Publicidade

Russo Medvedev encontra outra maneira de jogar tênis profissional

Como esse tenista de elite é diferente de todos os outros jogadores de tênis? Deixe-nos contar. Mas será que ele vai conseguir ganhar um título do Grand Slam?

PUBLICIDADE

Por Matthew Futterman
Atualização:

O tênis masculino em 2021 pode parecer algo bastante homogêneo. Grandes jogadores. Grandes forehands. Grandes saques. Muitos caras aparentemente tentando rebater a bola por meio da parede atrás da quadra, mesmo com o backhand de uma mão. E também há Daniil Medvedev, um russo magricelo que proporciona inúmeras respostas à pergunta de como ele é diferente de outros jogadores de tênis.

Daniil Medvedev subiu da quarta para a terceira colocação, a sua melhor na carreira, ultrapassando o austríaco Dominic Thiem Foto: David Gray/ AFP

Por onde começar? Há o movimento de saque bizarro, em que Medvedev quica a bola duas vezes e a joga no ar sem primeiro colocá-la em contato com sua raquete (tente algum dia - é super estranho). Em uma era de físicos esculpidos, construídos para o poder, Medvedev entra em campo com uma estrutura rígida de quase 2 metros de altura e uma postura curvada que o faz parecer a criação de um caricaturista. Frequentemente, ele gosta de virar um rally furioso de ponta-cabeça com um lançamento repentino e mortal do fundo da quadra. Ou uma moonball. Ou um giro, um intrigante slice. Medvedev aperfeiçoou uma mistura peculiar e criativa de giros e surpresa. Ele parece se importar pouco em tentar ditar os termos de uma partida e mais em deduzir quais armas a partida requer e sempre em busca de um novo truque. “É nisso que trabalho na prática, ter muitas armas diferentes”, disse Medvedev no início deste mês, enquanto representava a Rússia na Copa ATP, onde os jogadores competem por seus países. “Às vezes funciona, às vezes não. Às vezes, o oponente é bom demais, às vezes você não joga bem. Depende. É tênis. ” A abordagem de Medvedev fez dele o jogador que agora atrai grandes elogios daqueles que admiram a beleza do tênis. Jim Courier, que já foi o número 1 do esporte no mundo e duas vezes campeão do Aberto da Austrália, chamou Medvedev de “metamorfo” por causa de seu talento para marcar pontos imprevisíveis e encontrar ângulos desconhecidos. John McEnroe, o sete vezes campeão do Grand Slam e analista da ESPN favorito entre os esnobes do tênis de uma geração anterior que tolerava seus acessos de raiva, disse que Medvedev era seu jogador favorito no momento. “Ele é como um mestre do xadrez”, disse McEnroe durante uma recente teleconferência. “Ele apenas brinca um pouco com a velha escola. Ele está traçando estratégias, está pensando no futuro. Esses são os tipos de caras de que precisamos. ” Resta saber se o tênis os alcança. Muitos jogadores da geração que agora chega às quadras dependem fortemente de seus saques de canhão e forehands. Além disso, Medvedev, que tem um saque estrondoso e a capacidade de rebater golpes de solo quando necessário, já tem 25 anos e ainda não conquistou um título de Grand Slam. Cada ano que passa sem um grande campeonato apenas aumentará as dúvidas sobre se sua criatividade pode prevalecer durante repetidos confrontos de cinco sets nos maiores torneios. (São necessárias sete vitórias consecutivas para conquistar um título do Grand Slam.)

