
Alex Silva| Estado
Candidatura carioca promete o triplo do que São Paulo pretende pagar para renovação do contrato
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Alex Silva| Estado
A cúpula da Fórmula 1 recebeu nas últimas semanas uma proposta oficial do Rio de Janeiro com o cronograma de depósitos bancários referentes às taxas e apresentação de garantias financeiras para assegurar a assinatura do contrato para a realização do GP do Brasil na cidade a partir de 2021, em Deodoro. A candidatura carioca promete à categoria repassar até US$ 60 milhões por ano (R$ 250 milhões), o triplo do que São Paulo oferece na negociação para renovar o contrato de realização da prova em Interlagos. O acordo termina no fim de 2020.
O Estado apurou que a proposta encaminhada pelo Rio prevê até março do ano que vem o pagamento da primeira parcela. Depois, até junho, deverá ser apresentada carta de crédito com a garantia bancária do repasse do restante até os US$ 60 milhões. Os valores oficiais dessas duas operações são mantidos em sigilo. O prazo está fixado até o fim do semestre, pois para julho está marcada a reunião que define o calendário das provas de 2021. O retorno da F-1 sobre a proposta do Rio deve ser dado em janeiro. Vale lembrar que o Rio ganhou corpo para brigar com São Paulo quando o presidente da República, Jair Bolsonaro, estava de mãos dadas com o governador do Rio, Wilson Witzel. Essa parceria política não existe mais.
Os US$ 60 milhões anuais prometidos pelo Rio à F-1 incluem a taxa de promoção do GP (promoter fee), mais a renda com ingressos VIP e a participação na lucro da venda de produtos oficiais. Para bancar o valor, a empresa vencedora da licitação para construir o autódromo, a Rio Motorsports, aposta em verba de R$ 302,4 milhões, aprovada no fim de novembro pela Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude do Rio de Janeiro e virá de renúncia fiscal.
O recurso será encaminhado à Rio Motorsports em quatro parcelas anuais até 2022 de forma não cumulativa. Em 2019, o primeiro repasse combinado foi de R$ 30 milhões, depois sobe nos dois anos seguintes para R$ 60,6 milhões e, por fim, chegará a R$ 151,2 milhões. Esses detalhes estão no projeto intitulado "Fórmula 1 Rio de Janeiro de 2021-2030", aprovado pela Lei de Incentivo ao Esporte Estadual. O dinheiro viria de empresas interessadas em repassar até 3% do ICMS para recolhimento para o projeto.
"Para cada ano de realização da prova, a estimativa é de que o impacto direto e indireto para a economia do Estado do Rio de Janeiro chegue a US$ 160 milhões, cerca de R$ 670 milhões ao câmbio atual, valor baseado em etapas já ocorridas no País e no mundo", disse em nota em enviada ao Estado a Secretaria de Esporte do Rio. A Rio Motorsports informa que, por ter um contrato de sigilo com a F-1, não pode comentar sobre as negociações em andamento.
Durante a última etapa do campeonato deste ano, em Abu Dabi, o líder do consórcio que tenta levar a prova ao Rio, JR Pereira, o secretário municipal de Ordem Pública, Gutemberg Fonseca, e o senador Flavio Bolsonaro conversaram com o chefe da categoria, Chase Carey. Na ocasião, ainda foi assinado um termo que garante ao Rio exclusividade nas negociações com a F-1 até março de 2020.
Em nota, a prefeitura do Rio informou que os representantes da cidade tiveram um encontro em Abu Dabi com o piloto Lewis Hamilton, da Mercedes. Duas semanas antes, o hexacampeão mundial havia criticado a construção do novo autódromo do Rio por obrigar a desmatar a Floresta do Camboatá. Nessa conversa, o piloto inglês soube das contrapartidas ambientais do empreendimento, como o projeto de replantar seis árvores para cada espécie que for derrubada. Procurada pela reportagem para comentar sobre a reunião, a Mercedes não retornou o contato.
O autódromo do Rio, que ainda não existe, tem previsão de custar R$ 700 milhões. Os recursos viriam da iniciativa privada. A licitação para a obra está suspensa no momento, pois aguarda a aprovação do estudo do impacto ambiental. A cidade assinou em outubro contrato para receber a MotoGP a partir de 2022 por cinco anos.
A capital paulista promete se esforçar para manter a prova. Com o intuito de renovar com a F-1 para o período de 2021 a 2030, São Paulo pretende fazer a categoria aceitar receber taxa de promoção anual de US$ 20 milhões (R$ 81 milhões). A intenção é obter o recurso com investidores privados. O obstáculo principal é o valor, abaixo dos US$ 35 milhões cobrados para a maioria das outras etapas do ano. Outra questão é resolver as pendências referentes a anos anteriores, quando São Paulo não teve recursos para pagar a taxa. Desde 2017 ela não é paga.
