punição pesada, que poderia chegar a quatro anos. Mas não passou ilesa: levou 10 meses de gancho.

Ela poderia retornar em maio de 2020, mas a pandemia mudou seus planos e estendeu o afastamento por mais três meses. Como se não bastassem as dificuldades para voltar a jogar, um tumor benigno no dedo médio da mão esquerda fez a canhota parar mais uma vez, entre outubro e fevereiro do mesmo ano.

Depois de tantos contratempos, a temporada 2021 foi de superação e vitórias. Bia mudou seu treinador e passou a trabalhar com Rafael Paciaroni numa parceria com o Instituto Rede Tênis Brasil (IRTB), entidade que surgiu da união entre o Instituto Tênis e a Tennis Route. Os resultados apareceram rápido. Ela chegou a emplacar 13 vitórias e dois títulos consecutivos. Bia dedicou o vice conquistado no Aberto da Austrália para o treinador. “Para mim é muito claro as pessoas que estão comigo. No ano passado passei mais de nove meses sozinha, com meu treinador Rafael. E vocês não tem noção, a gente abre mão de tudo que vocês possam imaginar. No final acabei dedicando ali para ele, porque só quem está no dia a dia sabe”, disse a tenista.”É muita gente criticando, muita cobrança e o Rafa estava lá comigo. É um cara muito especial, o tênis brasileiro precisa ter esse cara por bastante tempo”, completou.

No total, foram 76 vitórias em 2021, sua melhor marca da carreira. Uma delas foi especial. Em Indian Wells, desbancou a checa Karolina Pliskova, então número 3 do mundo, no maior triunfo de uma brasileira na chamada "Era Aberta" do tênis, desde 1968. Até então, seu melhor resultado era uma vitória sobre a americana Sloane Stephens, então 4ª do mundo, em 2019.

A temporada 2021 só não foi melhor que 2017, quando Bia alcançou sua melhor posição no ranking: 58º. Hoje é a 83ª em simples. Nas duplas, está em 150º, mas dará um salto nesta lista, para o 41º posto.

Desde que voltou da suspensão, em setembro de 2020, Bia soma 14 finais e 10 títulos, entre chaves de simples e duplas em nível ITF e WTA. Neste ano, na preparação para o Aberto da Austrália, ela foi campeã nas duplas, jogando ao lado de Danilina, no WTA de Sidney. 

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