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Na F-1 é proibido usar balangandãs

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Por Agencia Estado
Atualização:

"Correntinha de ouro, legítimo, pode? Piercing na orelha, nem pensar, não é? Ah, e esse meu relógio, olha que classe, presente do patrocinador, dá para usar?" É possível que essas tenham sido algumas das perguntas dos pilotos, nesta quinta-feira, para o inspetor de segurança da Fórmula 1, Charlie Whiting, depois de a FIA proibi-los de competir usando relógios com pulseira e caixa de metal, anéis, pulseiras e correntes. O motivo alegado é poderoso, segurança. A norma até que seria bem vinda não fosse um porém: para alguns pilotos essas jóias são, também, seus amuletos. O GP de Bahrein começa nesta sexta-feira, com duas sessões de treinos livres, sob calor intenso. É enorme a expectativa quanto a uma eventual reação da Ferrari no campeonato, já que irá estrear o esperado modelo F2005, mas pode ser que para alguns pilotos, ao menos o fim de semana no circuito de Sakhir, em especial, lhes cause apreensão. Irão correr, pela primeira vez, sem os seus amuletos. "Sim, é verdade, tenho de aceitar", afirmou, nesta quinta-feira, Michael Schumacher. Com certeza irá relutar, antes de entrar no cockpit do seu carro, em retirar a correntinha que sempre o acompanha, com uma medalhinha de ouro contendo os nomes dos filhos Ginna Maria e Michael, e da esposa, Corinna, numa das faces. "Na outra há a lua e algumas estrelas", explica. "Regras são regras e devem ser seguidas. Terei de enfrentar essa situação", disse o alemão, supersticioso, que só entra do cockpit pelo lado direito. Nesta quinta-feira Schumacher apareceu no autódromo com uma tatuagem de henna, no braço direito: "É um pássaro, desenhado pelo meu filho", contou. Jarno Trulli, da Toyota, abordou a proibição da FIA: "Fiquei surpreso, o que nos disseram é que em caso de fogo o metal aquece rápido e pode nos causar sérios danos. Aceitei. Não vou usar mais no pescoço minha correntinha com a aliança enquanto piloto." Vai lhe causar alguma insegurança? Trulli respira fundo: "Não sei, espero que não." O doutor Riccardo Ceccarelli, proprietário de uma das mais conceituadas clínicas de estudos médicos voltados para a atividade de piloto, Formula Medicine, em Viareggio, Itália, alerta que a medida pode, potencialmente, desestabilizar emocionalmente esses profissionais: "Há quem associe os objetos a estar vivo ou conquistas. De repente sua ausência pode criar um desconforto muito grande, insegurança, no piloto." O universo das forças ocultas no frio mundo da Fórmula 1 é muito mais ativo do que se imagina. Cueca vermelha - Outros exemplos de comportamentos dessa natureza: Rubens Barrichello correu, não se sabe se ainda mantém o hábito, por muito tempo, com cueca vermelha. David Coulthard venceu uma corrida quando jovem com uma cueca e a repetia até ainda na Fórmula 1. "Uma vez me levaram para o ambulatório, depois de um acidente, e na ambulância eu pensava no vexame de expor aquela cueca velha", contou o escocês. Alexander Wurz, hoje terceiro piloto da McLaren, não abre mão de vestir uma sapatilha de cada cor, enquanto Pedro de la Rosa, espanhol que substitui no GP de Bahrein Juan Pablo Montoya na McLaren, tem um acordo com sua esposa, desde os tempos de noivado: "Ela coloca uma medalinha de Nossa Senhora, sem que eu saiba onde, no bolso do macacão, embaixo do meu banco, e só depois da prova me avisa onde está." Não irá poder mais escondê-la no macacão. "É", limitou-se a dizer, enquanto erguia os ombros, visivelmente chateado, principalmente agora, que tem a maior chance profissional da sua vida, ao correr pela primeira vez num time vencedor. O doutor Ceccarelli, além da advertência dos riscos iniciais gerados pela deserção compulsória dos amuletos, vê também o lado positivo da história: "No primeiro bom resultado desses pilotos sem seus objetos de fantasia compreenderão que a causa não era eles." Mas Trulli em seguida complementa: "Fique tranqüilo que nós arrumamos outros, dentro das regras."

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