No GP do Brasil em novembro, o governador João Doria afirmou que tinha reunião em dezembro com o comando da F-1 para tratar sobre o novo contato. A reunião foi desmarcada por desencontro de agendas.
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26 de dezembro de 2019 | 16h14
Atualizado 26 de dezembro de 2019 | 19h09
O projeto de construção do autódromo no Rio vai causar 31 impactos ambientais na Floresta do Camboatá, local no bairro de Deodoro escolhido para sediar o circuito de Fórmula 1. A floresta conta com Áreas de Preservação Permanente (APP) e espécies da fauna e flora em risco de extinção, de acordo com o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o seu Relatório de Impacto Ambiental (Rima), aos quais o Estado teve acesso.
Os documentos foram elaborados pela empresa de consultoria ambiental Terra Nova, contratada pela vencedora da licitação para erguer o autódromo, a Rio Motorsports. O EIA-Rima foi entregue ao Instituto Estadual do Ambiente (Inea), órgão que avalia projetos com possíveis impactos ambientais no Rio, no dia 10 de novembro. Ao Estado, o Inea informa que a análise do estudo pode levar até 12 meses. Só após a eventual aprovação é que a empresa poderá iniciar as obras. Mas não há esse prazo na negociação. O circuito teria de ficar pronto no primeiro semestre de 2021.
pesar dos impactos apresentados no EIA-Rima, os autores do estudo apontam conclusão positiva sobre a construção do circuito no local. “Conclui-se, com base nos estudos apresentados, que a realização do empreendimento é altamente positiva e se constitui numa oportunidade única de desenvolvimento local e regional, trazendo significativo progresso social, econômico e ambiental ao local.”
Na pesquisa feita in loco pela consultoria, entre agosto e novembro, foram identificados 20 impactos ambientais associados à fase de construção e 11 à de utilização. Alcançam fauna, flora e até aspectos sociais, como aumento da poluição sonora nos arredores do autódromo.
Segundo o estudo, quatro espécies da flora local no Camboatá estão ameaçadas de extinção: grápia, jacarandá-da-Bahia, braúna e jequitibá. Quanto à fauna, são cinco espécies correndo riscos: jacaré-do-papo-amarelo, saíra-sapucaia, trinca-ferro, capivara e mão-pelada.
A área ainda corresponde a um corredor ecológico, por facilitar o “trânsito” de diversas espécies de animais e plantas entre o Maciço de Gericinó e a Serra do Mendanha. Estas e outras espécies – foram identificadas 290, entre fauna e flora –, integram uma região que apresenta duas áreas de preservação permanente, conhecidas como Faixas Marginais de Proteção (FMP) dos Rios Calogi e Marangá, também localizadas dentro da floresta. Juntas, as duas APPs somam 9,4 hectares, de um total de 200 da Floresta do Camboatá. De acordo com o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), do Rio, o fato de o projeto estar localizado em uma APP não impede sua aprovação.
O estudo aponta ainda a “supressão de aproximadamente 70 hectares de vegetação arbórea/arbustiva”. Segundo estudo do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico, cada hectare conta com cerca de 1.000 árvores. Ou seja, a construção do autódromo resultaria na derrubada de 70 mil árvores. Há especialistas que apontam a queda de até 200 mil. O EIA-Rima não apresenta número específico.
Para compensar estas perdas, é proposto um programa de reflorestamento focado em espécies da Mata Atlântica, o que prevê o plantio de seis árvores para cada uma derrubada. “Esse Programa se tornará na maior intervenção privada para a preservação da Mata Atlântica, em escala até hoje não realizada, pois o plantio dessas espécies se estenderá ao longo de todo o período de 35 anos de concessão do autódromo.”
O projeto já foi alvo de críticas por parte da ONG “SOS Floresta do Camboatá” e do Ministério Público Federal. “A Floresta de Camboatá é o único ponto remanescente de grande porte de Mata Atlântica em área plana na cidade. São aproximadamente 200 hectares, dos quais 114 cobertos por áreas naturais e regeneradas, representativa das Florestas Ombrófilas de Terras Baixas. Este tipo de vegetação é uma das mais ameaçadas dentre as formações florestais que compõem a Mata Atlântica. (...) A Floresta do Camboatá abriga o último remanescente carioca deste tipo de vegetação”, aponta o MPF na Ação Civil Pública que moveu contra o projeto, em maio.
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