28 de março de 2022 | 20h00
O GP da Arábia Saudita, segunda etapa do Mundial da Fórmula 1 em 2022, não ficou marcado apenas pelo triunfo de Max Verstappen nas ruas de Jeddah. Ainda na sexta-feira, durante o primeiro treino livre do fim de semana, a tensão tomou conta do evento após um bombardeio atingir instalações da petrolífera Aramco a cerca de 10 quilômetros da pista.
Mesmo acontecendo longe do autódromo, a distância não impediu que a fumaça oriunda do bombardeio estivesse presente nas imagens da sessão. Pilotos chegaram a sinalizar a intenção de deixar o país, mas acabaram convencidos pela organização a seguir com a programação normalmente, sob a garantia de segurança total para a realização da prova.
Posteriormente, o ataque foi reivindicado pelo grupo Houthis, do Iêmen. A ação se deu pelo fato de a Arábia Saudita liderar um conflito contra grupos rebeldes iemenitas em defesa do governo local desde 2015. A petrolífera atacada é uma das principais apoiadoras da F-1, e patrocinadora da escuderia Aston Martin, dos pilotos Lance Stroll e Hulkenberg.
Na história da categoria, porém, esta não foi a primeira vez que fatores externos influenciaram a realização de corridas. Em outras oportunidades, as provas chegaram a ser canceladas ou tiveram seus rumos alterados por causa de protestos, invasões, problemas internos da categoria e até mesmo condições climáticas.
No GP da Alemanha de 2000, realizado em Hockenheim, Rubens Barrichello conquistou a primeira de suas 14 vitórias na categoria. Mas o triunfo do então ferrarista veio em circunstâncias bem particulares.
Se todos os fãs de automobilismo têm na retina a grande atuação do brasileiro, que venceu na chuva com pneus slicks - usados para tempo seco -, dando de ombros para os pedidos de Ross Brawn, à época chefe da Ferrari, que implorou para que ele mudasse os compostos, outro fato curioso acabou marcando a prova.
Na 25ª volta daquela corrida, um ex-funcionário da Mercedes que acompanhava o Grande Prêmio da Alemanha das arquibancadas, resolveu invadir a pista para protestar contra sua antiga empregadora. Por questões de segurança, a direção de prova acionou o safety-car enquanto retirava o invasor da pista. O carro de segurança permaneceu na pista até a 29ª volta. Com isso, Barrichello saltou para a terceira posição após as paradas dos outros pilotos, que aproveitaram a situação para realizar suas paradas. Com a volta do safety-car, a bandeira verde não ficou por muito tempo no autódromo.
Na volta seguinte, Pedro Paulo Diniz, da Sauber, e Jean Alesi, da Prost, bateram e mais uma vez o carro de segurança entrou em ação. Com a bandeira verde em pista após uma volta, a chuva resolveu aparecer. Barrichello não trocou os pneus, e teve de resistir às investidas de Mika Häkkinen, da McLaren, durante o restante da prova para conquistar a vitória, a primeira do Brasil desde o triunfo de Ayrton Senna no GP da Austrália de 1993.
Três anos mais tarde, no GP da Inglaterra de 2003, Rubens Barrichello conquistou a pole-position para a corrida e partia como o favorito para o triunfo. Porém, logo na largada, o brasileiro foi superado por Jarno Trulli, da Renault, e Kimi Räikkönen, da McLaren.
Na 12ª volta, um fato inesperado aconteceu: um homem com trajes irlandeses típicos invadiu a pista com cartazes de teor religioso, na altura da Reta do Hangar, onde os carros atingem velocidade máxima. Logo a segurança da pista tratou de retirar o invasor, o padre Cornelius Horan, que ano seguinte, segurou o maratonista Vanderlei Cordeiro de Lima na Olimpíada de Atenas.
Com o safety-car acionado, a corrida virou de cabeça para baixo. Barrichello caiu para a oitava posição e teve de se recuperar na corrida para conquistar sua sexta vitória até ali.
Se hoje apenas a italiana Pirelli fornece os pneus para todas as equipes da da Fórmula 1, há pouco tempo a situação era bem diferente. Em 2005, a japonesa Bridgestone e a francesa Michelin dividiam a função de serem fornecedoras da categoria. E no GP dos Estados Unidos daquele ano, realizado em Indianápolis para um público de 130 mil torcedores, a F-1 correu com apenas seis carros no grid por conta de problemas enfrentados pela empresa francesa.
Tudo começou um pouco antes, com o recapeamento do asfalto do circuito, que teve de ser adaptado para receber os bólidos da categoria. A Bridgestone, que atuava por intermédio da Firestone na Indy, soube antecipadamente da mudança e realizou alterações especiais em seus pneus para a corrida. Já a empresa francesa tomou conhecimento do fato e das implicações dele nos pneus apenas quando já estava em solo norte-americano.
Com problemas ao longo do fim de semana, a empresa francesa começou a discutir o problema com a organização. Mesmo a empresa francesa decidiu trazer os pneus utilizados na corrida anterior, na Espanha, para contornar a situação. Porém, como o regulamento da época obrigava que os pilotos largassem com os mesmos compostos utilizados na classificação, uma autorização especial foi solicitada e acabou não sendo atendida.
