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Quando Roger Federer e as irmãs Serena e Venus Williams vão se aposentar? Talvez nunca

Avanços na preparação física mantêm seus corpos no jogo, assim como a natureza mutável dos negócios esportivos e das celebridades

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Por Christopher Clarey
Atualização:

A maioria dos tenistas profissionais se aposenta por volta dos 30 anos. Mas, na semana passada, vimos Serena Williams, com quase 41 anos, enfrentando uma competidora com pouco mais da metade de sua idade por mais de três horas em Wimbledon.

Venus Williams também está aqui. Aos 42 anos, ela jogou duplas mistas, com fita adesiva no joelho direito e não muito saltitante nos seus movimentos. Roger Federer, que não joga desde que saiu mancando de Wimbledon no ano passado, pretende voltar ao tour em setembro, quando terá 41 anos. Rafael Nadal, aos 36 anos, está tentando uma campanha forte em Wimbledon e de olho no Grand Slam, após um procedimento médico que abalou os nervos de seu problemático pé esquerdo.

A tenista Serena Williams acena para o público após sua derrota na primeira rodada de Wimbledon. Foto: AP Photo/Alberto Pezzali

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Em graus variados, os maiores nomes do tênis estão seguindo em frente. Por que é tão difícil, agora que seus melhores anos já ficaram para trás, deixar o palco e relaxar com seus milhões? E não é só no tênis. Tiger Woods, com um patrimônio líquido estimado em US$ 1 bilhão, está lutando para se recuperar de lesões devastadoras na perna, aos 46 anos. Tom Brady não consegue ficar longe do futebol americano. Pessoas que trabalham regularmente passam a vida acreditando que a aposentadoria é o fim do jogo. Não é assim com os atletas profissionais.

Não são apenas os avanços na preparação física e na nutrição que mantêm seus corpos no jogo. A natureza mutável dos negócios esportivos e das celebridades está conspirando para manter as estrelas ativas por muito mais tempo do que no passado. Mas há também outro elemento que se manteve constante ao longo das gerações.

“Entendo cem por cento por que eles querem continuar”, disse Martina Navratilova, por muito tempo número 1 do ranking e 18 vezes campeã de simples que se aposentou aos 37 anos, em 1994, voltou a jogar duplas e não se aposentou de vez até ter quase 50 anos. “Você realmente gosta do esporte e percebe sua sorte de estar lá fazendo o que faz”, disse Navratilova. “É uma droga. Uma droga muito legal que muitas pessoas gostariam de usar, mas não conseguem”.

Serena Williams saiu de Wimbledon na primeira rodada pelo segundo ano consecutivo, ofegante e longe de estar na sua melhor forma. Venus Williams decidiu no último minuto jogar duplas mistas no torneio. Mas não houve anúncios sobre estratégias de saída – nenhuma data de aposentadoria em vista. "Você nunca sabe onde eu vou aparecer”, disse Venus Williams na sexta-feira, antes de ela e Jamie Murray perderem no domingo para Alicia Barnett e Jonny O’Mara no desempate do terceiro set nas oitavas de final.

Na manhã de domingo, em uma cerimônia na quadra central, Federer, que tem oito títulos de Wimbledon, mas não joga uma partida há um ano, disse que espera jogar Wimbledon “mais uma vez” antes de se aposentar. É um novo tipo de limbo para grandes campeões que já passaram do auge, mas que ainda não estão prontos para encerrar a carreira. Enquanto isso, os de fora se ocupam com especulações sobre quando vai chegar a hora. Nadal, que gerou muitas conversas sobre aposentadoria e disse que estava perto de se aposentar apenas algumas semanas atrás, por causa de dores crônicas no pé, entende que as pessoas queiram respostas mais claras. Atletas famosos “viram parte da vida de muita gente”, disse ele após avançar para a terceira rodada de Wimbledon.

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O suíço Roger Federer é um dos grandes tenistas de todos os tempos. Foto: Adrian DENNIS / AFP

Até Nadal disse que achou estranho ao ver seu amigo Woods se tornar apenas um jogador de golfe amador. “É uma mudança na minha vida também”. Mas Woods e as irmãs Williams, assim como outros astros do esporte envelhecidos e muitas vezes ausentes, continuam ativos. Pode haver incentivos comerciais para que fiquem assim. A aposentadoria oficial não encerra apenas uma carreira esportiva. Pode rescindir contratos de patrocínio e reduzir a visibilidade da estrela. “Normalmente, é preto no branco: quando você anuncia a aposentadoria, está claramente dando à empresa o direito de rescindir o contrato”, disse o empresário de tenistas Tom Ross.

