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Promotor do GP do Brasil ameaça processar Fórmula 1 contra o cancelamento da prova

Tamas Rohonyi se diz desrespeitado pela decisão da categoria e afirma que coronavírus não é justificativa para tirar País do calendário

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Por Ciro Campos
Atualização:

O promotor do GP do Brasil de Fórmula 1, Tamas Rohonyi, afirmou nesta segunda-feira que não vai aceitar passivamente a decisão da categoria de não realizar a corrida no autódromo de Interlagos neste ano, até então marcada para novembro. O objetivo dele é avaliar levar o caso até a Justiça da Inglaterra, país onde está localizada a sede da Formula One Management (FOM), empresa responsável pelos direitos comerciais da categoria. A prova teve o cancelamento oficializado na última sexta-feira sob a justificativa de temores com o novo coronavírus no País.

Em entrevista ao Estadão, Rohonyi afirma que o argumento da pandemia não pode ser utilizado para cancelar provas. Além do Brasil, no mesmo anúncio a Fórmula 1 excluiu do calendário as etapas dos Estados Unidos e México. "O contrato de promoção só tem uma cláusula que permite o cancelamento: força maior. Tem de ser algo totalmente fora do controle das partes, como um avião cair com os carros, ou todo mundo desaparecer debaixo de um metro de água", explicou. Neste ano, várias outras etapas também foram canceladas por causa da pandemia, porém não houve por parte delas menção pública do plano de acionar a Justiça.

Promotor do GP do Brasil critica decisão da Fórmula 1 de cancelar o GP do Brasil Foto: Gabriela Biló/Estadão

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Nos últimos dias o promotor do GP do Brasil está em contato com advogados europeus para avaliar uma forma de acionar a Fórmula 1 na Justiça. Segundo Rohonyi, os responsáveis pelo GP do México também estão interessados em recorrer da decisão e existe a possibilidade de se realizar uma ação conjunta e cobrar uma multa. Procurada pelo Estadão, a Fórmula 1 não retornou o contato.

O promotor afirma que pelo acordo firmado com a Fórmula 1, em caso de cancelamento, a categoria teria de ressarcir o prejuízo. Apesar de não revelar valores, Rohonyi disse que o impacto é muito alto. "É uma perda econômica brutal. É uma pancada no fígado muito grande", contou. O GP do Brasil não chegou a abrir a venda de ingressos para 2020, mas tinha contratos em vigor com patrocinadores e fornecedores, fora a manutenção de pagamento aos funcionários.

O contrato de promoção só tem uma única cláusula que permite o cancelamento: força maior. Tem de ser algo totalmente fora do controle das partes, como um avião cair com os carros, ou todo mundo desaparecer debaixo de um metro de água

Tamas Rohonyi, Promotor do GP do Brasil de Fórmula 1

Rohonyi contou que para comunicar o cancelamento do GP do Brasil, a Fórmula 1 explicou que cinco equipes manifestaram a preocupação de vir ao País e se expor ao risco de contágio ao novo coronavírus. "Isso é ridículo. Quem fez essa carta não sabe o regulamento de campeonatos. O contrato de promoção não diz que vai ter corrida só se as equipes quiserem. Uma equipe que não quiser ir para uma prova, ela não é obrigada. Só não vai participar da premiação e ativar patrocinadores", afirmou.

O cancelamento do GP do Brasil foi antecipado pelo Estadão em 8 de julho. A reportagem apurou que, apesar do comunicado oficial da Fórmula 1 ter sido divulgado só na sexta-feira, a informação sobre a exclusão da prova já havia sido enviada a governantes brasileiros e à própria organização do GP. Para Rohonyi, a Fórmula 1 o tratou de forma desrespeitosa e demorou demais em oficializar o cancelamento porque esperou conseguir marcar outras provas substitutas no calendário, como em Portugal e na Alemanha.

Fica preocupante o procedimento e atitude deles (Fórmula 1), pelo pouco caso com que tratam os promotores

Tamas Rohonyi, Promotor do GP do Brasil de Fórmula 1

"Eu fico chateado, óbvio, é que a impressão que se dá é que eles sabiam desde março sobre esse problema do cancelamento. Eles esperaram até o último minuto para comunicar somente alguns meses antes do evento. A impressão que se dá é que esperaram até última hora só para confirmar se conseguiriam fazer essas outras corridas de emergência", disse. "Fica preocupante o procedimento e atitude deles, pelo pouco caso com que tratam os promotores", afirmou.

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Rohonyi com Chase Carey e João Doria durante evento em junho de 2019 Foto: Divulgação/Governo de São Paulo

Na opinião do promotor, o Brasil teria condições de receber a prova em novembro por ter estabelecido para competições locais um protocolo de segurança e pelo governos estadual e municipal preverem uma melhora na situação da pandemia nos próximos meses.

Questionado sobre qual o motivo para o cancelamento da prova, Rohonyi avalia que foi por fatores econômicos. O custo de transporte dos equipamentos se tornou mais caro durante a pandemia e, por isso, boa parte das provas confirmadas até o momento serão somente na Europa. Para esses destinos, as equipes conseguem se locomover com os próprios caminhões e dispensam o pagamento de fretes aéreos e até marítimos.

GP DE 2021

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A etapa paulistana tinha contrato com a Fórmula 1 para receber o GP do Brasil somente até o fim deste ano. Agora, para 2021, será preciso renovar e conseguir fechar um acordo principalmente sobre o pagamento da taxa de promoção. O intuito é convencer a categoria a aceitar o valor anual de cerca de R$ 100 milhões (US$ 20 milhões). A cifra é inferior á paga na média pelas demais etapas, estimada em R$ 182 milhões anuais (US$ 35 milhões).

Mesmo com críticas à decisão da Fórmula 1 e com o firme propósito de acionar a Justiça, Rohonyi descarta que isso possa atrapalhar o ambiente na negociação com a categoria. O promotor cita, inclusive, já ter recebido na sua própria casa em ocasiões anteriores o chefe da F-1, Chase Carey, e manter com ele uma boa relação. 

Todas as negociações que ele (Chase Carey) fez até hoje, foram fechadas no último minuto

Tamas Rohonyi, Promotor do GP do Brasil de Fórmula 1

"O que eu aprendi com o Chase Carey, é que ele é muito frio e profissional. Ele não vai misturar as situações. A negociação continua e avançou muito bem. Eu acho ainda que ele vai chegar à conclusão que a ideia de correr no Rio é uma fantasia", disse. Porém, o promotor do GP do Brasil descartou desta vez estabelecer um prazo para o desfecho do acordo. "Todas as negociações que ele (Chase Carey) fez até hoje, foram fechadas no último minuto", comentou.

Como o Estadão publicou em 30 de junho, a candidatura do Rio encaminhou um acordo com a Fórmula 1 para receber o GP a partir de 2021. A proposta é de repassar à categoria cerca de R$ 340 milhões anuais entre taxa de promoção e receita com a venda de ingressos VIPs. 

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