Fernando Alonso não precisa vencer ou mesmo classificar-se em segundo, domingo, no 34.º GP do Brasil, para conquistar o seu primeiro título mundial. Mas nesta sexta-feira, depois do primeiro treino livre, terá uma idéia mais precisa do que necessitará fazer para acompanhar com certa proximidade o favorito para ganhar a corrida, Kimi Raikkonen, da McLaren, e dar a sua equipe também, a Renault, o primeiro campeonato de pilotos. "Interlagos é um circuito estranho. A Williams não estava andando nada, ano passado, e venceu aqui. Não me surpreenderia se, agora, a própria Williams ou a BAR entrassem na luta pela vitória com a Renault e a McLaren", disse o espanhol. Quem for ao autódromo de Interlagos, nesta sexta, assistirá à McLaren concentrada apenas em levar Raikkonen à vitória e a Renault em permitir que Alonso receba a bandeirada num caso extremo em terceiro, o que já lhe garantiria o título. "Não tenho nada a perder", falou o finlandês, com 86 pontos, diante de 111 de Alonso. O asturiano já não esconde sua estratégia, apesar de na semana passada ter declarado que viria a São Paulo para ser campeão com uma vitória. "Faltam-me seis pontos para ficar com o título. Se eu for 7.º aqui, no Japão e na China pronto, defino o Mundial." A imprensa britânica irá adorar sua colocação desta quinta. Vem publicando, com regularidade, que Alonso não merece ser campeão "porque não corre para vencer." Foi segundo nas três últimas etapas. O espanhol já respondeu: "Se tenho 25 pontos a mais que Kimi é porque fui 25 pontos melhor que ele. Não tenho culpa se Kimi não conseguiu terminar algumas provas." O que nem todos se interessam é pela disputa entre as montadoras pelo título de construtores. A Renault mantém-se em primeiro desde a abertura da temporada, com 152 pontos, mas a McLaren está perto, 146. A Mercedes é dona de 40% da McLaren. Vencer essa competição significa, em geral, experimentar crescimento na venda de seus carros de série e justificar, em parte, os cerca de US$ 300 milhões que cada uma investe nos seus projetos de Fórmula 1. Domingo, cerca de 65 mil pessoas acompanharão, na melhor versão do autódromo já vista, a disputa entre Alonso e Raikkonen pelo Mundial de Pilotos e Renault e McLaren pelo de Construtores. "Só temos ingressos, agora, e poucos, nas bilheterias", disse, nesta quinta, Tamas Rohonyi, da Interpro, promotora e organizadora do evento. Ano passado, lembrou o empresário, o GP Brasil foi o último do calendário, os dois campeonatos há muito já estavam definidos e os ingressos se esgotaram. "Depois de 34 anos de Fórmula 1 no Brasil, os brasileiros se educaram a apreciar a Fórmula 1 como um esporte, independente de ter um representante em condições de vencer ou não", diz Rohonyi, para justificar o elevado interesse pela prova. Rubens Barrichello, da Ferrari, Antonio Pizzonia, Williams, e Felipe Massa, Ferrari, demonstraram resignação. "É realista pensar que tenho chances de marcar pontos." De uma maneira ou outra, os três disseram a mesma coisa. Portanto, resgatar um pouco daquela inesquecível vitória de Ayrton Senna na edição de 1993, com McLaren, a última de um brasileiro no GP Brasil, parece um sonho distante. "A não ser que seja uma corrida daquelas, até comuns aqui, com chuva, sol, chuva de novo", previu Rubinho.