A fama existe, verdadeira ou falsa: Kimi Raikkonen é um destruidor de carros. Isso explicaria seus muitos abandonos na carreira. Mas agora tudo será esclarecido, a começar pela prova de abertura do Mundial, em Melbourne, no próximo domingo. O finlandês corre pela mais eficiente equipe da Fórmula 1, a Ferrari. Na McLaren ele colecionou quebras (em especial em 2005), que praticamente lhe custaram o título. Na Ferrari, herdou uma tradição de confiabilidade. Em 11 anos na escuderia italiana, Michael Schumacher retirou-se apenas três vezes da corrida por rompimento do motor: Austrália (1998), França (2000) e Japão (2006). ?Era fácil saber a quem pertencia a caixa de transmissão, Ayrton Senna ou Gerhard Berger. Bastava observar o nível de desgaste das engrenagens. As do câmbio de Senna pareciam que não tinham participado da prova?, costumava dizer Jo Ramirez, coordenador da equipe McLaren. Mas e hoje, com a eletrônica controlando tudo, ainda é possível a um piloto submeter transmissão, motor, suspensões a desgastes excessivos? ?Sim, é. Ele pode segurar o carro por demais nas reduções de marcha em vez de solicitar também dos freios, elevar os giros sempre ao limite máximo para trocar marcha e tocar nas zebras com violência. São exemplos de comportamento que levam o carro a expor-se a maior chance de romper?, explica Jaques Eeckhelart, chefe dos engenheiros de pista da Honda. Essas reações agressivas com o carro poderiam estar por trás dos 37 abandonos que Raikkonen experimentou na carreira, sendo 26 de natureza mecânica, das quais 12 correspondem a quebra do motor. Desde que estreou na Fórmula 1, em 2001, pela Sauber, e nos cinco campeonatos seguintes pela McLaren, o finlandês disputou 104 Gps. Venceu nove. Raikkonen já deixou claro que não gosta desse rótulo de não cuidadoso e muito menos de azarado. Quando parceiro de David Coulthard, na McLaren, reagia com irritação ao ser perguntado sobre o porquê de apenas o seu carro apresentar tantas panes. ?Lógico, ele é bem mais lento? dizia para virar a cara em seguida. Fontes próximas ao piloto, que trabalharam com ele na McLaren, não vêem Raikkonen como um quebrador de carros, mas não o consideram um mão de seda, como Alain Prost. Para o finlandês, não há mistério: ?Eu acelero. Se a equipe produzir um carro confiável vou chegar ao fim da prova. Não acho que forço nada, apenas procuro ser rápido, como qualquer piloto.?