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Após vitória, Bia Figueiredo reforça: só pensa na Indy

Brasileira divide dia de estrela após vencer com rotina de quem vive longe da família e só pensa em corridas

Por Milton Pazzi Jr
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Mulher, 23 anos, mora sozinha e convive o dia todo cercada por engenheiros e mecânicos, discutindo sobre suspensões, downforce e estratégias de corrida. Desde os oito anos Bia Figueiredo - ou Ana Beatriz, como se identifica nos Estados Unidos - deixou claro que gostava de automobilismo e convive com isso. Desde sábado ela passou a ser encarada como uma vencedora. A vitória no GP de Nashville da Indy Lights (categoria de acesso à Fórmula Indy) foi a primeira de uma brasileira em categoria internacional, fora da América do Sul. De aposta, ela pode ter passado a realidade, pois está na briga pelo título da temporada, que seria um feito ainda maior. Mas esse não é o único objetivo. "Meu foco agora é a Indy. Neste momento, é a Indy. Agora só penso nisso", diz. Com certeza a pergunta que ela mais respondeu é a comparação com Danica Patrick, a musa da Fórmula Indy e que neste ano também venceu sua primeira corrida. "Eu não sou a Danica Patrick, nunca vou ser ela. Sou a Bia, não sou o Tony Kanaan também. Quero ser sempre a Bia", responde, objetivamente. No dia seguinte à conquista do inusitado troféu, uma guitarra, não faltaram entrevistas, por telefone ou pessoalmente, atrapalhando o tempo para arrumar a casa - mora sozinha, em Indianápolis, a meca do automobilismo norte-americano. "Foi legal essa vitória. Tenho de aproveitar isso e manter a atenção no campeonato, brigar até o fim pelo título. Nada é impossível, tem de acreditar sempre", é o discurso. "Agora entendi como faz (risos). Desde Iowa, quando cheguei no pódio pela primeira vez. A equipe tem ensinado bastante". É assim que ela analisa o fato de ter vencido pela primeira vez e num tipo de circuito pouco comum ao público latino-americano: o oval. Ela aponta o amadurecimento como motivo para isso. "Era mais impulsiva. Por causa disso perdi aquele título de 2005 [na Fórmula Renault, quando foi vice]. Agora sou mais calma, tenho mais experiência, mais conhecimento do carro e do mundo fora das pistas. É um outro nível. Ano passado fiquei sem correr, dei um valor enorme a correr. Mudei bastante". VIDA Natural de São Paulo (SP), ela trocou Taboão da Serra e a A1GP, onde era reserva, para correr nos Estados Unidos. E afastou o sonho de correr na Fórmula 1 - o motivo é o custo para investir na carreira. Sem arrependimentos, mas sem esquecer disso. Só diz não se preocupar agora. "Está sendo um ano muito especial. Estou em terceiro no campeonato com chance de vencer. Estou pensando neste ano, o André Ribeiro [empresário] no ano que vem". A nova vida, sozinha, numa cidade estranha, numa língua diferente, Bia diz não ser problema. "Moro sozinha. Estou gostando muito, estou aqui desde janeiro, tem todo o pessoal da equipe. Consegui fazer amigos aqui, final de semana livre consigo sair aqui. Tem um 'mix' de brasileiros e americanos. Você aprende a se virar sozinho, no Brasil é mal acostumado, sempre tem quem lave roupa, cuide da casa. É um amadurecimento. Põe a cara para bater e aprende muitas coisas". TRABALHO O dia a dia com a equipe Sam Schmidt ela conta ser de aprendizado. "Tenho muito a aprender. A equipe tem um simulador de videogame que ajuda muito", explica, sobre como tem trabalhado na preparação para as corridas. E o acerto do carro, encarado como trabalho de homem, é visto como aprendizado. "O carro de Indy Lights tem umas coisas para mexer, a cada corrida aprendo uma coisa sobre ele. É muito importante comunicar com o engenheiro e entender o que ele vai fazer com o carro. Não sou do tipo que chega no boxe e fala quero que mude isso, aquilo. Não sou o engenheiro". A rotina após vencer uma corrida não deve mudar muito, só os elogios e parabéns, além de fotos e entrevistas. Quarta ou quinta ela viaja para Mid-Ohio, já que treina na sexta e tem corrida no domingo. E não terá folga. "Tem bastante coisa para fazer depois da primeira vitória", completa Bia, lembrando que pode ser só o começo.

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