28 de julho de 2013 | 18h24
BUDAPESTE - O tema que circulou com maior desenvoltura neste domingo no circuito Hungaroring, em Budapeste, antes e depois da largada do GP da Hungria, foi a eventual transferência de Fernando Alonso da Ferrari para a Red Bull, já em 2014.
A história começou depois de o empresário do piloto espanhol, Luis Garcia Abad, ter se reunido, sexta-feira, com o diretor da equipe tricampeã do mundo, Christian Horner.
Oficialmente, no encontro Abad e Horner discutiram o futuro de outro piloto espanhol e, aparentemente, capaz também, Carlos Sains Júnior, de 19 anos, filho do campeão de rali Carlos Sainz. Ele disputa a GP3, faz parte da escola Red Bull e realizou excelente treinamento com o carro de Fórmula 1 de Sebastian Vettel, em Silverstone, há dez dias.
Mas além de falar sobre Sainz Júnior é bem provável que Abad tenha perguntado se o seu principal piloto, Alonso, bastante descontente na Ferrari, como deixou claro neste domingo, depois da corrida, interessaria a Red Bull.
Por que o negócio não tem chance de dar certo? Primeiro porque mais do que Horner, o consultor e homem forte da escuderia, Helmut Marko, ex-piloto de Fórmula 1, e o proprietário da empresa, Dietrich Mateschitz, sabem muito bem que Vettel e Alonso disputariam exatamente o mesmo espaço.
Se hoje há alguma dificuldade em gerenciar a relação entre Vettel e Mark Webber, com o australiano bem menos capaz do alemão, como não seria entre Vettel e Alonso, dois superpilotos? Apesar de vez por outra algumas rusgas entre Vettel e Webber surgirem e chegarem até a imprensa, a Red Bull conquistou os três últimos campeonatos de pilotos, com o alemão, e de construtores.
Não há exagero em se afirmar que há, na escuderia, harmonia. Em especial agora que Webber já comunicou que a deixa no fim da temporada. A chegada de Alonso, cujo histórico é de não saber compartilhar o mesmo espaço com outro piloto igualmente muito competente, com certeza romperia essa harmonia. Se começasse a perder a disputa passaria a acusar a direção da Red Bull de privilegiar Vettel, como fez com Lewis Hamilton na época da McLaren, em 2007.
Mais: os números de Vettel são impressionantes. Aos 25 anos, é o atual tricampeão do mundo, em 111 Gps disputados venceu 30, proporcão elevadíssima, e largou 39 vezes na pole position. Tem o recorde de precocidade de todos os rankings históricos da Fórmula 1. Vettel é um fenômeno!
Valeria a pena desestabilizar emocionalmente profissional tão capaz, criado pela própria estrutura da Red Bull, garantia de sucesso para a equipe? Não acabou: Horner, Marko e Mateschitz ouviriam um dos pilares principais do sucesso da Red Bull, o diretor técnico Adrian Newey, fã confesso de Vettel.Os homens que comandam a Red Bull são inteligentes.
Mas além da impossibilidade da convivência pacífica entre Vettel e Alonso há outros fatores que inviabilizam o negócio. O espanhol tem contrato com a Ferrari até o fim de 2016. Se desejar não respeitá-lo terá de pagar a multa prevista. O valor é desconhecido, mas com absoluta certeza é elevadíssimo. Alonso recebe 25 milhões de euros (R$ 75 milhões) por ano, o piloto mais bem pago da Fórmula 1. Quem bancaria a rescisão do contrato? E até mesmo seu salário irrealmente elevado para a realidade da Fórmula 1?
A Red Bull? Qual a necessidade, se já tem um superpiloto, Vettel, altamente confiável na organização, conforme os números atestam?
O episódio sugere ser parte da estratégia de Abad de ameaçar a Ferrari com a saída de Alonso se, de fato, o modelo F138 não evoluir de forma significativa a curto prazo. Mas não passa de um blefe.
Acreditar que a Red Bull vai contratar Alonso é uma fantasia. Mas daquelas em que a ficção se distancia tanto da realidade que a enquadra na categoria das fábulas. Talvez tenha sido provocada pela temperatura ambiente de 34 graus no autódromo de Budapeste.
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