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Nurburgring: uma ?estrada? de 74 anos

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Por Agencia Estado
Atualização:

Das arquibancadas do atual circuito de Nurburgring ainda é possível ver trechos de uma estrada, com grades de proteção dos dois lados, que corre, em alguns trechos, muito próxima do traçado onde passam Michael Schumacher e Mika Hakkinen. Quem vê aquela "estrada" não imagina que, um dia, precisamente 19 de junho de 1927, o Schumacher da época, Rudolf Caracciola, alemão como Michael, da também alemã Mercedes, levou mais de 100 mil pessoas à loucura ao vencer o GP da Alemanha, naquela "estrada". Era a inauguração do autódromo. Nurburgring é presente e, principalmente, história. Lá se vão mais de 70 anos desde que o doutor Otto Creutz, governador da região onde se encontra a pista, chamada Eifel, convenceu os políticos de Berlim a investir numa das áreas mais pobres do país. "Ele receberia o dinheiro para construir a pista desde que só fossem empregados na sua construção pessoas que, comprovadamente, estavam sem trabalhar", diz Luki Scheuer, autor do livro "Nurburgring, tradition und fortschritt", tradição e progresso. A Alemanha vivia grave crise econômica naquela período que se seguiu ao fim da Primeira Guerra Mundial. O próprio nome da região sugere as razões de ser evitada. "Eifel vem de schneifel, ou seja, onde cai muita neve", explica Scheuer. Um dos mitos do circuito é de que Adolf Hitler o mandou construir. "Não é verdade", fala o pesquisador, de 59 anos, e que desde os seis anos de idade freqüenta Nurburgring. "Hitler subiu no poder em janeiro de 1933 e a pista foi inaugurada em 1927." O chanceler alemão, porém, subvencionou a Mercedes e a Auto Union, os principais fabricantes de carros de corrida do país na década de 30, a desenvolverem seus superprojetos. Os 22.265 metros do traçado original permanecem até hoje. Fora do período de grande prêmio de F-1 é possível percorrê-los com automóvel próprio. Paga-se uma taxa de 21 marcos, equivalente a R$ 25,00. "Muitas montadoras fazem testes com seus novos produtos na pista", conta Scheuer. As provas em Nurburgring tinham uma característica: quem comprava o ingresso ganhava também um lanche e tinha direito a um copo de vinho. "Não havia absolutamente nada nessa região", diz Scheuer. A construção do autódromo permitiu de forma surpreendente o desenvolvimento da área. Nem todos sabem: o lendário conceito de flecha de prata dos carros da Mercedes, campeões do mundo da F-1 em 1954 e 1955, surgiu numa corrida em 1934. "O regulamento das competições da época mudou. Impôs-se o peso máximo e não mínimo de 750 quilos como forma de desenvolver a pesquisa por materias mais leves", explica o autor do livro. "A Mercedes levou a Nurburgring um modelo que pesava 2 quilos a mais e, como mandava sua tradição, todo pintado de branco." Foi quando um piloto da equipe, Manfred von Brauchitsch, teve a idéia, um dias antes da prova, de raspar o carro, retirar sua pintura, deixando-o apenas no alumínio. "O locutor de rádio naquele domingo dizia lá vêm os carros da Mercedes que parecem flechas de prata", conta Scheuer. Os grandes astros daquele período, todos fãs de Nurburgring, eram além de Caracciola e o inglês Richard Seaman, da Mercedes, os também alemães Hans Stuck e Bernd Rosemeyer e o italiano Tazio Nuvolari, da Auto Union. A história do circuito longo de Nurburgring se estendeu até o dia 1º de agosto de 1976, quando Niki Lauda, então campeão do mundo com a Ferrari, se acidentou na segunda volta do GP da Alemanha, na saída da curva Bergwerk, no quilômetro 11. "Cinco semanas depois eu já estava de volta em Monza, portanto não guardo nenhuma recordação triste daqui", falou nesta sexta-feira o austríaco. Outros pilotos não tiveram a mesma sorte no autódromo "Green Hell", ou inferno verde, como o define Jackie Stewart, vencedor de três mundiais. O argentino Onofre Marimom, da Maserati, em 1954, o inglês Peter Collins, da Ferrari, em 1958, o alemão Gerhard Mitter, em 1969 perderam suas vidas em Nurburgring. Hoje Schumacher e Hakkinen usam uma pista de 4.556 metros e que pouco tem a ver com os enormes desafios do circuito original.

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