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'Não tenho medo de voltar a correr', diz Felipe Massa

Brasileiro se recupera do acidente na Hungria e diz que, por sua vontade, voltaria a correr já no domingo, 23

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Por Livio Orichio - O Estado de S. Paulo
Atualização:

SÃO PAULO - Se dependesse da sua vontade, sexta-feira, primeiro dia de treinos do GP da Europa de

Fórmula 1

, em Valência,

Felipe Massa

já estaria lá com sua

Ferrari

. Mas reconhece ainda não estar preparado. "Apesar de me sentir bem, não estou 100%". Nos primeiros dias de setembro, fará nova tomografia para avaliar a sua evolução e, se tudo estiver bem, poderá submeter-se aos exames da FIA para pensar em voltar a correr.

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Na primeira conversa com a imprensa, escolheu os jornalistas que acompanharam seu drama e a recuperação no Hospital Militar de Budapeste, entre 25 de julho, data do acidente no treino do GP da Hungria, e a alta hospitalar, em 3 de agosto. Definiu o acidente como ridículo, comentou não ter recebido ligação do companheiro de equipe, Kimi Raikkonen, e afirmou: "Não tenho medo de voltar a acelerar".

ESTADO - Como é ficar longe da Fórmula 1?

FELIPE MASSA - É...tenho de esperar mais um pouco, o que é chato. Mas não me sinto ainda 100% em condições de voltar. Não sei dizer, acho que não conseguiria suportar a vibração dentro do carro, sinto também a cicatriz. Minha vista esquerda não está 100%, continua melhorando rápido, começou com 40%, passou para 80% e na semana passada fiz exame que deu 95%. No cérebro não sinto nada. Meu jeito de pensar, fazer as coisas é o mesmo. Pergunto até para minha mulher, meu pai e dizem que não mudei nada. No começo de setembro vou fazer mais uma tomografia, ver o quanto eu melhorei e depois pensar, então, em fazer os testes para voltar a correr.

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Qual a sua reação ao ver na TV as imagens do acidente?

Achei um acidente ridículo. Não vi a mola. Pode ser que na hora que estava para bater a tenha visto, mas bateu no capacete e apaguei na hora. Deu para ver depois, pela minha mão, que acelerava e brecava ao mesmo tempo na grama. Fórmula 1 é assim, acidentes acontecem não só quando se erra ou tem problema com outros carros.

Chegou a alguma conclusão a respeito do ocorrido? Discuti a questão com meu engenheiro [Rob Smedley]. O Rubinho estava uns quatro segundos na minha frente. A mola se soltou do seu carro, pegou numa zebra, fez o efeito de mola e voltou na direção do meu capacete. Ela pesa 800 gramas e a velocidade, imaginamos, foi de uns 260 km/h. Isso equivale a um impacto de 200 quilos. Deu para enxergar no capacete como foi forte a batida. Houve um grande efeito no meu cérebro. Mas voltaria ontem a correr, sempre foi minha paixão.Não acha que, ao voltar às pistas, tenha medo de ser atingido?Do ponto de vista psicológico o acidente não gerou efeito em mim. Já sofri acidente muito mais feio. Perdi o freio, bati forte e saí do carro com o botão do volante no capacete. Não vai ter nenhum efeito. Foi muito estúpido o que aconteceu. Outro dia minha esposa, a Rafaela, perguntou se eu não sentiria medinho quando voltasse a pilotar. Respondi nenhum. Quero voltar a pilotar já, mas não depende apenas de mim. Lauda disse que após o acidente, em 1976, foi para o circuito de Monza, deu uma volta e regressou para os boxes porque não conseguia acelerar. Quando superou o medo,foi campeão mais duas vezes.Não pensei nisso ainda porque, como disse, eu apaguei na batida e fui acordar no hospital três dias depois. O acidente é algo que não fez parte da minha vida. Não vou regressar às corridas sem estar 100%, mas tirar o pé, seja no dia que for andar de kart ou de Fórmula 1, não vai acontecer. Espero voltar mais forte. Medo eu não tenho!Como se comportou Kimi Raikkonen, seu companheiro de equipe? Não me telefonou. Eu o ouvi na mensagem que os pilotos me mandaram e a fala dele foi a mais curta. Ele me mandou um cartão postal, mas não me atinge. É o jeito do Kimi. Não consigo imaginar fazendo coisa diferente. O Schumacher foi me ver no hospital, conversamos bastante, me contou que deu algumas voltas com o carro de 2007, mas que sentia dores no pescoço quando passava nas ondulações e perdia um pouco a visão. Comentou que estava preocupado. Falei por telefone com ele, depois que desistiu de correr.Pode fazer atividade física? Não. Perguntei aos médicos e eles disseram que não posso por ser o jeito mais rápido de melhorar. Em casa assisto a filmes, fico no computador, é a parte chata, não poder fazer muita coisa. Acho que terei, ainda, de fazer uma cirurgia plástica na cicatriz. Quais suas últimas memórias do GP da Hungria?O acidente não existe na minha cabeça. Bati, acordei três dias depois no hospital, vi depois na TV, compreendi o que aconteceu. A última coisa que lembro foi que saí para o Q1 [primeira parte do treino classificatório] com pneu usado, recordo da primeira volta no Q2 e até voltar para o box. A batida apagou alguma coisa porque não me lembro da segunda saída [a do acidente]. Sei que acordei todo inchado no hospital. Você estava consciente no atendimento, está claro para você? Me disseram que eu gritava, dá para ver através de algumas imagens que eu mexia os braços, punha a mão no machucado, devia estar consciente. Não senti dor nenhuma. Quando acordei parecia um elefante. Recordo do meu pai, do médico Dino Altmann, da Rafaela, da minha mãe, próximas de mim. Lembro de acordar no hospital, tentar tirar o tubo, mas conseguia respirar sozinho e me atrapalhava, tanto que logo tiraram o tubo. Como foram os instantes que se seguiram ao acordar no hospital? Não lembro. Eu dormia uma, duas horas, ficava acordado uma hora e meia. Mas dizem que eu perguntava sempre se era grave e se voltaria a pilotar. Me disseram que passei por uma situação de risco, precisaria de um tempo para me recuperar. Mas chegava para o Dino e perguntava, e aí? Não passava pela minha cabeça não correr em Valência. A Rafaela vinha eu dizia que eram apenas três semanas. Pedi para o Dino assumir a frente porque se depender dela eu não corro mais. O que ficou para mim é que não foi um acidente gravíssimo, mas de risco.Você reclamou de ter permanecido internado tanto tempo? Foi até engraçado. Teve momento de eu levantar da cama e dizer estou indo embora. Mas acabava voltando. Quem estava lá do meu lado dizia ‘o cara é louco’. Foi muito difícil. Desejava sair da cama, eu tinha uma tevê bem pequena onde só passava programas em húngaro, não dispunha de internet para procurar o que tinha se passado comigo. Difícil. Só fui ver tudo quando cheguei em São Paulo. Imagina minha família [em São Paulo]. A Rafaela viu o médico fazer aquele sinal de cruz com os braços...A partir daí ela não assistiu a mais nada, saiu atrás de providenciar um avião. Como você vai acompanhar o GP da Europa, em Valência? Vou estar em cima de tudo, pela TV, telefone, internet, torcendo muito pelo Luca Badoer [o substituto].

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