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Os Guguinhas da aldeia Tenondé Porá

Por Agencia Estado
Atualização:

Muito futebol e um pouco de vôlei eram os esportes praticados na aldeia Tenondé Porã (barragem), em Parelheiros, São Paulo, até que os índios foram apresentados ao tênis, que conheciam superficialmente, apenas de ver Gustavo Kuerten na tevê. Jorge Nascimento, um professor de tênis, idealizador do Favela Open - torneio que reúne garotos de Capão Redondo, uma vez por ano - resolveu apresentar o esporte aos índios de etnia guarani. O tênis deixou de ser novidade, para ser praticado - tem atraído crianças e jovens. Os adultos ainda preferem o futebol, como explica o índio Marcílio (Karai Tataendy em guarani), que cuida da aldeia na ausência do cacique e se intitula diretor de esportes. "Os moleques estão gostando." Afirma que eles também aprendem a fazer artesanato e ouvem histórias no centro cultural da aldeia. Pará Poty é o nome indígena da garota Priscila - todos respondem Silva, quando falam o sobrenome em português -, de 14 anos, que só conhecia tênis por causa do Guga. Hoje, é a guardiã das raquetes que Jorge deixou na aldeia para os meninos irem praticando, sem uniforme e todos de pés descalços. "Achava que era difícil, mas quando peguei a raquete vi que dava para jogar", afirma Priscila, que também joga futebol com outras meninas da aldeia e estuda na 6.ª série da Escola Estadual Guarani Guyrapepá. O palmeirense Paulo (Karaimirî), de 18 anos, e o são-paulino Cristiano (Karai Zondaro), de 16, são dois dos jovens que, junto com Priscila, estão gostando do esporte. "Nós sempre vamos chamar a Priscila", contam - na verdade, vão buscar as raquetes, que ficam guardadas com ela, para jogar. Paulo conhece Yevgeni Kafelnikov, além de Guga e Flávio Saretta, e viu o vôlei do Brasil ganhar a medalha de ouro olímpica. Cristiano também acompanhou o vôlei olímpico e gosta do esporte, que também pratica na aldeia. Cal - A quadra de tênis é demarcada com cal, num canto do campo de futebol, e a rede é armada presa a paus e pedras grandes. Bolinhas de tênis já foram distribuídas cerca de 800, a maioria para crianças que mal sabem andar e aparecem apenas para ganhar o ?brinquedo?. A quadra está montada desde que Jorge começou a ir na aldeia, há dois meses. Luciano (Kuaray), de 9 anos, que Jorge apelidou Guguinha, nunca tinha visto tênis, mas também gostou. "Vou achar um Guga nessa aldeia", exagera Jorge, que não se cansa de tentar transformar uma criança carente ou de grupo socialmente excluído em um tenista de elite. Kuaray, que é bem pequeno para sua idade, joga com a raquete quebrada, sem cabo - parece se adaptar bem, em função da sua baixa estatura. Jorge é o presidente da Associação Cultural e Esportiva Favela Open e trabalha para realizar o 1.º Índio Open, dias 9, 10 e 11 de dezembro. O torneio selecionará 20 meninos e 20 meninas da aldeia para participarem do Favela Open, dias 16,17 e 18 de dezembro. A idéia é premiar os campeões com emprego de catador de bolinhas nas quadras de tênis do Harmonia e do Pinheiros. O torneio será na Favela do Buraco do Inferno, em Capão Redondo, em quadra construída com doação de uma empresa. Do Favela Open deste ano devem participar cerca de 300 garotos, que trabalham como puxadores de carroça, fazem malabares em semáforos e vivem em favelas - também haverá espaço para cadeirantes. Jorge organiza as competições com o dinheiro que arrecada de empresas, academias de tênis e marcas de material esportivo de tênis. O Favela Open já garantiu emprego - a carreira começa como catador de bolinha - a meninos como Leandro Oliveira, que está jogando tênis como federado, e José Antenor de Souza Alves, o Gato Seco, de 20 anos, que fazia malabares na esquina das Avenidas Faria Lima e Juscelino Kubitschek, em São Paulo, e está trabalhando como professor de squash.

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