Com isso, uma série de contenções foram estudadas, como a criação de uma chicane na Curva 1 , mais afetada pelo recapeamento, para diminuir a velocidade dos carros (proposta vetada pela Ferrari). Até mesmo foi sugerido que a corrida acontecesse sem a distribuição de pontos e de dinheiro, a fim de salvar o evento. Porém a sugestão foi veementemente negada por Max Mosley, à época presidente da FIA, entidade máxima do automobilismo mundial.
Por fim, as equipes que utilizavam os pneus Michelin esperaram por 20 minutos para deixarem os boxes para a volta de apresentação. Como nenhuma decisão da FIA chegou, as equipes recolheram os carros e voltaram para os boxes. Desta forma, apenas os seis carros munidos de pneus Bridgestone alinharam no grid.
Dentro da pista, dobradinha da Ferrari com Michael Schumacher em primeiro e Rubens Barrichello em segundo. O pódio foi completado pelo português Tiago Monteiro, da Jordan. A celebração, contudo, não foi vista por muitos torcedores, que deixaram as arquibancadas ao longo da prova. A revolta foi tamanha que o safety-car foi acionado por conta de latas arremessadas na pista em forma de protesto.
Em 2011, a Fórmula 1 planejava iniciar sua temporada com o GP do Bahrein, porém a corrida logo foi adiada por conta do país viver o auge da Primavera Árabe, uma onda de protestos e manifestações que eclodiram no Oriente Médio e no Norte da África. Devido à instabilidade e a falta de garantia de segurança, posteriormente, em junho, Bernie Ecclestone, chefe da categoria na época, se reuniu com as equipes e decidiu cancelar a corrida.
No ano seguinte, o GP do Bahrein voltou a acontecer, como a quarta prova do calendário. Porém, diversos protestos contra a realização da prova aconteceram. Na quinta-feira, antes da realização da corrida, funcionários da Force India tiveram o veículo atacado quando voltavam ao hotel onde estavam hospedados. No dia seguinte, a equipe participou apenas do TL1 e voltou para o hotel antes do anoitecer a fim de evitar novos problemas. No sábado, a equipe foi boicotada pela FOM, empresa geradora das transmissões, que durante as sessões do dia não mostrou os carros da equipe na transmissão oficial.
Às vésperas do início da temporada 2020 da Fórmula 1, a pandemia de Covid-19 começou a se alastrar pelo mundo. Porém, ao desembarcar em Melbourne a categoria parecia viver imune ao contexto em que o mundo se encontrava.
Apesar das crescentes no número de casos, a categoria se mantinha firme em realizar o GP da Austrália,inclusive, com a presença de público. Porém, tudo mudou na quinta-feira anterior ao início das atividades, no dia 12 de março. Um funcionário da McLaren testou positivo para a doença e mais doze empregados da equipe de Woking acabaram isolados. Com isso, a categoria teve de agir.
Duas horas antes da primeira sessão de treinos livres, veio a confirmação: o GP da Austrália foi cancelado por conta da pandemia de Covid-19. Os torcedores que chegavam ao autódromo deram de cara com os portões fechados. Apesar da insatisfação, posteriormente, os valores pagos nas entradas foram ressarcidos.
Com o agravamento da pandemia, a Fórmula 1 continuou sofrendo com diversos adiamentos e cancelamentos. Além do GP da Austrália, as corridas no Azerbaijão, Brasil, Canadá, Cidade do México, Estados Unidos, Mônaco, França, Azerbaijão, Holanda e Singapura foram canceladas.
Para driblar a situação, foram incluídos os GP’s da Estíria, no Red Bull Ring, e o GP do 70º aniversário da categoria, em Silverstone. Além disso, os Grandes Prêmios da Toscana, em Mugello, Eifel, em Nürburgring, Portugal, no Autódromo Internacional do Algarve e Emília-Romanha, em Ímola, foram acrescentados ao calendário, que contou com 17 corridas.
Sempre cercado de uma aura especial por ser realizado no icônico circuito de Spa-Francorchamps, o GP da Bélgica 2021 ganhou um ingrediente especial. No sábado, sob forte chuva, George Russell, então na Williams, colocou o carro da equipe britânica na segunda colocação no grid de largada, atrás somente de Max Verstappen, da Red Bull.
No domingo, enfim a corrida chegou. Porém, o clima não era dos melhores: uma fortíssima chuva castigava a região. Com isso, a bandeira verde foi adiada em 30 minutos. Depois de três voltas de alinhamento de grid, a primeira largada foi dada sob regime de safety-car. Mas logo os pilotos reclamaram da falta de visibilidade na pista e a bandeira vermelha foi declarada.
Prevista para durar por 20 minutos, a bandeira vermelha permaneceu por três horas, mas a preocupação com o tempo-limite de quatro horas para a conclusão do evento começou a preocupar a organização.
Com a diminuição da chuva, uma nova contagem regressiva de uma hora foi feita e uma tentativa de relargada sob o safety-car aconteceu. Mas as condições pioraram e com 30 minutos restantes na regressiva, a corrida, enfim, foi cancelada.
A F-1 levou em conta que o líder Verstappen realizou três voltas antes da bandeira vermelha, apesar de ter considerado oficialmente apenas uma volta na corrida, tornando a prova a mais curta de toda a história. Com isso, metade dos pontos foram concedidos para os dez primeiros colocados. Verstappen venceu, seguido de George Russell, em seu primeiro pódio na categoria, e Lewis Hamilton.
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