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Ranking criado há 40 anos impulsionou especialização das duplas no tênis

Modalidade deixa de ser complemento de renda e passa a ter tenistas com dedicação exclusiva

Por Nathalia Garcia
Atualização:

O norte-americano Jimmy Connors liderava o tênis mundial em 1976, mas na época era difícil apontar quem era o melhor duplista em atividade. Nesse cenário, a Associação de Tenistas Profissionais (ATP) adotou uma medida simples e inovadora: a criação de um ranking de duplas. A listagem, que completou 40 anos na última semana, impulsionou a profissionalização da modalidade.

O brasileiro Carlos Kirmayr, que estreou em 1971 no tênis profissional, atingiu a 6ª posição no ranking de duplas em 1983 e encerrou a carreira quatro anos depois, viu de perto todas as transformações no regulamento. Para o ex-tenista, o ranking implementou um sistema baseado em mérito e elucidou o critério de inscrição nos torneios. Até a criação da ATP, em 1972, os tenistas entravam em contato diretamente com os diretores de torneio.

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“Quem escrevia boas cartas ou quem era de um país diferente era aceito. O diretor não tinha como checar algumas informações. A inscrição era muito frágil. Era legal para o diretor falar que tinha mais de uma nação no torneio”, conta Kirmayr.

Com premiações bem mais baixas que as atuais cifras milionárias, a maioria dos tenistas competia nas chaves de simples e de duplas nas décadas de 70 e 80. “A dupla era mais um mecanismo de recurso”, explica Cássio Motta, brasileiro número 4 do mundo em 1983. “Sempre foi uma maneira de os jogadores criarem amizade e também de ganharem mais dinheiro”, completa. Motta e Kirmayr, que fizeram história ao disputarem juntos o Masters Grand Prix de 1983, foram categóricos ao dizer que era impossível sobreviver como duplista.

À medida que o amadorismo era deixado de lado, o tênis também tornava-se mais mercantil. A consolidação de ídolos, o fortalecimento da televisão e o aumento do interesse do público foram determinantes para elevar a arrecadação com patrocínio. O volume de dinheiro se dividiu na premiação entre simples e duplas, mas não de maneira igualitária. Nesse contexto, surgiram os especialistas.

Os valores de hoje são contrastantes com os do passado. Enquanto Cássio Motta acumulou US$ 986,595 e Kirmayr totalizou US$ 570,207 durante a carreira, somando o desempenho de simples e duplas, o número 1 do mundo Marcelo Melo já ostenta US$ 3,224,963 e Bruno Soares, que chegou a ser número 3 do mundo em 2013, recebeu US$ 3,101,081 em premiação.

Atualmente, os tenistas de duplas devem participar obrigatoriamente de 12 torneios (entram na lista os quatro Grand Slams e oito Masters 1000, exceto Montecarlo), e o ranking é composto pela soma dos pontos de 18 melhores resultados no período de 52 semanas.

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Mas não foi só o tênis que evoluiu. O modelo de trabalho dos atletas mudou no decorrer das décadas. “Os jogadores se profissionalizaram. Nos anos 70, ninguém tinha técnico. Hoje todo mundo tem técnico, preparador físico e fisioterapeuta”, compara Kirmayr.

O crescimento da renda também viabilizou a criação de um fundo de pensão para os jogadores profissionais. Parte da arrecadação é destinada à aposentadoria dos atletas que disputam um número mínimo de torneios por ano. Assim, os tenistas ficam protegidos ao fim da carreira. E, para a ATP, é uma forma de garantir a movimentação do circuito.

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