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F-1: mais veloz e mais perigosa

Por Agencia Estado
Atualização:

Pole position do GP da Austrália, estabelecida por Michael Schumacher, sábado, com Ferrari: 1min26s892. Pole position da mesma prova no ano passado, conquistada por Mika Hakkinen, da McLaren: 1min30s556. Em apenas uma temporada a Fórmula 1 tornou-se 3 segundos e 664 milésimos mais rápida. Resultado: apesar do aumento da segurança passiva dos carros, com a maior exigência nos testes de resistência (crash test), a competição tornou-se menos segura. Já na primeira corrida do campeonato, Michael Schumacher, na sexta-feira, Luciano Burti, sábado, e Jacques Villeneuve, neste domingo, sofreram acidentes espetaculares. "Concordo com essa tese", disse neste domingo Burti. "Os carros estão passando pelos mesmos pontos de curva do ano passado só que 20 km/h mais rápidos." O limite da Fórmula 1 está mais alto, mas ao mesmo tempo a margem de "negociação" para manter o carro sob controle diminuiu. "A partir do momento que o piloto perde esse controle, não há mais nada o que se fazer, a não ser torcer para o impacto ser o menor possível" falou Schumacher sábado, depois de capotar duas vezes. Neste domingo, Jacques Villeneuve fez, por alguns instantes, muita gente da Fórmula 1 pensar no pior. Mas a exemplo dos sérios acidentes de Schumacher e Burti, ele saiu tirando poeira do macacão. "Fizemos avanços enormes na segurança", afirmou. Na quinta volta do GP da Austrália, o canadense da BAR se aproximou da Williams de Ralf Schumacher, a fim de tentar ultrapassá-lo na freada da curva 3, onde os carros chegam em 6.ª marcha a cerca de 280 km/h. O que se seguiu assemelha-se muito com a dinâmica do acidente que matou o pai de Jacques, Gilles Villeneuve, no circuito de Zolder, na classificação para o GP da Bélgica, no dia 8 de maio de 1982. "Ralf deslocou o carro para a direita e sem que eu esperasse freou. Tentei desviar da sua traseira mas estávamos próximos demais", disse Jacques. Sua BAR bateu com violência na traseira da Williams e decolou na direção do muro lateral. "Fiquei preocupado porque achei que poderia bater a cabeça em algum lugar", contou o canadense, como sempre muito frio. Seu carro voou cerca de 200 metros, até parar na caixa de brita, mas sem colidir em nada, a não ser raspar a parte de baixo na cerca de metal existente sobre o muro. Parecia que uma bomba havia explodido no local. Pedaços dos dois carros espalhavam-se por toda parte. Foi uma roda da BAR de Jacques que matou o comissário de pista. No ocorrido em Zolder, Gilles tentou também desviar, com sua Ferrari, da March do alemão Jochen Mass. E como Jacques, não conseguiu e, ao bater, decolou. Em razão da Ferrari adotar um sistema de fixação do conto de segurança impróprio, Gilles foi arremessado longe, causando o traumatismo craniano que o matou. "Eu esperava que Ralf freasse bem depois, no ponto em que eu normalmente faria, mas por algum motivo ele começou a brecar antes", declarou o canadense, sugerindo que o piloto da Williams não foi correto. Ralf se defendeu: "Freei exatamente no mesmo ponto da volta anterior. Não quero acusá-lo, mas ele errou." As imagens gravadas com a câmara de bordo da BAR condenam Ralf. Todos os pilotos iniciavam a frenagem ali depois da placa dos 100 metros. O registrado pela câmara mostra Ralf brecando entre a placa dos 150 e dos 100 metros, portanto antes do que ele próprio estava fazendo. A direção de prova classificou tudo como um "acidente de corrida" e não puniu ninguém. Desde que estreou na Fórmula 1, em 1996, Jacques já sofreu quatro acidentes graves. Dois na curva mais desafiante do calendário, a Eau Rouge, em Spa, na Bélgica, a cerca de 270 km/h, em 1998 e 1999, outro em Magny-Cours, na França, em 1997, na saída da veloz curva Estoril, e neste domingo na curva 3 do circuito Albert Park, também em altíssima velocidade. Em nenhum deles teve qualquer parte do corpo atingida. "Por que eu iria me preocupar em me ferir se no ano passado não me fiz nada lá mesmo", afirmou Jacques, em 1999, depois do seu último aparavorante acidente na Eau Rouge. Jacques passa a nítida impressão, pelos riscos que assume e postura depois das quase tragédias, de se sentir imortal.

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