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Empresário nutre paixão pela F-1

Fanático pelo circo da Fórmula Um, paulistano Ricardo Tomaz Trópico dá dicas pela Rubinho de como vencer neste domingo em Interlagos.

Por Agencia Estado
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No início dos anos 70, todo brasileirinho já nascia com uma vocação: ser torcedor de futebol. O Brasil, tricampeão mundial, era motivo de orgulho nacional. O paulistano Ricardo Tomaz Trópico fugiu a essa regra e desde pequeno optou por acompanhar o avô, um apaixonado por motores. Para desgosto do pai, um ex-jogador de futebol e corintiano roxo, trocou a bola pela graxa e cresceu em meio às engrenagens e aos roncos dos carros. Virou um fanático pela Fórmula 1. Neste domingo, em Interlagos, ele será um rosto anônimo entre os 70 mil espectadores previstos para o Grande Prêmio do Brasil. Vai estar torcendo especialmente para Rubens Barrichello, que deve chegar em primeiro, segundo suas previsões. Na segunda-feira, ele sonhou que o brasileiro ganharia. Acordou agitado e só sossegou quando enviou um e-mail para Barrichello, dando as dicas de como vencer: "Na hora do grid de largada, ele tem de pedir para o chefe inspiração para a prova." Chefe é o apelido de Ayrton Senna, o ídolo dos ídolos de Trópico. Se vencer, espera que o piloto atenda a seu pedido: uma roda usada da Ferrari. Na quinta-feira à noite, o empresário, fabricante de placas de veículos, misturava-se a outros fanáticos pela F-1 no saguão do Hotel Transamérica, onde se hospedam a maioria dos pilotos e mecânicos. Para ele, tirar uma foto junto de um piloto é uma tradição. "Parece uma coisa besta, mas a gente vem assim mesmo", admite. Nos últimos anos, sempre está lá, câmera na mão. "Eles já nos reconhecem", afirma. "No ano que vem, é só vir com a foto tirada desta vez e eles autografam para nós." Em sua casa, na zona leste de São Paulo, há uma porção delas, incluindo uma que considera especial, ao lado de Senna. A vida de Trópico é uma feliz coincidência com o mundo da F-1. Ele e o GP Brasil têm exatos 30 anos. Em 1991, exatamente quando Ayrton Senna ganhou pela primeira vez a prova em Interlagos, ele conheceu pessoalmente o piloto. Ex-funcionário do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), recebeu a tarefa de emplacar carros de uma concessionária. Chegou numa loja da Audi e encontrou o seu ídolo. "Quase caí de costas. Meu coração disparou e só pude ouvir ele dizer para caprichar no serviço." Caprichou tanto que ganhou a admiração do piloto. Desde então, Senna sempre pedia para chamarem "aquele rapaz" das placas. "Era um cara simples, simpático. Na primeira vez, até deu uma boa caixinha." Quando o piloto morreu, foi um dos milhões de presentes no funeral em São Paulo. A admiração só aumentou. Primeiro, começou a expandir sua coleção de miniaturas Minichamps de carrinhos, a maioria de Senna. Depois, foram os bonés, as camisetas das equipes e os capacetes em miniatura. Em 1998, decidiu procurar o criador dos capacetes do ídolo e tantos outros pilotos brasileiros. Ganhou a amizade do designer Sid Mosca. Foi na loja dele que conheceu, há pouco tempo, Barrichello. Trópico guarda a sete-chaves o seu maior troféu, o capacete original de Ayrton Senna, pintado pelo designer. "Se me oferecessem US$ 5 milhões, eu não venderia. Nem pelo prêmio da Mega-Sena acumulada eu venderia", garante. Em respeito, diz que nunca vestiu o capacete, nem nunca o fará. "A minha mulher vai ter que me enterrar com ele", afirma. Fernanda Machado, de 28 anos, diz que não sente ciúmes dessa outra paixão do marido. "Já é uma rotina dele, me acostumei." Até o sócio Helio Rabello, de 40, compreende essa fascinação: "Não sei se pode chamar isso de fanatismo. Acho que é só um desejo enorme de estar próximo desse mundo." O sonho de ser piloto surgiu antes mesmo de aprender a dirigir, aos 14 anos. Como não conseguiu realizá-lo, o empresário contentaria em dar uma volta em Interlagos. Ou ainda fazer com que o filho Guilherme Machado, de 1 ano, abrace a vocação. "Isso é de matar o velho do coração", protesta o eletricista Pedro, avô do menino. Mas não tem jeito. Trópico já comprou o macacão do Senninha para Guilherme, decorou o quarto dele com fotos do ídolo, tirou inúmeras fotos com o menino dentro de carros da F-1, na loja de Sid Mosca, e não se cansa de presenteá-lo com mimos do automobilismo. Para acostumá-lo desde pequeno, garante. A exceção fica por conta de uma miniatura de uma Lotus de Senna, que foi comprada por R$ 180 e hoje vale R$ 2.500. "Foi uma tiragem limitadíssima", explica. Golpe de sorte e de quem acompanha dia-a-dia tudo o que diz respeito à F-1. Para o GP Brasil, terá de acordar cedo para estar no autódromo já às 4 horas, acompanhado de 6 amigos. É com essa turma que, em cada prova, troca informações, fala da expectativa para a corrida e faz palpites. "A semana que antecede o GP é uma adrenalina só." Cada um pagou R$ 178 pelos ingressos válidos para os três dias da corrida. Se tudo der certo, vai comemorar em dobro a vitória de Barrichello, com Michael Schumacher em segundo e David Coulthard, terceiro. Mais que isso, acredita piamente que a vitória será dele também, já que viu primeiro, no sonho, a bandeirada final para o brasileiro.

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