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Phoenix proibida de entrar em Sepang

O piloto brasileiro Tarso Marques, contratado pela nova equipe de F-1, assim que chegou em Kuala Lumpur soube que não poderia correr na Malásia.

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Por Agencia Estado
Atualização:

Hoje de manhã, a Fórmula 1 viveu momentos que se opõem à imagem de riqueza, profissionalismo extremo e até glamour que a caracterizam, ao menos para boa parte do público. "Desculpe, mas os senhores não têm permissão para entrar no autódromo." Foi dessa forma que alguns integrantes da pretensa nova equipe da F-1, Phoenix, foram recebidos por Pasquale Latunedù, uma espécie de sargento do exército de Bernie Ecclestone, o grande comandante-em-chefe do evento. Charles Nickerson, milionário inglês, acreditou que ao adquirir parte dos equipamentos da massa falida da Prost Grand Prix, dentre eles dois carros de 2001, sem motor, já teria direito de disputar o Mundial. "Em primeiro lugar eles devem fazer o depósito de US$ 48 milhões de caução, exigidos pela Federação Internacional de Automobilismo (FIA), inscrever-se no campeonato e esperar o início da próxima temporada", explicou hoje a assessora de imprensa da entidade, Agnes Kaiser. Tudo o que envolve a Phoenix é tão obscuro e sem sentido que ontem à noite chegou a Kuala Lumpur o piloto brasileiro Tarso Marques, contratado por Nickerson. "Você viu se tinha carro na pista", foi a sua primeira pergunta ao repórter. Depois demonstrou frustração ao ouvir que a FIA, oficialmente, proibiu a participação da Phoenix no GP da Malásia. Ele estava dentro do avião quando foi divulgada a notícia. Marques não sabia sequer com que motor e pneus a escuderia pretendia disputar a corrida. Latunedù confirmou que os dois carros do time, modelos da Prost de 2001 equipados possivelmente com motor Ford V-10 de 1998, chegariam à capital malaia hoje à noite. "Não só os carros. Charles Nickerson e Tom Walkinshaw me informaram que todos os integrantes da Phoenix desembarcam amanhã ao meio dia em Kuala Lumpur", disse Marques. Walkinshaw é o dono da Arrows e está fornecendo todo o suporte técnico ao projeto de Nickerson. Marques deu mais detalhes da Phoenix. "Cheguei em Londres, hoje de manhã, e me levaram para a fábrica, próxima da Arrows, onde vi um grupo enorme de técnicos montando o carro que estreará no GP de San Marino (quarta etapa)." O piloto não pôde dar detalhes, mas não desmentiu que a Phoenix usará o modelo de 2002 da Prost, já em fase de montagem quando a equipe existia, mas equipado com o motor Ford, versão da Arrows. Essas indicações sugerem que todo o conjunto traseiro do modelo da Phoenix, câmbio e suspensões, será o mesmo usado pela nova Arrows A23. "Vim aqui, conforme me pediram, e estou fazendo a minha parte. Agora, se não tem carro para correr, o que eu posso fazer?", disse Marques, meio sem graça. "Na realidade, acho que seria um milagre eles conseguirem aprontar um modelo de F-1 para correr em tão pouco tempo." O piloto de Curitiba demonstrou, contudo, otimismo com relação ao futuro. "Não creio que depois de o pessoal da F-1 vir o trabalho que está sendo feito na fábrica ainda haverá resistência à nossa participação no campeonato." O outro piloto da Phoenix, o argentino Gaston Mazzacane, deveria ter viajado com o brasileiro. "Tínhamos reserva para os mesmos vôos mas ele não embarcou", comentou Marques que não sabia, hoje à noite, o que faria amanhã. "Vou esperar o pessoal da equipe chegar e ver o que eles decidirão." Marques contou que nem mesmo teve tempo, durante a breve estada de pouco mais de uma hora na fábrica, de tirar o molde para o seu banco. "Faríamos aqui mesmo", explicou. O caso Phoenix recorda bastante o de outra escuderia incipiente da F-1, a Andrea Moda. No GP do México de 1992, o que deveria ser o seu primeiro GP, enquanto os pilotos dos outros times treinavam na pista, os mecânicos da Andrea mantinham os desenhos do seu modelo aberto sobre uma tábua estendida sobre cavaletes, fora do paddock, para a montagem de ao menos um dos seus monopostos. A Andrea Moda conseguiu classificar um carro, com Roberto Moreno, em apenas um GP, Mônaco, naquele ano. Toda sorte de suspeitas recaíram sobre o seu proprietário, Andrea Sassetti, dono de uma fábrica de sapatos, desde lavagem de dinheiro ao oportunismo de expor sua marca mundialmente a um custo, apesar de alto, relativamente baixo para a abrangência da F-1 na mídia. Nada foi provado. Como veio, a Andrea foi embora do campeonato, sem ser notada.

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