Medvedev passou sua infância em Moscou e, enquanto crescia, praticava poucos esportes além do tênis Foto: William West/AFP

O próximo teste de Medvedev será na quarta-feira, quando ele enfrenta Andrey Rublev, um colega russo, amigo próximo e alter ego do tênis, nas quartas de final do Aberto da Austrália. Rublev raramente vê uma bola sem querer golpeá-la para o esquecimento, ou um ponto que não queira finalizar o mais rápido possível. Aos 23 anos, Rublev é dois anos mais novo que Medvedev e cresceu jogando torneios juniores contra ele na Rússia. Por muito tempo, Rublev, número 8 do ranking mundial, e Karen Khachanov, 24 anos, o terceiro integrante da mais recente geração de ouro da Rússia, foram melhores do que Medvedev. A ascensão de Medvedev veio em 2018 e 2019, quando ele quase derrotou Rafael Nadal na final do Aberto dos Estados Unidos de 2019. “Ele lê o jogo muito bem”, disse Rublev sobre Medvedev. “É incrível a paciência que ele tem para ficar tanto tempo nos rallies, para não ter pressa e ter seu próprio tempo, porque, no final, esses detalhes fazem dele quem ele é.” A Rússia é o único país com dois jogadores entre os 10 primeiros. Khachanov, além dos três compatriotas, está entre os 20 melhores. Aslan Karatsev, 27 anos, outro russo classificado em 114 ° lugar, veio do nada para chegar às quartas de final aqui em seu primeiro torneio de Grand Slam. Medvedev chega às quartas de final talvez com o melhor histórico de sua carreira. Ele ganhou 18 partidas de simples consecutivas. Venceu as finais do ATP Tour em Londres em novembro, usando o truque astucioso de derrotar os três melhores jogadores do mundo - Novak Djokovic, Nadal e Dominic Thiem - em um único torneio. Pela Rússia na Copa ATP, ele derrotou Alexander Zverev da Alemanha, finalista do Aberto dos Estados Unidos em 2020, em uma partida apertada de três sets na rodada semifinal. Medvedev passou sua infância em Moscou e, enquanto crescia, praticava poucos esportes além do tênis. Ele adorava a última geração de ouro da Rússia, com Marat Safin e Yevgeny Kafelnikov, que estavam no auge quando ele era uma criança. Ele se mudou para a França para treinar quando adolescente e tornou-se fluente em inglês e francês. Medvedev podia ser ouvido gritando com seu treinador, Gilles Cervara da França, em francês durante sua partida da terceira rodada contra Filip Krajinovic da Sérvia, enquanto ele desperdiçava uma vantagem de dois sets antes de se recuperar para vencer o set final, por 6-0. Enquanto Krajinovic controlava a partida no terceiro e quarto sets, Medvedev gritou para Cervara - que está proibido de exercer seu posto durante a partida - para deixá-lo sozinho e jogar em paz. Foi um flash da personalidade de Medvedev de alguns anos atrás, quando, como o próprio disse, ele "poderia enlouquecer" a qualquer momento. “Às vezes, isso ainda pode extravasar, e geralmente não me ajuda a jogar bem”, disse ele. Em última análise, não está claro o quanto qualquer orientação pode realmente afetar um jogador e um indivíduo tão idiossincráticos, alguém inclinado a seguir seu próprio caminho. Por exemplo, Medvedev tem conversado com nutricionistas a respeito de sua dieta. Ele não é tão magro por comer pouco. Na verdade, tem o apetite de um cavalo e um daqueles metabolismos que lhe permitem comer tudo que estiver à sua frente e nunca ganhar um quilo, o que é bom, porque tem uma grande queda por sobremesas. Tiramisu, torta, doce; se for doce, ele quer. “Muitas pessoas provavelmente me odeiam por isso”, disse ele. “Eu sei que com a idade isso pode mudar, então preciso ter cuidado com isso porque você nunca sabe quando isso vai acontecer.” Ele jura que reduziu a ingestão de açúcar durante os torneios do Grand Slam, mas também que tinha vários bolos esperando por ele em seu quarto para depois do torneio. Ele espera que os bolos possam esperar mais alguns dias e servir como uma recompensa para ele e seu estilo único. “Tenho 25 anos. Estou jogando um bom tênis”, disse ele. “Tenho zero Slams. / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.