Rubinho não vê a hora de correr na BAR

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Por Agencia Estado
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Quando surgiu a notícia de que Rubens Barrichello estava abrindo mão de um ano de contrato com a Ferrari, sonho da maioria dos pilotos, para competir ano que vem pela BAR-Honda, equipe com apenas sete temporadas de experiência e nenhuma vitória na Fórmula 1, a primeira sensação de muitos de seus fãs foi de incompreensão. Mas, logo a seguir, um sentimento de justiça tomou conta da maioria. Afinal, Rubinho não estaria mais sujeito a ser preterido no grupo, como ocorreu algumas vezes na Ferrari e que tanta indignação gerou em pessoas no mundo todo. Terça-feira, Rubinho teve, na Inglaterra, seu primeiro encontro com o novo time. E disse ter ficado impressionado com a recepção oferecida, tal o número de pessoas que desejavam ouvi-lo. ?Fui contratado por causa da minha velocidade e experiência?, disse, com orgulho, logo depois de uma partida de golfe, em São Paulo, onde permanecerá apenas preparando-se fisicamente para o desafio nada pequeno que o aguarda: ajudar fazer da escuderia da Honda uma organização vencedora. ?O primeiro treino está marcado para 11 de janeiro, mas tenho esperança, ainda, desde que não me cause nenhum desgaste, que o Jean Todt (diretor geral da Ferrari) me autorize a realizar um ou dois dias de testes em dezembro?, conta. A reunião com os integrantes da BAR, onde está o amigo, o ex-piloto Gil de Ferran, diretor-esportivo, ocorreu apenas um dia depois de Rubinho levar boa parte de sua família para uma experiência única: sentir as emoções proporcionadas pelas elevadas velocidades da Fórmula 1. Com um carro de três lugares da Ferrari, mãe, pai, avô, irmã, tios, engenheiros, todos tiveram sua chance de atingir quase 300 km/h no circuito de Fiorano. ?Olha, eu lido superbem com essa coisa do risco, mas nesse dia fiquei muito nervoso. Rezei para Deus porque se acontece algo comigo é uma coisa, mas naquela condição eu carrego dois comigo.? De coração aberto, não se esquivou, nesta entrevista exclusiva, de falar de Michael Schumacher, do aprendizado de seis anos ao seu lado, do que espera da BAR e até da família. Agência Estado - Como foi o primeiro encontro com o pessoal da BAR? Rubens Barrichello - Estavam quase todos lá, fiquei impressionado, havia uma mesa daqui até a parede, cheia de gente. Vi uma equipe jovem, com muita vontade e isso funciona demais. Tirei o molde do banco e compreendemos que não será preciso ampliar muito o espaço no carro novo para eu poder deslocar o pé entre os pedais, já que freio com o pé direito. Calço apenas 39. Mostraram-me as instalações e me chamou a atenção o novo túnel de vento, escala 100%, previsto para entrar em operação em março. AE - Ansioso para iniciar seu trabalho? Rubinho - Estou bastante curioso para pilotar um carro diferente, com outro pneu (Michelin, na Ferrari usava Bridgestone), responder a mim mesmo coisas do tipo será que vou conseguir carregar velocidade para dentro da curva? Como são suas reações, estável nas curvas de alta e saindo de frente nas de baixa, como a Ferrari? Agora que sentei no cockpit, terça-feira, minhas fantasias aumentaram ainda mais. AE - Que vontade de acelerar o carro, hein? Rubinho - Verdade. Estou me preparando muito fisicamente porque acredito que isso me auxilia a poder ser campeão, e estou fazendo um regime ferrenho, ganhei uns quilos, mas perco fácil também. Não é tudo, a forma como eu defini o contrato com a BAR também mostrou a mim mesmo que estou com gana, muito a fim de vencer com a equipe. Participei ativamente, eu e o meu advogado, apenas, enquanto do outro lado o advogado da BAR, o Gil e o Nick Fry (diretor geral). Enquanto tiver esse barato de buscar em cada detalhe o melhor para mim, para me permitir vencer, e tiver a autoconfiança de hoje, vou continuar na Fórmula 1. AE - Como você se sente ao saber que, como ocorreu algumas vezes na Ferrari, não estará num segundo plano? Rubinho - Com o tempo vim a trabalhar bem essa questão comigo mesmo na Ferrari. Foi uma evolução. Descobri que não são as pessoas que têm de estar contente com você, senão você com você mesmo. Também não podia deixar me levar pela idéia de que o Michael Schumacher era melhor que eu. Sabe quando eu passei a produzir mais na Ferrari? Quando eu, no fim do primeiro ano, tirei da cabeça que eles talvez estivessem fazendo