Há várias opiniões, de profissionais experientes da Fórmula 1, que coincidem quando a questão é a análise do piloto Michael Schumacher. Por exemplo: há quase um consenso quanto a sua incrível vontade ainda de vencer, depois de 12 anos de Fórmula 1. Mais: sua capacidade de fazer o time crescer com ele. Curiosamente ninguém aponta, nem mesmo seus colegas, nenhuma característica de piloto em especial em que ele se sobressaia demais. Seu segredo é a média altíssima em todos os fundamentos que formam um campeão. "Michael é tão grande quanto Juan Manuel Fangio", diz Flavio Briatore, diretor da Renault, e responsável por lançá-lo na Benetton, em 1991, sob inspiração de Bernie Ecclestone, que há muito buscava um piloto alemão para a Fórmula 1. Para Niki Lauda, os números são claros: "Michael é o primeiro nas estatísticas, é o melhor de todos hoje, mas não devemos compará-lo a outros pilotos de épocas distintas." Lauda diz mais: "Vejo todos falarem de Fangio e Schumacher. Fangio parava no box, ia fazer xixi, voltava e os mecânicos ainda estavam trabalhando no seu carro, no pit stop. Dá para associar com a Fórmula 1 de hoje?" Damon Hill já disse sobre Schumacher: "É uma pessoa de quem jamais serei amigo." Seus desafetos são muitos: "Nunca dividirei a equipe com ele porque de uma forma ou de outra quer tudo para si. O outro piloto tem necessariamente de trabalhar para ele, o que é ridiculo", afirma Jacques Villeneuve. Eddie Irvine foi seu companheiro na Ferrari de 1995 a 1999. "Para mim ele é o melhor ainda que sem o carisma de Ayrton Senna. Imagino que como pessoa não agrada muito os seus fãns. Montoya é econômico: "Ele não é invencível. Rubens está demonstrando isso." Peter Sauber faz uma análise mais profunda do piloto alemão, agora cinco vezes campeão do mundo. Schumacher pilotou para ele em 1990 e parte de 1991, no Mundial de Esporte-Protótipos, com carros Mercedes. "Acho que pela primeira vez, desde que Michael está lá, a Ferrari tem um carro realmente superior a todos os demais", diz. "Além disso, Michael é o máximo em cada parâmetro de desempenho de um piloto, é o mais completo de todos. Essa combinação torna praticamente impossível vencê-lo." O diretor-esportivo da Mercedes, Norbert Haug, é seu amigo pessoal. Foi a empresa que investiu dinheiro na sua formação como piloto e até para estrear na Fórmula 1, com a Jordan. "Michael é um pacote perfeito, em todos os ingredientes. E hoje é extremamente maduro também." A carreira de sucesso de Schumacher está ligada à do engenheiro mecânico inglês Ross Brawn, diretor-técnico da Ferrari. Os cinco títulos do alemão contaram com a importância do trabalho de Brawn. "Eu peço a ele para virar em um minuto e 19 segundos para nossa estratégia dar certo e ele faz, sem errar. E as vezes esse limite é muito alto, mas mesmo assim ele cumpre. É o piloto mais extraordinário que conheci e o mais fácil de se lidar." Outro engenheiro inglês, Pat Simon, cuidava de seu carro na época dos títulos com a Benetton, em 1994 e 1995. "O que mais me chama a atenção nele é sua força mental, que explica em boa parte sua força física e habilidade como piloto." Luciano Burti é hoje piloto de testes da Ferrari. "Nos falamos por telefone depois de cada treino que faço, ele quer saber de todos os detalhes, o que me impressiona. Para alguém do nível dele e com as conquistas que já tem, acompanhar tudo de perto é porque ainda sua motivação é altíssima." Como para outros pilotos, não há, segundo Burti, nada em especial no alemão. E ele pode responder com precisão porque dispõe de toda a telemetria da Ferrari para compreender a fundo Schumacher. "Ele é muito bom em freada, curva de baixa, de alta, a média dele é alta em todos os parâmetros, por isso Schumacher é tão eficiente." O ex-empresário de Jacques Villeneuve, o escocês Craig Pollock, aborda uma questão delicada: seu caráter. "Além do seu grande talento, é inteligente, o que em geral não ocorre na Fórmula 1. Pena eu não poder falar o mesmo de seu caráter." Lançar sua Benetton de propósito, em 1994, para pôr Damon Hill, da Williams, para fora da pista e ficar com o título, e a mesma tentativa, embora desta vez sem sucesso, de fazer o mesmo com Jacques Villeneuve, em 1997, na Espanha, ficarão marcados para sempre na sua carreira. Por mais que Michael Schumacher tenha mudado.