Há muito de Ecclestone na candidatura de Ward à presidência da FIA

PUBLICIDADE

Por Livio Oricchio
Atualização:

NICE - Jean Todt, francês, 67 anos, terá um adversário para a sua releição à presidência da FIA, em outubro. É o inglês David Ward, de 56 anos, até há pouco diretor da Fundação FIA, destinada a organizar programas de segurança no trânsito e preservação ambiental. A candidatura de Ward, no entanto, não pode se vista apenas como a iniciativa de um cidadão bem formado na área automobilísca e com intenções de tentar realizar melhor trabalho que Todt. Ward entra no páreo numa condição muito semelhante à que levou o inglês Max Mosley também a se lançar na disputa e surpreender a quase todos, em 1991, ao vencer o franco favorito Jean-Marie Balestre, francês também.A chegada de Todt à presidência da FIA, em outubro de 2009, trouxe de volta a filosofia de Balestre, oposta a de Mosley. Na área esportiva, a escola francesa impõe que FIA e Formula One Management (FOM), de Bernie Ecclestone, são entidades bem distintas. A FOM explora os direitos comerciais da Fórmula 1 enquanto a FIA a regula. Mas nas questões comerciais a FIA exige maior participação, ou num português mais raso, dinheiro. Além disso, impõe conhecer profundamente cada negócio e por vezes considera ter o direito de interferir. É por isso que o fundamental Acordo da Concórdia ainda não foi assinado. Esse acordo estabelece os direitos e as obrigações de cada um, FIA, FOM e equipes de Fórmula 1. Todas as profundas diferenças entre as equipes e a FOM foram solucionadas. Por exemplo: exigiam mais dinheiro de Ecclestone, maior participação na definição do calendário do campeonato, transparência das negociações com os promotores das corridas, dentre outras exigências.A FIA, no entanto, ainda não se sentiu atendida nas suas reivindicações, dentre elas receber maior porcentagem do arrecadado pela FOM, e não assinou o Acordo da Concórdia. Oficialmente, as equipes não têm obrigação com ninguém porque não há um código, um estatuto, um conjunto de regras que estabeleça quem manda em quem e o papel de cada um nesse negócio chamado Fórmula 1.Outro ação de Todt que levou Ecclestone a se debelar é a postura da FIA, hoje, diante na necessidade urgente de definir o fornecedor de pneus da Fórmula 1 a partir de 2014. O regulamento técnico será bem distinto e até agora os treinos mal começaram. "Temos um contrato assinado com a Pirelli", afirma Ecclestone. Todt disse, ainda em 2010, quando a Bridgestone fornecia os pneus da Fórmula 1, que quem escolhe a empresa é a FIA. A Pirelli ganhou a concorrência para os três campeonatos seguintes, 2011, 2012 e este ano. E já tem acertado com a FOM e as equipes um compromisso para os três próximos mundiais. Mas a FIA não assina também o contrato porque Todt é simpático à volta da Michelin na Fórmula 1. E a empresa francesa anunciou, há dois dias, que é concorrente à vaga de fornecedor de pneus para a competição. Ecclestone comentou: "Eles (FIA) não têm nada a ver com a área comercial. São reguladores, devem verificar se as regras que todos concordaram estão sendo observadas". O inglês, irritado com a questão, falou também: "Jean é presidente da FIA. Se o tema (fornecedor de pneus) for para votação no Conselho Mundial (da FIA), ele terá direito a um voto. Mas como não é tema para o Conselho Mundial, não faz muita diferença".AJUSTES DOS PNEUSA forma como a Pirelli reagiu aos problemas da corrida de Silverstone, quando cinco pilotos tiveram pneus dechapados, agradou a todas os times, disse Ecclestone. As dificuldades no GP da Grã-Bretanha ocorreram porque os envolvidos não respeitaram as especificações de ajuste dos pneus repassadas pela Pirelli, como pressão e lado correto do uso, direito ou esquerdo do carro. Depois disso, mesmo no GP da Bélgica, domingo, o mais exigente quanto aos pneus, não houve mais problemas estruturais, como em Silverstone. Todt é contra a filosofia de Ecclestone, de exigir do fornecedor pneus de elevada degradação para tornar as provas menos previsíveis. A candidatura de Ward tem com certeza inspiração em Ecclestone e Mosley. Ward era o lugar-tenente de Mosley na presidência da FIA quando deixou a entidade, em 2009. O objetivo dos ingleses é voltar ao modelo de gestão anterior a Todt, quando FIA e FOM não defendiam interesses tão distintos como na legislatura de Todt e era assim também na época de Balestre.E é bem verdade, também, que sem a interferência constante da FIA a FOM espera realizar negócios que, em algumas ocasiões, atendam mais aos seus próprios interesses, em detrimento dos das equipes, como era na época Mosley.

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.