algo que não seria correto para mim. Sinto-me orgulhoso por abrir a cabeça das pessoas da Ferrari para dedicar a mesma atenção aos dois, o Felipe Massa vai pegar o caminho bem mais aberto. Hoje o engenheiro define com você o acerto, passa para os mecânicos e tudo é muito transparente, disponível, não há como esconder nada. Nesse sentido nunca tive porque desconfiar da existência de algo diferente para o Michael. AE - Depois de seis anos trabalhando ao lado de um dos maiores pilotos de todos os tempos, o que você mais assimilou dele? Rubinho - Em primeiro lugar, não aconteceu de eu dividir a equipe com ele e descobrir algo que me chocasse. O que percebi foi que o Michael guia agressivamente, está sempre no limite, muito fácil. Essas coisas acabam ensinando. Você não tem tempo para se adaptar a essa nova realidade, deve estar no limite também, logo, e isso tudo é bem legal. Admiro a capacidade dele sair do box e na segunda volta fazer a Eau Rouge de pé em baixo. De resto é um piloto, um ser humano como nós. No Japão, na penúltima corrida juntos, o Michael entrou na pista, com chuva, e fez um tempo extraordinário, que eu não sei onde ele achou, mas na volta seguinte deu uma pancada. Depois voltou para os boxes sorrindo, ele tem essa vontade sempre, é um menino. O Michael me ensinou a buscar o limite logo, o que ele consegue por causa da sua incrível autoconfiança. AE - Logo que você começou como piloto da Ferrari, todos esses parâmetros de desempenho elevado, do seu companheiro, da própria equipe, e você com experiência apenas nos times médios, a Jordan e a Stewart. Como foi ter de mostrar serviço rapidamente? AE - Demorou um pouco para eu compreender que o carro não tem o limite que eu imaginava existir, impressão gerada nos times médios. Vou dar um exemplo. Você tenta reduzir determinada tendência de o carro sair de frente ou traseira e numa equipe como as que eu estava, acaba admitindo que aquela é uma característica do projeto, não dá para ser corrigido, resultado de algum problema aerodinâmico. Na Ferrari, aprendi que como há recursos para tudo, essa dificuldade também dá para ser melhorada. Aprendi a progredir continuamente. Como o Michael estava na Ferrari há um bom tempo, esse aspecto da nossa preparação acabou sendo uma grande vantagem para ele no começo. Eu costumava ser muito rápido na sexta-feira, o primeiro dia, mas nem tanto no sábado. Uma curiosidade: no aspecto pilotar, não o de me desenvolver em como tirar mais do carro, a minha evolução na Ferrari seguiu o curso normal. Acho até que realizei trabalhos mais difíceis em determinadas corridas, com outros times, que em algumas das minhas vitórias com a Ferrari. A diferença é que não levei o troféu. AE - Você vem de uma temporada difícil na Ferrari depois de muito sucesso. Como foi? Rubinho - O próprio pessoal da direção da equipe reconhece que nossa maior dificuldade foram os pneus. Mas mesmo que pudéssemos trocar os pneus, como voltará a ser permitido em 2006, nós não teríamos conquistado o título este ano. A McLaren, principalmente, e a Renault, fizeram carros muito melhores que o nosso, evoluíram bem mais de um ano para o outro. AE - O Eduardo tem 4 anos e o Fernando nasceu em setembro. Nesses dois meses sem poder treinar você vai finalmente poder curtir a família. Rubinho - No GP do Brasil, este ano, aconteceu uma coisa legal. O Fernando nasceu uma semana e meia antes da corrida. Eu disse para a Silvana não ir para a casa da mãe dela. Eu tinha vontade de me sentir uma pessoa normal, queria ter o prazer do trabalho, disputar os treinos e a corrida, em Interlagos, e voltar para casa, o que nunca consigo, por estar sempre fora. A Silvana acordava durante a noite, dava de mamar para o Fernando, sem problemas. Gosto de ajudar no que posso. Pedi também para o Eduardo não ir para nossa cama, como ele normalmente faz, porque o papai precisava dormir para no dia seguinte participar do treino de Fórmula 1. Ele não foi nenhuma noite. Na segunda-feira, depois do GP, lá estava ele. Só fica se for de dia. De noite, volta para a cama dele. AE - E se eles decidirem que querem seguir a carreira do pai? Rubinho - Estarei danado. Quando eu corro não levo para a pista nada dessa coisa de emoção, nunca me atrapalhou na Fórmula 1, já provei isso, mas sofri quando o meu tio Carlos competia e vou sofrer muito se meus filhos desejarem correr de carro.

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