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Cidade revela semelhanças de idiomas

Palavras usadas na Malásia têm origem no português, como tempo, roda, "cadera", "bandera", tinta e várias outras.

Por Agencia Estado
Atualização:

Na mais bem equipada, funcional e elegante sala de imprensa dos 17 circuitos do calendário, na Malásia, é comum ouvir das meninas que prestam serviços, palavras que soam absolutamente como em português, a exemplo de tempo, roda, "cadera", "bandera", tinta etc. Vestidas como exige o islamismo, religião predominante no país, elas desfazem o mistério quando questionadas: influência ainda da invasão portuguesa em Malaca, no século XVI, cidade portuária distante 90 quilômetros apenas da pista. Quem se interessa por ver de perto onde essa história começou, iniciativa facilitada pela existência de uma bela auto-estrada ligando os dois locais, se surpreende ao ver que o Michael Schumacher dos mares de Portugal, o valente general Alfonso de Albuquerque, ganhou da comunidade lusitana, ainda hoje ativa, uma réplica da sua Ferrari, a nau "Flor do Mar." Em 1511, logo depois da descoberta do Brasil, os portugueses invadiram o estratégico porto de Malaca, visando controlar o importante comércio que se estabelecera com o oriente, a partir do momento em que Vasco da Gama, 13 anos antes, demonstrou ser possível chegar à Índia por mar. Até perderem Malaca para os holandeses, em 1647, Portugal ganhou muito dinheiro com o seu entreposto ultramarino avançado, como faz Schumacher, o piloto mais pago da Fórmula 1. Ele é alemão, mas mora na Suíça e seu salário de cerca de US$ 40 milhões por ano é pago por italianos, da Fiat, norte-americanos, da Philip Morris, e ingleses e holandeses, da Shell. Mais exemplos de palavras assimiladas pelo malaio e que tioveram origem no português: bola, "kantar", pombo, tambor, "sabtu" (sábado), "sabuu" (sabão), "meja" (mesa). Se algum piloto for muito lento dos treinos e na corrida, que com certeza não será Michael Schumacher, como não foi Alfonso de Albuquerque na tomada de Malaca, as moças da sala de imprensa já escolheram um apelido para ele: "Tata-ruga." George Alcantra, 54 anos, é um dos líderes da comunidade portuguesa em Malaca. Próximo do seu restaurante, cujo nome não deixa dúvidas sobre o cardápio, Lisboa, é possível visitar o que restou da fortaleza "A Famosa", construída por Albuquerque logo depois de estabelecer sua cabeça-de-praia na cidade. Das quatro torres edificadas em pedra, apenas uma sobreviveu. Aqui é preciso reconhecer: Schumacher foi mais modesto. Sua mansão em Vufflens-Le-Chateau, no lago de Genebra, não tem a estrutura de casamata do forte. Talvez apenas porque os tempos sejam outros. Como no lago em frente à casa do piloto, também se pesca no mar do estreito de Malaca. Nos dias claros, vê-se do Portuguese Settlement, o bairro da comunidade, a ilha de Sumatra, pertencente à Indonésia, que compõe com península malaia o estreito de Malaca. Francisco de Mello, Rony Monteiro e João Rodrigues são pescadores do lugar. "Vergonha" alegam, para não conversar em português. Preferem o malaio ou o inglês, línguas oficiais da nação. Já Alcantra parece ter orgulho em dominar o idioma de seus antepassados. "Falamos o português do século XV e XVI que, claro, já não existe mais." De fato, sua forma de expressar-se, com o uso de vocábulos próprios e construções nada comuns, por vezes difícil de se compreender, a exemplo do inglês de Michael Schumacher, aproxima quem o ouve dos diálogos a bordo de caravelas e naus, conduzidos daquela forma. Fica apenas uma questão em aberto para completar as muitas similaridades: será que Schumacher, nas conversas por rádio com a equipe, também recorre ao inglês da época do rei Arthur, ao alemão dos tempos de Bismark ou ainda ao italiano falado por Leonardo da Vinci?

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