Mas há exceções, disse Ross, e campeões que estão no final da carreira e têm a estatura de Federer e Serena Williams costumam ter acordos que lhes dão segurança, mesmo que se aposentem antes de o contrato expirar. Um bom exemplo são os dez anos de contrato de Federer com a Uniqlo. Ele, assim como Serena Williams, também tem o luxo do tempo. Quase qualquer outro jogador de tênis teria dificuldade em garantir a entrada nos principais torneios. Mas Federer e Williams têm acesso livre com todo o burburinho que geram – e assim eles podem escolher onde jogar.

A Nike, como Federer e alguns outros descobriram, não está inclinada a investir muito dinheiro em superestrelas próximas à aposentadoria, preferindo atletas ativos com mais carreira pela frente. Mas Mike Nakajima, ex-diretor de tênis da Nike, disse que Williams, ainda patrocinada pela Nike, estava em uma posição excepcional. Ela tem seu próprio prédio na sede da Nike. “O prédio dela é maior do que o Aeroporto Internacional de Portland”, disse Nakajima. E acrescentou: “Ela pôs as mãos em tantas coisas diferentes, tantos interesses, tantas paixões, que acho que, quando ela parar, não vai fazer diferença. Serena será sempre Serena”.

Esta semana, a EleVen by Venus Williams, sua marca de estilo de vida, lançou uma coleção Wimbledon de roupas totalmente brancas que se beneficiou do fato de Williams estar realmente jogando em Wimbledon, mesmo que apenas em duplas mistas, depois de mais de dez meses longe do tour. “Inspirada pela Serena”, disse Venus Williams.

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Navratilova, como muitas outras pessoas no tênis, acredita que Venus e Serena Williams vão se aposentar juntas quando chegar a hora. Se chegar a hora. As vantagens de anunciar formalmente a aposentadoria são poucas: um aumento temporário na publicidade e o fim dos testes de drogas aleatórios. Em alguns casos, pode iniciar o relógio da pensão ou tornar o atleta candidato ao Hall da Fama do esporte.

A aposentadoria talvez seja mais um rito do que uma necessidade. John McEnroe, por exemplo, nunca se aposentou oficialmente, um detalhe técnico que, no seu caso, permitiu que ele continuasse ganhando mais por um tempo com alguns contratos existentes.

“Bom, veja como a aposentadoria funcionou para Tom Brady: chamou muita atenção e depois ele falou, ‘Ah, mudei de ideia’. Então tá bom”, Navratilova disse com uma risada. Ela acrescentou: “Você por acaso pergunta a um médico ou advogado por quanto tempo eles ainda vão trabalhar? As pessoas enfiam pensamentos na nossa cabeça que nem deveriam estar lá”.

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Federer tem ouvido perguntas sobre aposentadoria desde que finalmente venceu o Aberto da França, em 2009, completando seu conjunto de títulos de simples em cada um dos quatro eventos do Grand Slam aos 27 anos. Venus Williams, que passou por uma queda no meio da carreira parcialmente ligada a um distúrbio autoimune, também as ouve há mais de uma década.

“Quando for o meu último, vocês vão saber”, disse ela em Wimbledon no ano passado. Navratilova não recomenda dar muito aviso prévio. Quando anunciou que 1994 seria sua última temporada, ela se arrependeu. “Se tivesse que fazer tudo de novo, definitivamente não diria nada, porque era exaustivo. Foi muito mais desgastante em termos emocionais do que poderia ter sido”, disse ela. “Para o seu próprio bem, esqueça o que isso vai fazer a favor ou contra a sua marca. Eu jamais anunciaria se não fosse a hora”.

E não era a hora. Ela voltou e acabou ganhando o título de duplas mistas do U.S. Open com Bob Bryan em sua última partida de tour aos 49 anos, um dos melhores atos finais do tênis. “O negócio é: se você gosta de jogar e ainda consegue alguma coisa jogando, então jogue”, disse Navratilova. “Venus está jogando e as pessoas dizem que ela está estragando seu legado. Não está, não, os títulos ainda estão lá”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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